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Sem subsídio, indústria de leite ameaça sair de SP
Laticínios paulistas de leite longa vida podem transferir produção para MG
Empresas afirmam que
retirada do crédito de ICMS
encarecerá o produto;
mudança tributária irá
valer a partir do dia 1º
MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO
A retirada de subsídios da cadeia leiteira prevista para ocorrer em 2008 em São Paulo pode
fazer laticínios paulistas produtores de longa vida transferirem parte da produção e funcionários para cidades de Minas Gerais. Isso porque a maior
parte do leite industrializado
em São Paulo vem de Minas.
As duas principais indústrias
de leite da região de Ribeirão
Preto já acenam com a mudança para Minas. Elas afirmam
que a retirada do crédito de
ICMS encarecerá o litro do leite de 7% a 10%, diminuindo a
competitividade das empresas
e inviabilizando a produção no
Estado.
Com 1.030 funcionários, a
Indústria de Alimentos Nilza,
de Ribeirão Preto, e a Usina de
Laticínios Jussara, de Patrocínio Paulista, podem perder até
700 vagas na região com a
transferência da produção de
leite longa vida nos próximos
anos para o Estado vizinho.
Segundo as cooperativas, o
problema ocorre porque o leite
longa vida sai das empresas
com um crédito presumido,
que compensa o pagamento do
7% de ICMS do leite que entra
no Estado a partir de produtores de Minas Gerais. Sem o crédito, dizem que ficará inviável
produzir em São Paulo a partir
de matéria-prima adquirida em
Minas.
Com 550 funcionários, a Nilza capta diariamente 750 mil litros de leite, dos quais 600 mil
são produzidos em Minas. Já a
Jussara, que tem 480 trabalhadores, capta 500 mil litros por
dia, dos quais 350 mil litros
vêm de Minas.
"A mudança na tributação, a
partir de 1º de janeiro, deve resultar na perda da maior parte
das indústrias de leite longa vida, que devem sair do Estado.
Se perdermos o incentivo, será
mais fácil produzir fora do Estado", afirmou Laércio Barbosa, diretor comercial da Jussara
e vice-presidente da ABLV (Associação Brasileira do Leite
Longa Vida).
Independentemente da decisão do governo, as duas empresas da região de Ribeirão já têm
projetos de expansão para Minas. A Jussara planeja investir
R$ 50 milhões numa unidade
capaz de atender 500 mil litros/dia e, para isso, já tem um
protocolo assinado com o governo mineiro.
Já a Nilza analisa áreas com a
meta de nacionalizar a marca a
partir de Minas Gerais.
Segundo Barbosa, como São
Paulo não tem produção primária grande, a indústria é
obrigada a se abastecer fora e
industrializar no Estado.
"Como não conseguimos repassar a alta ao consumidor, ou
a gente vai perder espaço ou
mudar as fábricas para fora do
Estado", disse Barbosa.
Na semana passada, produtores, indústrias e 12 deputados
se reuniram com a Secretaria
de Estado da Fazenda pedindo
revisão da medida. O governo
disse que iria analisar o pedido
até o final do ano.
"Eles argumentam que dão
subsídio ao setor e que a política do Estado é a de não dar subsídios. Mas o leite é subsidiado
em todo o país. Se tirar [de São
Paulo], as empresas de fora ficam mais competitivas. Já há
leite de Rio Grande do Sul e
Santa Catarina sendo vendido
aqui mais barato que o nosso."
O diretor industrial da Nilza,
Marcelo Nogueira, disse que a
perda do subsídio pode inviabilizar o projeto industrial no Estado. "Dependendo do "time"
que o Estado der, vai obrigar as
empresas a ficar só com o leite
do Estado. Dos 750 mil litros
que captamos por dia, só 150
mil são de São Paulo. Imagine
partir de 750 mil e voltar a 150
mil. Cria um colapso."
Nogueira afirmou ainda que,
se tiver que transferir a produção para a unidade que será
aberta em Minas, o quadro de
funcionários passaria a um terço do atual. "O emprego migra
para onde tiver a fábrica. É bem
preocupante. Já temos a ampliação do grupo prevista. Ela
pode ser maior ou menor em
razão desse impacto."
O problema não atinge a
Coonai (Cooperativa Nacional
Agroindustrial), de Brodowski,
que só produz leite pasteurizado (de saquinho), que é isento
da tributação. O vice-presidente da cooperativa, Marcelo Avelar, disse que as vendas subiram
30% nos últimos dois meses,
após a crise que atingiu duas
cooperativas mineiras.
O que muda
A Secretaria de Estado da Fazenda informou que o decreto
52.381, de 19 de novembro de
2007, alterou a forma de tributação pelo ICMS das operações
com leite longa vida, buscando
estimular a produção de leite
no Estado de São Paulo.
Segundo a secretaria, atualmente, as saídas de leite longa
vida dos laticínios sofrem a incidência de uma carga tributária correspondente a 7% do valor da operação, mas é outorgado um crédito correspondente
a 6,7%, restando uma carga de
0,3% à indústria. A partir de 1º
de janeiro, termina a permissão
de crédito nas aquisições do leite em outros Estados.
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