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CONTAS PÚBLICAS
Affonso Celso Pastore e Roberto Campos defendem meta de superávit primário de até 4% do PIB em 99
Economistas querem ajuste fiscal maior
MAURICIO ESPOSITO
da Reportagem Local
Os economistas Affonso Celso Pastore e Roberto Campos
defenderam ontem em palestra
para empresários a realização
de ajuste fiscal maior do que o proposto pelo governo.
O evento, realizado num hotel da
capital paulista, foi organizado pela BM&F (Bolsa de Mercadorias &
Futuros).
De acordo com a opinião dos
economistas, promover novos
cortes de gastos é a única forma de
recuperar a credibilidade externa
do país e voltar a ter acesso a linhas
internacionais de financiamento.
É o que ambos chamaram de
"choque de credibilidade".
Tanto Pastore quanto Campos
argumentam que o governo deve
estabelecer como meta para 99 um
superávit primário (quanto o governo arrecada mais que gasta,
sem contar o pagamento de juros)
de até 4% do PIB (Produto Interno
Bruto, a soma de todas as riquezas
produzidas no país).
Na revisão do acordo estabelecido com o FMI (Fundo Monetário
Internacional), o governo brasileiro terá que apresentar superávit
primário de 3% a 3,5% do PIB.
Pastore defende ainda que o aumento do superávit primário seja
proporcionado somente por cortes de gastos do governo, de investimentos e subsídios, por exemplo.
A justificativa de Pastore para a necessidade do "choque de credibilidade" vem da constatação de que a
crise atual, que tem origem na moratória russa, é diferente da turbulência asiática.
De acordo com o ex-presidente
do Banco Central, após a crise russa o fluxo negativo de entrada de
dólares para o Brasil em nenhum
momento foi revertido, mesmo
com "boas notícias" do ponto de
vista dos investidores -aumento
de juros e o acordo com o FMI .
"Com juros altos e ajuste fiscal, a
recessão se aprofunda e a erosão
da receita tributária será muito
grande", disse Pastore.
A retração da economia em 99,
segundo ele, poderá ficar entre 4%
e 6% do PIB. A desvalorização causa inevitavelmente inflação e o governo deve manter o ambiente
econômico em recessão para evitar
a indexação da economia.
A grande incógnita, afirmou Pastore, é o quanto de inflação o país
terá neste ano.
No crise mexicana de 95, uma
desvalorização de 50% causou inflação anual de 20%, comparou o
economista, argumentando que
40% da desvalorização do peso foi
repassada aos preços.
No caso brasileiro, o percentual
de repasse poderia se aproximar
do mexicano, segundo Pastore.
O ex-deputado federal Roberto
Campos concorda sobre a ineficácia dos juros altos no combate à fuga de capitais.
"Após a crise russa, a alta dos juros no mercado interno provocou
suspeitas de insolvência do governo brasileiro", argumentou. Por
outro lado, Campos afirmou que a
negociação brasileira com o FMI
foi mal feita, pois manteve a mesma política cambial.
"O mercado financeiro está em
suspense e o Brasil teve em dezembro passado uma erosão de sua
credibilidade externa com a derrota do governo na aprovação da
contribuição dos inativos no Congresso e com a ameaça de moratória do governo de Minas Gerais",
acrescentou Campos.
A contribuição dos inativos foi
aprovada em janeiro, mas não serviu para animar os investidores.
O economista não vê espaço para
diminuição imediata das taxas de
juros e acredita em repique inflacionário. "Pesquisas dizem que de
30% a 35% da desvalorização será
repassada aos preços, mas não devemos aceitar a reindexação."
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