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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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Nos últimos 12 meses até março, acumulado é de US$ 4,35 bi

Déficit externo continua no menor nível em 8 anos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O déficit em transações correntes do Brasil, um dos indicadores da vulnerabilidade externa de um país, continua no nível mais baixo dos últimos oito anos, de acordo com dados divulgados ontem pelo Banco Central.
Nos últimos 12 meses até março, o déficit ficou acumulado em US$ 4,347 bilhões (US$ 5,55 bilhões até fevereiro), ou 0,96% do PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas pelo país em um ano).
A conta de transações correntes considera as negociações de bens e serviços do Brasil com o exterior. Ela engloba, entre outras coisas, exportações, importações, pagamento de juros, remessas de dividendos e gastos com viagens internacionais.
Há um ano, o déficit representava 4,01% do PIB. A queda observada desde então é consequência da melhora no saldo da balança comercial brasileira.
No primeiro trimestre de 2002, as exportações superaram as importações em US$ 1,028 bilhão. Neste ano, o superávit foi de US$ 3,763 bilhões de janeiro a março, com crescimento de mais de 200%.
O maior saldo comercial, por sua vez, reflete a forte desvalorização do real ocorrida ao longo de 2002. Com isso, o preço em dólar dos produtos brasileiros ficou mais baixo, estimulando as empresas a exportar. Por outro lado os bens importados ficaram mais caros em reais, reduzindo as compras externas.

Dólar caro não afeta
Mesmo com a recente queda do dólar, porém, o Banco Central diz que as contas externas não deverão ser afetadas.
"Não acredito que venhamos a ter uma reversão. A conta de transações correntes não será muito afetada [pela valorização do real"", afirma o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Para financiar seu déficit em transações correntes, é preciso captar dólares no exterior, por meio de empréstimos ou de investimentos de empresas estrangeiras. Logo, quanto maior o déficit, mais dólares precisam ser captados. Por isso ele é usado como um indicador de vulnerabilidade externa.
No ano passado, diante da dificuldade em captar dólares no exterior, o Brasil passou por um forte ajuste nas suas contas externas, que reduziu o déficit em transações correntes -graças, em grande parte, à alta de mais de 50% na cotação do dólar.
A preocupação de alguns analistas, agora, é que ocorra o inverso: a queda do dólar ocorrida nas últimas semanas poderia desestimular as exportações, o que contribuiria para que o déficit voltasse a crescer -além de vender menos ao mercado externo, porque os produtos brasileiros ficariam mais caros, as compras do exterior poderiam crescer, porque os importados custariam menos.

Sem risco
Segundo Lopes, esse risco não existe. Para ele, o resultado da conta de transações correntes depende, basicamente, do saldo da balança comercial. Lopes diz que, mesmo com a queda do dólar, o superávit de US$ 16 bilhões esperado para este ano poderá ser alcançado.
Entre janeiro e março, a conta de transações correntes registrou superávit de US$ 82 milhões. Assim como já havia sido anunciado anteontem pelo governo, foi a primeira vez em nove anos que o país encerrou o primeiro trimestre do ano com resultado positivo nesse indicador.
Além da colaboração da balança comercial, o superávit em transações correntes obtido neste início de ano foi influenciado também por outros fatores. Os gastos com viagens internacionais, por exemplo, registraram forte queda.
No primeiro trimestre de 2002, turistas brasileiros gastaram US$ 666 milhões durante suas viagens ao exterior. No início deste ano, o valor recuou para US$ 418 milhões, graças à alta do dólar no período, o que encareceu o turismo internacional.
Houve também uma ligeira redução nos gastos com juros, que passaram de US$ 2,844 bilhões para US$ 2,629 bilhões no mesmo período. O recuo ocorreu por causa das dificuldades das empresas brasileiras em conseguir renovar seus empréstimos no exterior. Sem contrair novas dívidas, as despesas com os juros acabam caindo também.


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