São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Ministro e presidente do BC têm reunião com banqueiros nos EUA para tentar manter linhas de crédito ao país

Malan e Fraga só devem ter dinheiro curto

Reuters - 19.ago.2002
O ministro Pedro Malan, o presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente do BC, Armínio Fraga, viagem para manter linhas


MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Em sua reunião com bancos privados, que será realizada amanhã em Nova York, o ministro Pedro Malan (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, deverá receber um compromisso de curto prazo e informal de manutenção das linhas de crédito privado ao país.
Uma das alternativas é fixá-las num determinado patamar até outubro - mês das eleições presidenciais - e retomar as conversas em novembro. É pouco provável que os bancos criem um mecanismo de monitoramento como o de 99, quando comprometeram-se a manter um nível mínimo de financiamento para não paralisar o comércio exterior brasileiro.
Essas foram as conclusões de conversas preliminares realizadas na última semana entre dois bancos centrais europeus e o IIF (Institute of International Finance), organização que representa interesses de grandes conglomerados financeiros internacionais.
Os dois bancos centrais - que estão em contato permanente com o IFF e com instituições financeiras privadas de seus países - informaram que, diferentemente do que foi noticiado recentemente, as autoridades monetárias européias não estariam pressionando instituições privadas a reduzirem suas exposições ao Brasil. Indagados pelo IIF sobre o assunto, os dois bancos centrais disseram que a posição oficial é "neutra" e "indiferente".
A reunião entre Malan e Fraga e bancos privados americanos, europeus e asiáticos ocorrerá amanhã na sede do Fed (Banco Central dos EUA). O Fed cedeu o local do encontro, o governo brasileiro redigiu a lista de bancos convidados e duas instituições privadas - o Citigroup e o Deutsche- organizaram a reunião.
O FMI (Fundo Monetário Internacional), o Bird (Banco Mundial) e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) enviarão representantes ao evento. O FMI decidiu enviar a Nova York Lorenzo Perez, coordenador do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo. Perez estará preparado para responder a perguntas dos banqueiros sobre o mais novo programa da instituição com o governo brasileiro. Esse programa deverá ser avaliado oficialmente pela diretoria do FMI no dia 6 de setembro.
A Folha conversou com duas pessoas responsáveis pela organização do evento. Segundo uma delas, existe disposição clara dos bancos de manterem as linhas num determinado nível. No entanto, as instituições reconhecem que as situações política no Brasil e econômica nos EUA são completamente distintas daquelas de 1999, logo após a desvalorização do real, quando os bancos mantiveram linhas de US$ 23 bilhões.
Naquela ocasião, o presidente Fernando Henrique Cardoso acabara de ser reeleito e a economia norte-americana estava em expansão. Portanto, as instituições financeiras internacionais tinham certeza de continuidade administrativa no Brasil e não sofriam revezes no front americano.
Na crise atual, existe incerteza eleitoral no Brasil e grandes escândalos em corporações norte-americanas. As fraudes estão levando bancos a buscar recursos fora dos EUA para cobrir problemas domésticos. "Bancos internacionais estão reduzindo linhas de curto prazo para o Brasil não porque acham que essas linhas não serão pagas, mas porque sabem que são os únicos ativos que conseguem transformar imediatamente em dinheiro", disse Carlos Catraio, diretor no Unibanco responsável pela captação das linhas externas.


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