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Nos últimos 12 meses até março, acumulado é de US$ 4,35 bi
Déficit externo continua
no menor nível em 8 anos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O déficit em transações correntes do Brasil, um dos indicadores
da vulnerabilidade externa de um
país, continua no nível mais baixo
dos últimos oito anos, de acordo
com dados divulgados ontem pelo Banco Central.
Nos últimos 12 meses até março, o déficit ficou acumulado em
US$ 4,347 bilhões (US$ 5,55 bilhões até fevereiro), ou 0,96% do
PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas pelo
país em um ano).
A conta de transações correntes
considera as negociações de bens
e serviços do Brasil com o exterior. Ela engloba, entre outras coisas, exportações, importações,
pagamento de juros, remessas de
dividendos e gastos com viagens
internacionais.
Há um ano, o déficit representava 4,01% do PIB. A queda observada desde então é consequência
da melhora no saldo da balança
comercial brasileira.
No primeiro trimestre de 2002,
as exportações superaram as importações em US$ 1,028 bilhão.
Neste ano, o superávit foi de US$
3,763 bilhões de janeiro a março,
com crescimento de mais de
200%.
O maior saldo comercial, por
sua vez, reflete a forte desvalorização do real ocorrida ao longo de
2002. Com isso, o preço em dólar
dos produtos brasileiros ficou
mais baixo, estimulando as empresas a exportar. Por outro lado
os bens importados ficaram mais
caros em reais, reduzindo as compras externas.
Dólar caro não afeta
Mesmo com a recente queda do
dólar, porém, o Banco Central diz
que as contas externas não deverão ser afetadas.
"Não acredito que venhamos a
ter uma reversão. A conta de transações correntes não será muito
afetada [pela valorização do
real"", afirma o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Para financiar seu déficit em
transações correntes, é preciso
captar dólares no exterior, por
meio de empréstimos ou de investimentos de empresas estrangeiras. Logo, quanto maior o déficit, mais dólares precisam ser captados. Por isso ele é usado como
um indicador de vulnerabilidade
externa.
No ano passado, diante da dificuldade em captar dólares no exterior, o Brasil passou por um forte ajuste nas suas contas externas,
que reduziu o déficit em transações correntes -graças, em grande parte, à alta de mais de 50% na
cotação do dólar.
A preocupação de alguns analistas, agora, é que ocorra o inverso: a queda do dólar ocorrida nas
últimas semanas poderia desestimular as exportações, o que contribuiria para que o déficit voltasse a crescer -além de vender menos ao mercado externo, porque
os produtos brasileiros ficariam
mais caros, as compras do exterior poderiam crescer, porque os
importados custariam menos.
Sem risco
Segundo Lopes, esse risco não
existe. Para ele, o resultado da
conta de transações correntes depende, basicamente, do saldo da
balança comercial. Lopes diz que,
mesmo com a queda do dólar, o
superávit de US$ 16 bilhões esperado para este ano poderá ser alcançado.
Entre janeiro e março, a conta
de transações correntes registrou
superávit de US$ 82 milhões. Assim como já havia sido anunciado
anteontem pelo governo, foi a primeira vez em nove anos que o
país encerrou o primeiro trimestre do ano com resultado positivo
nesse indicador.
Além da colaboração da balança comercial, o superávit em transações correntes obtido neste início de ano foi influenciado também por outros fatores. Os gastos
com viagens internacionais, por
exemplo, registraram forte queda.
No primeiro trimestre de 2002,
turistas brasileiros gastaram US$
666 milhões durante suas viagens
ao exterior. No início deste ano, o
valor recuou para US$ 418 milhões, graças à alta do dólar no período, o que encareceu o turismo
internacional.
Houve também uma ligeira redução nos gastos com juros, que
passaram de US$ 2,844 bilhões
para US$ 2,629 bilhões no mesmo
período. O recuo ocorreu por
causa das dificuldades das empresas brasileiras em conseguir renovar seus empréstimos no exterior.
Sem contrair novas dívidas, as
despesas com os juros acabam
caindo também.
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