São Paulo, terça, 26 de janeiro de 1999

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MERCADO TENSO
A partir de hoje bancos poderão tomar empréstimos maiores em dólares; CMN aprova unificação cambial
Governo tenta tirar pressão do câmbio

da Sucursal de Brasília


O Banco Central baixou medida ontem para tentar ampliar a oferta de dólares no mercado e, assim, atenuar as pressões que nos últimos dias têm levado o real a sofrer desvalorizações excessivas. A partir de hoje, os bancos poderão tomar empréstimos 50% maiores em dólares.
Outra norma, aprovada ontem pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), unifica os mercados flutuante e livre do dólar que, a partir da próxima segunda-feira, terão apenas uma cotação.
O Departamento Econômico do BC calcula que o limite global de endividamento dos bancos em dólares vá subir de US$ 2,3 bilhões para US$ 3,5 bilhões.
Teoricamente, caso todos os bancos usem o novo limite, a oferta de dólares no mercado pode aumentar em US$ 1,2 bilhão.
Pelas regras vigentes, os bancos estão autorizados a tomar empréstimos em dólar no exterior para atender às necessidades de seus clientes que querem comprar a moeda norte-americana.
A soma desses empréstimos é limitada pelo BC, para evitar que os bancos assumam dívidas excessivas em dólares e sofram grandes prejuízos, caso ocorram fortes oscilações da cotação.
Bancos pequenos, com patrimônio líquido de até US$ 25 milhões, podiam levantar empréstimos de até US$ 5,650 milhões. Agora, podem tomar emprestado até US$ 8,475 milhões.
Os limites crescem de acordo com o tamanho dos bancos. As maiores instituições, com patrimônio acima de US$ 100 milhões, poderão captar até US$ 33,750 milhões, contra US$ 22,500 milhões no limite antigo.
A ampliação da oferta de dólares pode atenuar a pressão para desvalorizar o real, evitando que o BC seja obrigado a suprir o mercado com moeda de suas reservas. O real está se desvalorizando porque há maior procura por dólares do que oferta.
² Unificação
A unificação da cotação do câmbio é um primeiro passo para o fim de um sistema duplo, formado pelos mercados livre e flutuante.
No mercado de taxas livres são fechadas operações de comércio exterior (importações e exportações) e financeiras (captações e empréstimos no exterior, investimentos de estrangeiros na Bolsa, fundos ou Bolsas etc.).
O flutuante permite a entrada e a saída de dólar sem relação comercial ou financeira. Por ele, pessoas, empresas ou bancos podem enviar dólares para o exterior livremente, usando as chamadas contas CC-5, mantidas por residentes no exterior ou empresas com presença fora do país. O flutuante também opera com dólar para turistas.
Com a unificação, os dólares que entram no mercado flutuante poderão suprir as necessidades do mercado livre, e vice-versa -o que era proibido. Isso permitirá, por exemplo, atenuar as pressões ocorridas nos últimos dias na cotação do mercado livre.
Formalmente, entretanto, o sistema duplo continua a existir, pois os bancos continuarão obrigados a manter registros separados sobre as operações do flutuante e livre.
A unificação das taxas de câmbio, na prática, vai dar sobrevida ao mercado flutuante e, assim, garantir o livre fluxo de capitais.
A cotação do dólar no mercado flutuante tendia a disparar, devido à livre flutuação do câmbio.
O mercado flutuante sempre foi deficitário, pois suas saídas sempre foram maiores que as entradas. A cotação só não disparava porque o BC comprava dólar no mercado livre para vender no flutuante.
Com a adoção do sistema de livre flutuação do câmbio, o BC passou a intervir menos no mercado. Assim, a tendência era que houvesse falta de moeda no flutuante e a cotação disparasse.



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