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POLÊMICA
Roberto Rodrigues (Agricultura) afirma que decisão vale para esta safra; interino José Alencar deve assinar MP hoje
Soja transgênica está liberada, diz ministro
BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS
KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de declarações confusas
durante o dia, o governo anunciou, no final da tarde de ontem,
que irá liberar o plantio de soja
transgênica no Brasil.
O plantio será autorizado unicamente para a safra que começa a
ser plantada em outubro e constará em uma medida provisória que
deve ser anunciada hoje pelo presidente interino, José Alencar.
"É uma medida válida para o
país todo", disse, em Manaus, o
ministro da Agricultura, Roberto
Rodrigues, um defensor do produto geneticamente modificado.
"E [só para] esta safra."
Segundo o ministro, em conjunto com a medida provisória,
ou logo depois dela, o governo deve enviar um projeto de lei ao
Congresso para regulamentar "a
questão da biotecnologia para
sempre no Brasil".
Ele negou que a liberação dos
transgênicos tenha sido uma vitória para a pasta da Agricultura em
detrimento do Ministério do
Meio Ambiente, que era contra a
liberação. "Não há vitoriosos nem
perdedores nesse assunto, que é
de interesse nacional."
Ontem, a ministra Marina Silva
(Meio Ambiente) recebeu apoio
de senadores, deputados e de movimentos sociais como o MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra).
De Nova York, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva disse:
"Estamos definindo um plantio
neste ano". Apesar de não declarar oficialmente, já tomou a decisão de editar a MP. Mas deixou o
texto para ser assinado pelo interino, José Alencar. A alegação de
Lula para não assinar a MP é que
precisaria viajar aos EUA e que a
decisão ainda precisava ser discutida por alguns ministros.
Durante o dia de ontem, Alencar reclamou publicamente do fato de ser obrigado a assinar a MP.
Alencar disse, ao longo do dia, ter
dúvidas sobre a liberação do plantio. À noite, porém, o Palácio do
Planalto informou que o texto será assinado hoje.
O temor de Alencar
Após um dia cheio de reuniões
para ouvir os argumentos favoráveis e contrários à edição da MP,
Alencar passou o final da noite
consultando assessores jurídicos
da AGU (Advocacia Geral da
União) e da Casa Civil para saber
quais seriam as consequências jurídicas da medida.
Sua principal preocupação não
era com a contestação judicial da
medida em si, que é praticamente
certa, mas com as consequências
legais que ele poderá enfrentar
por ser a autoridade que autorizará a publicação do texto no "Diário Oficial" da União.
À noite, por volta das 21h30,
Alencar recebeu em seu gabinete
a ministra Marina Silva, o secretário-executivo do Meio Ambiente,
Claudio Langone, e o secretário
de Biodiversidade, João Paulo Capobianco -todos contrários à
medida.
Segundo a Folha apurou, os representantes do Meio Ambiente
trabalharam o dia todo para assegurar que a liberação do plantio
neste ano terá uma série de salvaguardas. Antes da reunião com
Alencar, Marina se reuniu com o
ministro José Dirceu (Casa Civil).
Um dos pontos que a equipe de
Marina defendeu foi a inclusão de
um termo de responsabilidade
que será assinado pelos agricultores que quiserem plantar transgênicos. Nesse termo, que estava em
pelo menos uma das versões da
medida, os agricultores assumiriam a responsabilidade por futuros danos que poderiam ser causados pelo uso das sementes
transgênicas.
Além disso, querem incluir no
texto da lei a proibição da comercialização da semente de soja
transgênica (só quem já a detém
poderia plantá-la nesta safra).
Querem ainda criar um mecanismo que permita separar o produto modificado do convencional
-para evitar que o produtor de
soja tradicional pague royalties.
O jornalista Bruno Lima
viaja a convite do Sebrae
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