São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2007

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ÉRICA FRAGA

Depois da tempestade


Mesmo com possível recessão nos EUA, certamente o Brasil não voltaria a figurar entre os dez países mais prejudicados


O QUE está por vir depois da tempestade que sacudiu os mercados financeiros globais nas últimas semanas? Recessão, forte desaceleração do crescimento, novos dias de bonança? Essas perguntas preocupam autoridades, tiram o sono de investidores e têm levado grandes bancos e consultorias, como a EIU (Economist Intelligence Unit), a refazer cenários e testar "modelos de estresse" (que tentam medir o estrago que crises financeiras podem causar na economia real).
A EIU mantém seu cenário central de uma desaceleração moderada do forte crescimento econômico global dos últimos três anos para uma média anual ainda robusta de 3,5% em 2007-09 (medida a taxas de câmbio do mercado), embora tenha revisado sua projeção de expansão nos Estados Unidos em 2008 de 2,4% para 2,3%. Essas projeções são baseadas na suposição de que o impacto da correção do mercado imobiliário norte-americano sobre o consumo privado do país será relativamente moderado.
Mas os riscos a esse cenário positivo -como o perigo de que a desaceleração do consumo privado norte-americano seja mais forte do que o esperado- nunca foram tão altos e elevaram a probabilidade de uma recessão nos Estados Unidos de aproximadamente 30% para 40%. Uma possível recessão nos Estados Unidos teria forte impacto negativo na economia global. O Brasil não sairia incólume, mas estaria entre os emergentes menos afetados, principalmente graças à significativa melhora em seus fundamentos macroeconômicos.
Caso a aversão global a risco continue a aumentar, o primeiro canal de contágio para a economia real seria o corte de linhas internacionais de crédito. O fato de que bancos brasileiros -na contramão do sistema bancário de outros países latino-americanos como México- reduziram sua exposição a linhas de financiamento externas nos últimos anos ajudaria o país a amortizar os impactos negativos de um agravamento da crise atual.
O Brasil também tende a se beneficiar no curto prazo do fator sorte, sinônimo aqui de 17º Congresso do Partido Comunista chinês, em outubro próximo, e Jogos Olímpicos de Pequim, em agosto de 2008. Para garantir o sucesso desses eventos, o país asiático usará, se necessário, seu enorme poder de fogo (medido, entre outros indicadores, por impressionantes reservas internacionais, superiores a US$ 1,3 trilhão) para tentar evitar um colapso da economia global. Isso postergaria uma possível queda brusca nos preços das commodities, que, se vier a acontecer, afetará negativamente o crescimento econômico brasileiro a médio prazo.
Talvez o perigo mais significativo para o Brasil nos próximos meses, se a aversão a risco piorar mais, seja uma possível fuga abrupta de capitais, considerando os grandes fluxos de investimentos de curto prazo que o país atraiu recentemente. Isso poderia ter impacto negativo na taxa de câmbio, levando a pressões inflacionárias e a novo ciclo de aperto monetário, restringindo a recuperação econômica.
Mas, dentro do cenário central da EIU, o Brasil deve crescer a uma média anual de 4% entre 2007 e 2011. E, no balanço entre os fatores positivos e riscos, o país parece estar bem preparado para enfrentar um agravamento das recentes turbulências financeiras. Mesmo no evento de uma possível recessão nos Estados
Unidos, certamente o Brasil não voltaria a figurar na lista dos dez países mais prejudicados, como ocorreu em 1991.

ÉRICA FRAGA é editora de América Latina da consultoria britânica Economist Intelligence Unit.

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