São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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Compra por impulso eleva a inadimplência

DA REPORTAGEM LOCAL

Os truques das lojas para levar o consumidor a gastar mais -e, muitas vezes, mais até do que ele deve- podem resultar numa dor de cabeça para os comerciantes mais para a frente: o aumento da inadimplência.
Isso porque a compra por impulso, sendo irracional, pode se transformar num componente que agrava ainda mais o calote. Segundo analistas de varejo, na hora de adquirir algo não planejado, nem sempre o consumidor questiona se conseguirá pagar o produto a médio prazo.
O atraso no pagamento das contas ainda preocupa os lojistas, especialmente aqueles que dependem de crédito para a venda, como as revendas de carros e as redes de eletroeletrônicos.
"O comércio está tão devagar que os vendedores estão pegando os consumidores a laço", afirma Oswaldo Queiroz, diretor da Servloj. É aí que está o risco. Na hora de caçar o consumidor, corre-se o risco de conquistar um cliente devedor que compra por impulso.
Segundo analistas, nas redes de eletrodomésticos isso é cada vez mais raro de acontecer. Isso porque houve forte retração na renda do trabalhador desde o final do ano passado. Com receio de que a taxa de desemprego continue a se elevar, o brasileiro colocou o pé no freio. Isso faz cair a compra em geral e, principalmente, aquela feita por impulso.
"O cliente hoje só compra o essencial mesmo", afirma Queiroz.
A inadimplência nas lojas administradas pela Servloj, diz, gira em torno de 9% a 10% sobre o valor financiado no mês. Já esteve maior -chegou a 13,7% em novembro de 99-, mas, ainda assim, é considerada elevada.
"Para os consumidores que recebem de dois a sete salários mínimos por mês -os nossos principais clientes-, a situação está difícil, pois subiu o preço do gás, da luz, do café, do pão e dos serviços de telecomunicações", afirma.
Além de ter no bolso menos dinheiro para as compras, o consumidor tem de enfrentar hoje a redução no prazo de financiamento e as taxas de juros mais elevadas.
A Servloj, por exemplo, reduziu de nove para seis meses (a partir de junho) o prazo médio de financiamento do consumidor e os juros cobrados dos clientes aumentaram em 0,5 ponto percentual ao mês (a partir deste mês). Isso é reflexo da escassez de dinheiro para empréstimos no mercado por conta da alta do dólar.
O crédito mais restrito já teve impacto nas vendas. Na Servloj, as vendas em julho caíram 8% na comparação com igual período do ano passado. A expectativa para este mês é de queda de 10% sobre agosto de 2001.
As incertezas que a economia brasileira vive por conta das eleições devem manter o consumo em patamar baixo, na análise de Queiroz. "Esperamos uma melhora no ritmo de vendas nas lojas a partir de novembro por causa do pagamento de parte do 13º salário, mas o fato é que a demanda está bem contida."
(FF e AM)


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