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BICO LUCRATIVO
Membros do governo ganham vencimentos extras e dobram rendimentos ao participar do conselho de empresas
Estatais engordam salários de ministros
HUMBERTO MEDINA
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sob Luiz Inácio Lula da Silva,
ministros e assessores graduados
repetem uma prática antes condenada pelo PT. Engordam os salários por meio da participação
em conselhos de administração
de empresas estatais, controladas
pelo Tesouro Nacional.
Há casos em que o salário mais
do que dobra. Secretários chegam
a ganhar mais que ministros. Um
exemplo é o secretário-executivo
do Ministério de Minas e Energia,
Maurício Tolmasquim. Seu salário, no ministério, é de R$ 8.000.
Para participar do conselho de
Itaipu, recebe R$ 7.800. No conselho da Eletrobrás, obtém mais
R$ 1.600. Também presta serviços
a Furnas, onde recebe R$ 1.427.
Sua remuneração total é, portanto, de R$ 18.827.
O secretário-executivo da pasta
das Minas e Energia costuma assumir também uma vaga no conselho da CBEE (Comercializadora
Brasileira de Energia Emergencial). Tolmasquim ainda não foi
indicado. Mantida a praxe, seu salário saltaria para R$ 20.327.
A ministra Dilma Rousseff, chefe de Tolmasquim, ganha
R$ 8.280 no ministério. Para participar do conselho da Petrobras,
recebe aproximadamente
R$ 2.800. Como também participa do conselho da Eletrobrás, soma aos vencimentos outros
R$ 1.600. No total, leva R$ 12.680
- pouco mais da metade da renda de seu subordinado.
Outro secretário que catapultou
seus vencimentos por causa do
"efeito conselho" foi Joaquim
Levy, do Tesouro Nacional. Obteve assento em Furnas (R$ 1.427),
no Banco do Brasil (R$ 1.785) e na
Caixa Econômica Federal (R$
1.704). Ou seja, seu salário vai de
R$ 7.500 para R$ 12.416.
O ministro ao qual Levy está subordinado, Antonio Palocci (Fazenda), ganha menos: R$ 8.280 no
ministério mais R$ 2.800 na Petrobras. Um total de R$ 11.080, 7%
a menos que seu secretário.
A lei 9.292/96 determina que os
membros dos conselhos de administração e fiscal das empresas estatais (sociedades de economia
mista ou controladas direta ou indiretamente pela União) não podem ganhar mais do que o equivalente a 10% do salário médio de
seus diretores.
Jetom
Os conselhos existem -tanto
nas estatais como no setor privado- para que os acionistas possam acompanhar mais de perto a
gestão de suas empresas.
A remuneração dos conselheiros das estatais é conhecida como
jetom. Pode ser um valor fixo
mensal ou paga por reunião. Geralmente, os conselhos se reúnem
uma vez por mês. Mesmo com as
privatizações durante o governo
Fernando Henrique Cardoso, os
gastos com conselhos de administração aumentaram 272% em oito
anos. Saiu de R$ 1,22 milhão para
R$ 4,76 milhões.
A exceção ao limite de 10% estabelecido em lei fica por conta da
hidrelétrica de Itaipu, que, por ser
uma empresa binacional (Brasil-Paraguai), não está sujeita a essa
lei. Paga aos membros de seu conselho de administração generosos
40% do salário de seus diretores.
Estão no conselho de Itaipu,
além do secretário-executivo do
Ministério de Minas e Energia, o
sindicalista petista João Vaccari
Netto (que esteve cotado para assumir a presidência do Banco do
Brasil) e o presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa.
O conselho da Eletrobrás acomoda, além da ministra de Minas
e Energia e do presidente da estatal, a economista Maria da Conceição Tavares.
Entre os ministros, o salário que
mais aumenta por causa do "efeito conselho" é o de Dilma Rousseff (53%). É a única ministra que
participa de dois conselhos.
Os ministros José Dirceu (Casa
Civil), Antonio Palocci (Fazenda),
José Viegas Filho (Defesa), Guido
Mantega (Planejamento) e Luiz
Furlan (Desenvolvimento) participam de um único conselho. Aumentam seus salários em percentuais que variam de 15% a 33%
(veja quadro).
O ministro Miro Teixeira (Comunicações), se decidir assumir a
vaga que de praxe é ocupada pelo
titular da pasta nos conselhos da
Telebrás e dos Correios, aumentará seus vencimentos em
R$ 2.400. Como optou por receber salário de deputado
(R$ 12.710), em vez do de ministro
(R$ 8.280), sua remuneração
mensal chegaria a R$ 15.110.
Entre as empresas estatais, a que
melhor paga a seus conselheiros é
a hidrelétrica de Itaipu (R$ 7.800),
seguida da Petrobras (R$ 2.800).
As outras estatais oscilam na faixa
entre R$ 1.200 e R$ 1.700.
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