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Após operação da PF, cooperativas reduzem produção e demitem
DA FOLHA RIBEIRÃO
Dois meses após a Operação Ouro Branco, da Polícia
Federal, as principais cooperativas envolvidas na fraude
do leite enfrentam problemas como a drástica redução
na captação de leite, a demissão de parte dos funcionários e a ausência no mercado
do leite longa vida.
A operação, desencadeada
em 22 de outubro em Uberaba e Passos, resultou na prisão de 28 pessoas, após denúncias de adulteração no
leite longa vida (o de caixinha), com a adição de produtos como soda cáustica e
água oxigenada.
Na Casmil (Cooperativa
Agropecuária do Sudoeste
Mineiro), de Passos, a captação diária de leite caiu de 225
mil litros para 60 mil. O quadro de funcionários também
mudou: 60 dos 215 funcionários foram dispensados.
O total captado caiu porque produtores de leite passaram a enviar sua produção
para outras empresas, muitos compradores sumiram e
fornecedores que vendiam
leite sem a qualidade necessária foram eliminados.
"Houve uma soma de fatores negativos, com problemas administrativos da empresa e a entrada da safra do
leite, que vieram a se somar
aos efeitos da operação",
afirmou Leonardo dos Reis
Medeiros, 55, presidente do
novo Conselho de Administração da cooperativa e do
Sindicato dos Produtores
Rurais de Passos.
Com a crise, a cooperativa,
que vendia até este ano para
empresas como Parmalat,
Nestlé e Nilza, de Ribeirão
Preto, foi obrigada a mudar o
foco de atuação (leia texto
nesta página). "Embora o objeto da investigação fosse o
leite cru, todos os produtos
da marca caíram a zero de
venda", disse Medeiros. O
leite B em saquinho tinha
venda de até 8.000 litros por
dia -hoje, caiu para 6.000.
Medeiros disse que a cooperativa até hoje não recebeu laudo com os resultados
das análises da operação.
"Não deixa de ser estranho,
porque muitas outras empresas que tiveram o leite
analisado receberam o laudo
dias depois."
O presidente do conselho
afirmou ainda que um consultor propôs um "choque de
gestão", que contemplou a
redução de cargos de gerência, por exemplo.
"Agora, não há como manter o mesmo número de funcionários, pois estamos trabalhando com quantidade
bem menor de leite. Na nossa fábrica de ração, aconteceu a mesma coisa. Ela é uma
das maiores de todo o sul do
Estado, podendo produzir
até 9.000 toneladas por mês.
Como está produzindo 1.800
toneladas, não houve como
manter os funcionários."
Já a Copervale (Cooperativa dos Produtores de Leite
do Vale do Rio Grande) continua com a produção do leite longa vida, carro-chefe da
empresa, suspensa. Todos os
dias são coletadas amostras e
enviadas para análise no Ministério da Agricultura.
"Nossos produtos estão
passando por uma fiscalização rigorosa e isso nos garante uma produção de qualidade exemplar", disse Antônio
Bernardes Neto, presidente
interino da cooperativa. Ele
assumiu o cargo há um mês,
no lugar de Luiz Gualberto
Ribeiro Ferreira, que foi preso na operação da PF e solto
uma semana depois.
A Copervale tenta enfrentar a crise com a venda de leite tipo C e de derivados
(manteiga, requeijão e doce
de leite) e com o direcionamento do leite dos produtores para duas grandes indústrias mineiras.
Dos 1.100 produtores, apenas cinco deixaram a cooperativa, que tem 400 funcionários. "Nossa produção tem
girado em torno de 120 mil
litros por dia e não caiu. Nossa sorte é a parceria com as
indústrias que têm nos dado
um respaldo grande e nos garante a sobrevivência", afirmou Bernardes Neto.
A estabilidade econômica
da Copervale é apontada pelo presidente como a responsável pela superação da crise
enfrentada após a operação
da Polícia Federal.
(MARCELO TOLEDO e JUCIMARA DE PAUDA)
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