São Paulo, Quinta-feira, 25 de Fevereiro de 1999
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CONTAS PÚBLICAS
Affonso Celso Pastore e Roberto Campos defendem meta de superávit primário de até 4% do PIB em 99
Economistas querem ajuste fiscal maior

MAURICIO ESPOSITO
da Reportagem Local

Os economistas Affonso Celso Pastore e Roberto Campos defenderam ontem em palestra para empresários a realização de ajuste fiscal maior do que o proposto pelo governo.
O evento, realizado num hotel da capital paulista, foi organizado pela BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
De acordo com a opinião dos economistas, promover novos cortes de gastos é a única forma de recuperar a credibilidade externa do país e voltar a ter acesso a linhas internacionais de financiamento.
É o que ambos chamaram de "choque de credibilidade".
Tanto Pastore quanto Campos argumentam que o governo deve estabelecer como meta para 99 um superávit primário (quanto o governo arrecada mais que gasta, sem contar o pagamento de juros) de até 4% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no país).
Na revisão do acordo estabelecido com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o governo brasileiro terá que apresentar superávit primário de 3% a 3,5% do PIB.
Pastore defende ainda que o aumento do superávit primário seja proporcionado somente por cortes de gastos do governo, de investimentos e subsídios, por exemplo. A justificativa de Pastore para a necessidade do "choque de credibilidade" vem da constatação de que a crise atual, que tem origem na moratória russa, é diferente da turbulência asiática.
De acordo com o ex-presidente do Banco Central, após a crise russa o fluxo negativo de entrada de dólares para o Brasil em nenhum momento foi revertido, mesmo com "boas notícias" do ponto de vista dos investidores -aumento de juros e o acordo com o FMI .
"Com juros altos e ajuste fiscal, a recessão se aprofunda e a erosão da receita tributária será muito grande", disse Pastore.
A retração da economia em 99, segundo ele, poderá ficar entre 4% e 6% do PIB. A desvalorização causa inevitavelmente inflação e o governo deve manter o ambiente econômico em recessão para evitar a indexação da economia.
A grande incógnita, afirmou Pastore, é o quanto de inflação o país terá neste ano.
No crise mexicana de 95, uma desvalorização de 50% causou inflação anual de 20%, comparou o economista, argumentando que 40% da desvalorização do peso foi repassada aos preços.
No caso brasileiro, o percentual de repasse poderia se aproximar do mexicano, segundo Pastore.
O ex-deputado federal Roberto Campos concorda sobre a ineficácia dos juros altos no combate à fuga de capitais.
"Após a crise russa, a alta dos juros no mercado interno provocou suspeitas de insolvência do governo brasileiro", argumentou. Por outro lado, Campos afirmou que a negociação brasileira com o FMI foi mal feita, pois manteve a mesma política cambial.
"O mercado financeiro está em suspense e o Brasil teve em dezembro passado uma erosão de sua credibilidade externa com a derrota do governo na aprovação da contribuição dos inativos no Congresso e com a ameaça de moratória do governo de Minas Gerais", acrescentou Campos.
A contribuição dos inativos foi aprovada em janeiro, mas não serviu para animar os investidores.
O economista não vê espaço para diminuição imediata das taxas de juros e acredita em repique inflacionário. "Pesquisas dizem que de 30% a 35% da desvalorização será repassada aos preços, mas não devemos aceitar a reindexação."


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