São Paulo, terça-feira, 25 de dezembro de 2007

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Após operação da PF, cooperativas reduzem produção e demitem

DA FOLHA RIBEIRÃO

Dois meses após a Operação Ouro Branco, da Polícia Federal, as principais cooperativas envolvidas na fraude do leite enfrentam problemas como a drástica redução na captação de leite, a demissão de parte dos funcionários e a ausência no mercado do leite longa vida.
A operação, desencadeada em 22 de outubro em Uberaba e Passos, resultou na prisão de 28 pessoas, após denúncias de adulteração no leite longa vida (o de caixinha), com a adição de produtos como soda cáustica e água oxigenada.
Na Casmil (Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro), de Passos, a captação diária de leite caiu de 225 mil litros para 60 mil. O quadro de funcionários também mudou: 60 dos 215 funcionários foram dispensados.
O total captado caiu porque produtores de leite passaram a enviar sua produção para outras empresas, muitos compradores sumiram e fornecedores que vendiam leite sem a qualidade necessária foram eliminados.
"Houve uma soma de fatores negativos, com problemas administrativos da empresa e a entrada da safra do leite, que vieram a se somar aos efeitos da operação", afirmou Leonardo dos Reis Medeiros, 55, presidente do novo Conselho de Administração da cooperativa e do Sindicato dos Produtores Rurais de Passos.
Com a crise, a cooperativa, que vendia até este ano para empresas como Parmalat, Nestlé e Nilza, de Ribeirão Preto, foi obrigada a mudar o foco de atuação (leia texto nesta página). "Embora o objeto da investigação fosse o leite cru, todos os produtos da marca caíram a zero de venda", disse Medeiros. O leite B em saquinho tinha venda de até 8.000 litros por dia -hoje, caiu para 6.000.
Medeiros disse que a cooperativa até hoje não recebeu laudo com os resultados das análises da operação. "Não deixa de ser estranho, porque muitas outras empresas que tiveram o leite analisado receberam o laudo dias depois."
O presidente do conselho afirmou ainda que um consultor propôs um "choque de gestão", que contemplou a redução de cargos de gerência, por exemplo.
"Agora, não há como manter o mesmo número de funcionários, pois estamos trabalhando com quantidade bem menor de leite. Na nossa fábrica de ração, aconteceu a mesma coisa. Ela é uma das maiores de todo o sul do Estado, podendo produzir até 9.000 toneladas por mês. Como está produzindo 1.800 toneladas, não houve como manter os funcionários."
Já a Copervale (Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande) continua com a produção do leite longa vida, carro-chefe da empresa, suspensa. Todos os dias são coletadas amostras e enviadas para análise no Ministério da Agricultura.
"Nossos produtos estão passando por uma fiscalização rigorosa e isso nos garante uma produção de qualidade exemplar", disse Antônio Bernardes Neto, presidente interino da cooperativa. Ele assumiu o cargo há um mês, no lugar de Luiz Gualberto Ribeiro Ferreira, que foi preso na operação da PF e solto uma semana depois.
A Copervale tenta enfrentar a crise com a venda de leite tipo C e de derivados (manteiga, requeijão e doce de leite) e com o direcionamento do leite dos produtores para duas grandes indústrias mineiras.
Dos 1.100 produtores, apenas cinco deixaram a cooperativa, que tem 400 funcionários. "Nossa produção tem girado em torno de 120 mil litros por dia e não caiu. Nossa sorte é a parceria com as indústrias que têm nos dado um respaldo grande e nos garante a sobrevivência", afirmou Bernardes Neto.
A estabilidade econômica da Copervale é apontada pelo presidente como a responsável pela superação da crise enfrentada após a operação da Polícia Federal. (MARCELO TOLEDO e JUCIMARA DE PAUDA)


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