São Paulo, terça, 26 de janeiro de 1999

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FMI é contra proposta da centralização

MARCELO DIEGO
de Nova York

A hipótese da centralização do câmbio por parte do governo brasileiro, para tentar minimizar a desvalorização do real, não tem o apoio do FMI (Fundo Monetário Internacional), nem de especialistas do mercado financeiro.
Pela centralização, as operações com divisas seriam racionadas pelo governo -possivelmente pelo BC (Banco Central).
Seria uma restrição ao livre mercado, que vem determinando o valor do real em relação ao dólar, mas poderia pressionar pela redução na taxa de juros, que não teria mais a função de tentar bloquear a saída da moeda norte-americana do país, proporcionando a retomada do crescimento.
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, é publicamente contrário à centralização e negou a hipótese.
O ministro Malan segue a mesma cartilha do FMI. Segundo um dos porta-vozes do Fundo, a entidade é favorável à abertura total do câmbio, sem controles ou restrições.
Segundo o artigo constitutivo de número oito do FMI, a política da entidade visa promover a liberdade de transações em contas correntes, sem impor restrições de qualquer natureza.
Para o Fundo, mesmo que o governo estabeleça seu câmbio oficial, sempre existirá um câmbio paralelo. Para o diretor de mercados emergentes da Goldman & Sachs em Nova York, Paulo Leme, a centralização "é a pior das alternativas no momento".
Para Leme, o melhor caminho a ser adotado pelo governo é convencional. "Adotar uma política monetária forte e transparente, aumentar a base de crédito líquido e reduzir o déficit, além de incluir no programa de privatizações empresas como a Petrobrás", afirmou.
Para Leme, as medidas exigem esforço político, mas poderiam reduzir a desvalorização do real e evitar a inflação.
"O governo também pode inflar a economia, o que é menos desejável, deixando o câmbio livre e reindexando valores. Mas essa não é a diretriz da equipe econômica", afirmou. Ele diz que a centralização do câmbio deveria ser a última hipótese a ser analisada.
"Seria jogar a toalha, retroceder 30 anos na história e afastaria o Brasil da integração comercial", avaliou.
Para Leme, somente medidas no campo fiscal podem diminuir o impacto e a duração da depreciação da moeda brasileira. "No México, houve um período de ajuste de cerca de um ano."
Para o economista-chefe do First Union Corp., Joel Narof, o governo brasileiro deve intervir para transmitir segurança e não desorientar os mercados. "Todos olham para as mudanças econômicas. Com a devida organização será possível a apreciação de uma taxa de câmbio nominal, mas sem a ação intervencionista do governo", disse.
Segundo ele, o período de instabilidade do real pode durar de quatro meses a um ano.
Já o economista Bruce Steinberg, da Merril Lynch, diz que "não há chances" de o governo promover a centralização cambial. "Apesar de ancorada, a economia sempre estará sujeita a incertezas", afirmou.



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