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LEIS TRABALHISTAS
Sindicatos de empregados e empregadores negociam soluções para evitar as demissões de funcionários
"Nova CLT" já existe e vira prática comum
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A expressão "flexibilização de
direitos trabalhistas" já é parte do
vocabulário de trabalhadores de
vários setores. Na construção civil, em agências e operadoras de
turismo, nas indústrias de brinquedos, de alimentação e metalúrgicas, acordos que se sobrepõem à CLT (Consolidação das
Leis do Trabalho) foram negociados por empregados e patrões.
O governo mandou projeto de
lei para o Congresso que altera a
CLT e libera a negociação entre
patrões e trabalhadores de vários
direitos trabalhistas como férias,
hora extra, descanso semanal e redução de salários. O projeto deve
ser votado nesta semana.
"Evitamos 3.000 demissões desde o início do ano com a redução
de salários, a diminuição da jornada de trabalho e a antecipação
de férias", disse Maria Auxiliadora dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Instrumentos Musicais e de Brinquedos do Estado de
São Paulo. A entidade representa
10 mil pessoas. Na Estrela, cerca
de 1.200 empregados trabalharam
com jornada de quatro dias e salários 20% menores, e tiveram licença remunerada e banco de horas para evitar o corte de 500 postos, segundo a entidade. Santos
diz que o pacote foi adotado em
março, abril e maio, após discussão com os trabalhadores. "Conseguimos negociar o pagamento
de um terço de férias com a concessão da licença."
Cem empregados da Brinquedos Bandeirantes, em São Paulo,
tiveram suas férias antecipadas.
"Pela lei não poderiam tirar férias
porque não tinham completado
um ano de serviço, mas a necessidade fez com que negociássemos
a antecipação", disse Auxiliadora.
Segundo ela, as empresas têm
de usar a negociação para evitar a
dispensa em massa em tempos de
produção em baixa. "Tradicionalmente, de janeiro a maio, temos
de encontrar alternativas para
manter os empregos."
A crise no setor de turismo também levou empresários e funcionários a adotarem a redução de
cerca de 20% nos salários e na jornada. O grupo Flytour fez acordo
com o sindicato dos empregados
em empresas de turismo de São
Paulo em outubro. "É um plano
emergencial. Explicamos que a
queda nas vendas foi muito grande após o atentado aos EUA. Os
salários foram reduzidos do presidente ao office-boy", disse Israel
de Oliveira, gerente de Recursos
Humanos. A empresa tem 300
funcionários em São Paulo.
Segundo a Flytour, o acordo foi
aprovado em assembléia, negociado com representantes dos trabalhadores e do Sindetur (sindicato das empresas de turismo) e
homologado na Delegacia Regional do Trabalho. "Se houver uma
retomada das vendas, como já estamos verificando gradualmente,
podemos encerrar o acordo ainda
neste mês", disse Oliveira.
Nas contas do sindicato dos empregados, quatro empresas, com
cerca de 300 trabalhadores, trabalham com jornada e salários reduzidos. Para o presidente do Sindetur, Eduardo Vampré do Nascimento, a redução atinge 1.500
pessoas no Estado de São Paulo.
As entidades sindicais não divulgam os nomes das empresas
que flexibilizaram direitos trabalhistas, dizendo que o consumidor pode interpretar a redução
como sinal de fraqueza -ainda
mais após a falência da Soletur.
O parcelamento do 13º, que poderá ser legalizado com a mudança na CLT, preocupa a construção
civil. No ano passado, 7.500 trabalhadores receberam o benefício
em até seis parcelas, segundo o
Sindicato dos Trabalhadores da
Construção Civil de São Paulo.
Antonio Ramalho, presidente
do sindicato, diz que neste ano o
parcelamento do 13º deve atingir
ainda mais trabalhadores. "Já fui
procurado por mais de cem empresas e construtoras que querem
dividir o pagamento."
Ramalho diz que não é contra a
flexibilização, mas crê que agora
não é o "momento econômico
adequado" para implementá-la.
O parcelamento do 13º também
chega às indústrias de alimentação. O presidente do sindicato dos
trabalhadores do setor em São
Paulo, Salvador Pinheiro, disse
que a fábrica de biscoitos Bela
Vista vai pagar em seis parcelas.
O Sindicato dos Metalúrgicos
de São Paulo diz que 50 empresas
de sua base já reduziram o horário de almoço.
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