São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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Bancos e mercados são livres, diz BC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Beny Parnes, diz que as operações de arbitragem (especulativas) feitas por grandes exportadores são legais e que "os bancos têm o direito de emprestar" para as empresas que quiserem. Ou seja, não cabe à instituição definir para que empresas os bancos têm de emprestar, mesmo que o dinheiro oferecidas às companhias seja fornecido pelo próprio BC.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha na sexta-feira.
(LEONARDO SOUZA)

Folha - Essas operações com dólar de exportação são legais?
Beny Parnes -
A operação é totalmente legal. Não posso determinar o que as empresas fazem com o dinheiro que elas tomam nos bancos. Os bancos têm todo o direito de emprestar para elas. A economia é de mercado, é livre, os bancos escolhem os clientes com quem eles querem operar. Uma empresa que consegue uma linha externa e quer se aproveitar da taxa de juros no Brasil conhece o risco que tem de correr, faz o que quiser. Não consigo determinar quem tem a real necessidade de capital de giro.

Folha - Mas se imaginava que o crédito via BC fosse usado para a produção, não para a especulação.
Parnes -
Não gosto de usar essas expressões, não.

Folha - Quais expressões?
Parnes -
Especulação, financiamento, necessidade. Na verdade, não definem bem o problema.

Folha - Quais expressões o sr. usaria então?
Parnes -
Usaria irrigação do mercado. As linhas de crédito comercial secaram. O mercado vinha funcionando bem até então. Mas a oferta diminuiu e a demanda de contratação de câmbio aumentou muito. O que a gente pode fazer é repor parte da oferta que se tinha. Então vamos injetar, por meio de leilões, US$ 2 bilhões. Com isso o mercado vai se normalizar.

Folha - O BC então não deve fiscalizar para quem e para qual fim os bancos emprestam?
Parnes -
Não estou dizendo isso. Estou dizendo o seguinte: o que podemos fazer concretamente? Recolocar recursos na economia, com a obrigação [dos bancos" de financiar. É claro que, se considerarmos algum movimento perverso, vamos agir. Temos meios para agir. Fizemos os primeiros leilões, estamos vendo como o dinheiro vai irrigar o mercado. Fizemos dois leilões hoje [sexta", os resultados foram muito positivos, recebemos várias ligações.
Tem muita empresa que não consegue tomar ACC no mercado. Essa é uma decisão soberana do banco. O mercado tem imperfeições? Tem, mas essas imperfeições vão sendo corrigidas.

Folha - Essas operações são exemplos de imperfeições?
Parnes -
Com essa escassez de crédito, vários exportadores não estão tendo acesso a essas linhas. O ideal é que, se uma empresa séria quer exportar, ela tenha acesso a essas linhas. Estamos trabalhando para aumentar a oferta de crédito na economia.

Folha - Com os leilões, o BC vai conseguir normalizar a oferta de crédito na economia?
Parnes -
Nossos esforços são no sentido de normalização do crédito. O banco toma os recursos, concede para uma empresa, sobra para outra. Carimbar o dinheiro... o BC não é o BNDES, não pode direcionar crédito. O BC faz um esforço "macro" para normalizar o mercado. Acho que seremos bem-sucedidos.

Folha - A normalização dos volumes esperada pelo BC inclui a volta do crédito oferecido pelos bancos?
Parnes -
Estamos vendo que a rolagem [a renovação das linhas de crédito" está começando a voltar. Ontem [quinta-feira" e hoje recebemos ligações de bancos estrangeiros que se motivaram, devido aos nossos leilões, a voltar a oferecer crédito para exportação [...". É um excelente negócio para eles [os bancos" financiar o comércio exterior brasileiro. As exportações brasileiras estão crescendo, o Brasil está batendo recordes no saldo comercial.


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