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OPINIÃO ECONÔMICA
Agências de risco contribuem para a crise de confiança
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
O fórum Econômico Mundial deste ano, em Davos,
definiu como um de seus eixos
temáticos a questão da confiança (o slogan do encontro é "building trust", construindo a confiança).
O tema ganhou muito peso
acadêmico nos últimos anos,
com ênfase em questões como a
"governança corporativa" ou o
interesse nos efeitos econômicos da corrupção e da regulação.
De modo geral, toda a dimensão institucional da atividade
econômica veio para primeiro
plano, sobretudo com a transição dos antigos países socialistas
para economias de mercado.
O foco em Davos, no entanto,
não é acadêmico. O desafio é
prático e urgente, pois o capitalismo global enfrenta a sua mais
grave crise de confiança e crédito desde o colapso de 1929.
O problema talvez pareça apenas financeiro, mas essa é apenas a sua dimensão mais evidente. O debate é muito mais
amplo. Como se faz para construir confiança ou, pior ainda,
recuperar a confiança perdida?
Certamente é um desafio que
vai além dos indicadores econômicos.
Há mais de cem anos, Walter
Bagehot já analisava o mercado
financeiro londrino alertando
que, se uma pessoa precisa demonstrar que merece crédito,
então já não é tão digna de recebê-lo. Em tese, quanto mais ela
tiver de "se explicar", mais desconfiança vai gerar entre os potenciais credores.
Mas predomina o raciocínio
oposto no cotidiano dos mercados financeiros e mesmo nos
modelos financeiros e econômicos dominantes. Segundo a ortodoxia, quanto mais informação disponível, melhor o funcionamento do mercado.
O problema é saber quem garante a qualidade da informação. Se não existem garantias, o
modelo de aperfeiçoamento do
sistema com base no aumento
de sua transparência é inviável.
As informações oferecidas pelo devedor em busca de mais
crédito são sempre suspeitas.
Como os credores precisam de
informação independente,
abre-se uma oportunidade para
agências de classificação de risco. Nos últimos anos, assim como as grandes empresas de consultoria, as agências de rating erraram ou tomaram decisões
suspeitas, colocando em risco a
própria credibilidade. Elas agora estão na mira da SEC (agência
reguladora do mercado de capitais nos EUA). A mesma SEC
que passou nas últimas semanas
por uma grave turbulência política por suspeita de falta de idoneidade da sua direção.
O assunto esquentou em Davos, na última sexta, com as declarações da principal autoridade de supervisão financeira britânica, Howard Davies (cabeça
da "Financial Services Authority"). Ele declarou que agências
como a Standard & Poor's ou
Moody's deveriam ser reguladas
ou perder seu "papel central" na
definição de indicadores de saúde financeira de instituições públicas ou privadas.
O sistema norte-americano é
contraditório. De um lado,
agências de risco estão completamente fora do alcance de organismos reguladores. De outro,
as agências ganham mercado
com base num atestado oficial.
Davies resumiu essa relação
ambígua entre as agências e os
reguladores como "meia gravidez". Os reguladores não fiscalizam, mas sancionam o poder de
mercado conquistado por essas
organizações. E, como se viu no
escândalo da Enron, a reclassificação é "ponderada" segundo o
"peso" da entidade analisada.
A conclusão é dramática: não
há como confiar nas entidades
que atualmente dominam o
mercado da informação essencial para a construção da confiança.
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