São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 2006

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Taxa de juros menor para aposentados é criticada por bancos

Associação dos bancos alerta de que estratégia do governo de reduzir taxa no consignado gera retração na oferta de crédito

Conselho de Previdência baixa de 2,86% ao mês para 2,78% o valor máximo dos juros nos empréstimos com desconto em folha


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Duas entidades representativas dos bancos alertaram ontem para o fato de que a estratégia do governo de reduzir o teto dos juros cobrados nos empréstimos consignados a inativos vem provocando retração na oferta de crédito ao setor.
Na avaliação da Associação Brasileira dos Bancos, cerca de metade dos empréstimos contraídos no mês passado se destinava a quitar operações com juros mais altos.
O alerta foi feito durante a reunião do CNPS (Conselho Nacional de Previdência Social). O plenário do conselho baixou de 2,86% ao mês para 2,78% o valor máximo dos juros nos empréstimos com desconto em folha de pagamento dos aposentados e pensionistas do INSS. Foi o terceiro corte neste ano, na esteira das reduções da taxa Selic determinadas pelo Copom, do Banco Central.
"A redução dos juros tem até um valor benéfico para os aposentados, porque torna a operação mais barata, mas é um benefício artificial porque pode constranger a oferta de crédito", explicou Renato Oliva, presidente da associação. Com taxas menores, os bancos ganhariam menos e se sentiriam desmotivados a emprestar.
A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), única entidade ligada às instituições financeiras com direito a voto no CNPS, apresentou posição contrária à redução dos juros. Mas foi mais contida ao comentar a possibilidade de os cortes reduzirem a oferta de crédito aos aposentados e pensionistas. "Não diria que o corte nos juros vai diminuir a oferta de crédito, mas não vai aumentar. O atrativo será bem menor [para os bancos]. Os bancos é que dirão se vão continuar ou não nesse mercado", disse Jorge Higashino, em nome da Febraban.
Segundo os bancos, os aposentados que tomaram empréstimo consignado a taxas maiores há três meses, por exemplo, fazem agora novas operações com os juros menores. O problema é que, para aproveitar juros ainda menores, muitos inativos migram para parcelamentos mais longos e de valores maiores.
O governo tem posição mais cautelosa, apostando no barateamento das operações de crédito como atrativo para os aposentados e pensionistas. Se houve erro na dose do corte, a taxa pode ser elevada em alguns meses, na avaliação do secretário-executivo do Ministério da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, que ontem presidiu a reunião do conselho.
"O comportamento hoje dos aposentados em relação aos empréstimos não justifica não transferir o corte da Selic, até porque outras taxas também estão caindo", afirmou.
Outra crítica dos bancos diz respeito ao método de cálculo do corte. O CNPS optou, pela terceira vez, por dividir por 12 meses o corte recebido pela Selic e subtrair o resultado do índice dos aposentados.


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