São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Agências de risco baixam nota da Vale

Mas mineradora brasileira mantém classificação de "grau de investimento", que aponta baixo risco aos investidores

Agências esperam que até 2008 dívida volte aos patamares históricos com sólida geração de caixa neste ano e em 2007


MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A aquisição da Inco obrigou a Vale do Rio Doce a endividar-se, aumentando o que os analistas chamam de alavancagem financeira, o que fez com que agências de classificação de risco americanas rebaixassem algumas notas atribuídas a papéis da empresa. Mesmo assim, ela segue dentro do chamado "grau de investimento".
A Fitch saiu na frente e logo no início da tarde anunciou que rebaixaria a nota para emissões de longo prazo em moeda local da Vale. A nota, de "BBB", passou a "BBB-". Outras três notas atribuídas a emissões da empresa foram rebaixadas, mas a nota para emissões em moeda estrangeira foi mantida estável pela agência.
A Standard & Poors também anunciou rebaixamento, nesse caso de BBB+ para BBB- -as notas de diferentes agências não são diretamente comparáveis. As notas atribuídas aos papéis da Vale continuam em observação e podem ser rebaixadas, dependendo da maneira como a empresa levante os recursos necessários para pagar pelas ações da Inco.
O principal motivo do rebaixamento foi justamente a necessidade de endividamento. Quanto maior a dívida de uma empresa em relação à geração de caixa, maior o risco de ela não pagá-la caso tenha problemas. A Fitch calcula que a relação entre dívida e a geração de caixa da Vale subirá de 0,8 para 2. Ou seja, a dívida correspondia, no final do segundo trimestre, a 80% da geração de caixa e passará a ser de 200%.
O rebaixamento não deve ter impactos negativos para a Vale. Ao contrário do início de setembro, quando a notícia de que o negócio podia ser fechado fez as ações da Vale caírem, ontem os preços dos papéis ordinários subiram 4,63%. Desde o início do mês, as ações da empresa já acumulam alta de 15,1%.
O rebaixamento do rating, na verdade, apenas reflete uma mudança na estrutura de endividamento da empresa. Ainda assim, as agências de classificação de risco dizem que esperam que as dívidas da empresa voltem aos seus níveis históricos até 2008. "Devido ao cenário atual de preço alto dos metais e à perspectiva favorável de curto prazo, acreditamos que a Vale e a Inco venham a gerar significativo fluxo de caixa no fim de 2006 e durante 2007", escrevem os analistas da Fitch.
A aquisição tem também efeitos positivos para a empresa brasileira, que diversifica negócios, fica menos dependente das vendas de minério de ferro e diminui a sua concentração de ativos no Brasil. Ou seja, uma crise na economia brasileira a afetaria menos.
A Vale já não tem grande vulnerabilidade às oscilações do mercado interno, já que é uma empresa global, com receitas em dólar e estrutura de endividamento de longo prazo. O rating da Vale, maior que o do governo brasileiro, mantém-na no grupo seleto de empresas com "grau de investimento", ou seja, consideradas investimento de risco relativamente baixo para os investidores.
"O perfil de negócio é sólido, amparado por sua liderança e excelente posição de custo no negócio de minério de ferro, setor tipicamente mais concentrado e menos comoditizado do que os de outros recursos minerais e produtos metálicos", diz o relatório da Standard & Poors.


Texto Anterior: Estatal não compraria Inco, dizem especialistas
Próximo Texto: Minério de ferro deve ter preço recorde em 2007
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.