São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Universidade organiza luta contra a globalização

GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA

Entre um Fórum Social Mundial e outro, num momento em que não há conferências econômicas internacionais decisivas, os militantes da luta contra a globalização neoliberal dedicam-se aos estudos. Começou na sexta-feira, Em Arles, na França, a Universidade de Verão 2002, organizada pela Attac (Associação pela Tributação de Transações Financeiras Especulativas para Ajudar os Cidadãos). O programa de estudos oferecido a 800 participantes está no website do movimento (http://attac.org/france/).
A Attac, criada em 1998, não se limita à defesa do imposto Tobin (tributo sobre operações financeiras de curtíssimo prazo que inibiria a especulação e ao mesmo tempo subsidiaria um fundo de ajuda aos países mais pobres). Os temas que aparecem na jornada de cinco dias mostram que o encontro, realizado pela terceira vez, tornou-se uma espécie de roteiro para a construção de uma agenda completa de denúncia ao neoliberalismo.
A criação de um imposto global ainda é crucial e passa pela crítica ao FMI e ao Banco Mundial, que seriam apenas instrumentos a serviço dos interesses do G-7. Somente instituições autenticamente globais poderiam gerenciar um imposto como o imaginado por Tobin e adotado como bandeira pela Attac.
As outras bandeiras seguem o mesmo tom: não chegam a ser revolucionárias, apesar da retórica dura, mas terminam por sugerir adaptações práticas ao capitalismo realmente existente. As multinacionais, por exemplo, podem e devem continuar existindo. A novidade está nos movimentos cada vez mais numerosos de "responsabilidade social empresarial".
Para a Attac, a mobilização dos cidadãos poderá levar ao disciplinamento das grandes corporações globais, que enfim passariam para o lado do bem (aliando-se aos críticos do neoliberalismo e contribuindo para o desenvolvimento econômico ambientalmente correto).
Outra frente de batalha é a reação à onda cada vez mais intensa de defesa dos direitos de propriedade intelectual, movimento neoliberal que os professores da universidade de verão definem como "protecionismo do conhecimento" praticado pelos países mais ricos e pelas empresas multinacionais.
O quadro da reação ao neoliberalismo amplia-se com a busca de estratégias de defesa dos serviços públicos contra a privatização, a crítica à prostituição e à pornografia, a valorização dos territórios como pólos de resistência à globalização e, de modo geral, com várias modalidades de recusa à transformação de tudo em mercadoria.
Um destaque é dado ao papel dos grandes grupos de mídia como "atores da ordem neoliberal", vistos como protagonistas econômicos e também como instrumentos a serviço da apologia do mercado e da invasão publicitária. Um contraponto é a criação de uma internet cidadã, tema de um dos grupos de estudo deste final de semana.
As ameaças à natureza e ao planeta completam o ideário antiglobal, principalmente a crítica à expansão de cultivares geneticamente alterados e à mercantilização da água.
Segundo o jornal "Le Monde", 30 mil pessoas já aderiram à Attac, que prepara novas ofensivas reformistas a partir de outubro.

Bate-papo
Prossegue amanhã, às 17h, o ciclo de bate-papos no UOL sobre tendências da economia do conhecimento, promovido pela coluna "Inteligências" da Folha Online. O convidado é Walter Barelli, ex-secretário estadual de Emprego e Relações do Trabalho de São Paulo.


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