|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Câmara aprova correção da tabela do IR em 4,5% ao ano
MP vira "colcha de retalhos" e incorpora até mudança na tributação de aparelhos de surdez
Resultado na votação sobre o Imposto de Renda foi uma derrota para a equipe econômica, que preferia conceder desonerações
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após uma série de remendos
de última hora para acomodar
pleitos dos mais diferentes setores, a Câmara dos Deputados
aprovou ontem a medida provisória que fixa as tabelas do Imposto de Renda das pessoas físicas até 2010.
Governo e oposição se uniram para transformar a MP,
que já tratava de 11 temas diferentes na proposta original do
Executivo, em uma colcha de
retalhos que prevê tanto a federalização de uma rodovia como
benefícios tributários para lanchas e aparelhos de surdez.
Durante a votação, o que menos se discutiu foi o objetivo
principal da medida, que vai
agora ao Senado: a correção da
tabela do IR em 4,5% anuais
neste e nos próximos três anos,
o que, na prática, atrelou a tabela à atual expectativa de inflação anual.
Resultado de um acordo entre o governo e as centrais sindicais, a medida significou uma
derrota para a equipe econômica, que preferia conceder incentivos fiscais para os investimentos produtivos. Calcula-se
em R$ 1,2 bilhão a renúncia fiscal com a tabela já em vigor
neste ano.
Embora editada contra a
vontade da Fazenda no final de
2006, a MP foi listada entre as
propostas do PAC (Programa
de Aceleração do Crescimento), lançado em janeiro.
A medida incluiu outras desonerações tributárias. Foi
prorrogado de dezembro de
2006 para dezembro de 2008 o
prazo para a utilização de um
benefício em vigor há dois anos
que permite uma tributação
menor sobre a aquisição de máquinas e equipamentos, com
perda de arrecadação estimada
em R$ 900 milhões anuais.
Foi concedida alíquota zero
de CPMF na movimentação
das contas destinadas exclusivamente ao recebimento de salários e nos pagamentos de benefícios previdenciários por
entidades conveniadas.
Contrabandos
No restante, o Executivo
aproveitava a carona de uma
MP de apelo popular para inserir no texto o que o jargão parlamentar chama de contrabandos -providências e regras que
nada têm a ver com o tema da
medida provisória.
A MP reduziu valores a serem pagos pelo seguro obrigatório de danos causados por automóveis. Nos casos de morte e
invalidez permanente, as indenizações caem de até 40 salários mínimos (R$ 15,2 mil) para
R$ 13,5 mil.
Foram alteradas, entre outras, regras do Prouni (o programa para elevar o acesso ao
ensino superior), do fundo de
financiamento aos universitários, da transferência de rodovias aos Estados e da tributação
sobre cigarros.
Na Câmara, o relator Jilmar
Tatto (PT-SP) conseguiu alargar a MP, atendendo a uma série de lobbies de pequena monta, caso de um trecho rodoviário de nove quilômetros em Minas Gerais passado ao governo
federal, da permissão para que
motoristas autônomos cedam
seus veículos a até dois colaboradores e de benefícios tributários na compra de "embarcações recreativas".
A profusão de temas foi o
pretexto usado pela oposição,
especialmente do DEM (ex-PFL), para dificultar a votação
da MP -seria politicamente inviável atacar a correção da tabela do IR.
A resistência dos oposicionistas acabou, porém, quando o
governo aceitou incluir no texto uma emenda do PSDB para
isentar do Imposto sobre Produtos Industrializados e do Imposto sobre Importação as
compras de aparelhos auditivos e cadeiras de rodas manuais
ou motorizadas. A MP acabou
aprovada simbolicamente, sem
contagem nominal de votos.
Texto Anterior: Nordeste deve puxar alta de gastos com cartão em 2007 Próximo Texto: Governo avalia reduzir a 50% pensão por morte Índice
|