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FMI é contra proposta da centralização
MARCELO DIEGO
de Nova York
A hipótese da centralização do
câmbio por parte do governo brasileiro, para tentar minimizar a
desvalorização do real, não tem o
apoio do FMI (Fundo Monetário
Internacional), nem de especialistas do mercado financeiro.
Pela centralização, as operações
com divisas seriam racionadas pelo governo -possivelmente pelo
BC (Banco Central).
Seria uma restrição ao livre mercado, que vem determinando o valor do real em relação ao dólar,
mas poderia pressionar pela redução na taxa de juros, que não teria
mais a função de tentar bloquear a
saída da moeda norte-americana
do país, proporcionando a retomada do crescimento.
O ministro da Fazenda, Pedro
Malan, é publicamente contrário à
centralização e negou a hipótese.
O ministro Malan segue a mesma
cartilha do FMI. Segundo um dos
porta-vozes do Fundo, a entidade é
favorável à abertura total do câmbio, sem controles ou restrições.
Segundo o artigo constitutivo de
número oito do FMI, a política da
entidade visa promover a liberdade de transações em contas correntes, sem impor restrições de
qualquer natureza.
Para o Fundo, mesmo que o governo estabeleça seu câmbio oficial, sempre existirá um câmbio
paralelo. Para o diretor de mercados emergentes da Goldman &
Sachs em Nova York, Paulo Leme,
a centralização "é a pior das alternativas no momento".
Para Leme, o melhor caminho a
ser adotado pelo governo é convencional. "Adotar uma política
monetária forte e transparente, aumentar a base de crédito líquido e
reduzir o déficit, além de incluir no
programa de privatizações empresas como a Petrobrás", afirmou.
Para Leme, as medidas exigem
esforço político, mas poderiam reduzir a desvalorização do real e
evitar a inflação.
"O governo também pode inflar
a economia, o que é menos desejável, deixando o câmbio livre e reindexando valores. Mas essa não é a
diretriz da equipe econômica",
afirmou. Ele diz que a centralização do câmbio deveria ser a última
hipótese a ser analisada.
"Seria jogar a toalha, retroceder
30 anos na história e afastaria o
Brasil da integração comercial",
avaliou.
Para Leme, somente medidas no
campo fiscal podem diminuir o
impacto e a duração da depreciação da moeda brasileira. "No México, houve um período de ajuste
de cerca de um ano."
Para o economista-chefe do First
Union Corp., Joel Narof, o governo
brasileiro deve intervir para transmitir segurança e não desorientar
os mercados. "Todos olham para
as mudanças econômicas. Com a
devida organização será possível a
apreciação de uma taxa de câmbio
nominal, mas sem a ação intervencionista do governo", disse.
Segundo ele, o período de instabilidade do real pode durar de quatro meses a um ano.
Já o economista Bruce Steinberg,
da Merril Lynch, diz que "não há
chances" de o governo promover a
centralização cambial. "Apesar de
ancorada, a economia sempre estará sujeita a incertezas", afirmou.
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