São Paulo, terça, 26 de janeiro de 1999

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Yuan derruba mercados da Ásia

MARCIO AITH
enviado especial a Seul

Os mercados asiáticos despencaram ontem depois de um jornal oficial chinês defender que a desvalorização do yuan, a moeda do país, "não seria uma má idéia".
Para o "China Daily Business Weekly", "como os mercados financeiros reagiram positivamente depois que o governo brasileiro deixou sua moeda flutuar, analistas dizem que a desvalorização ou a flutuação do renminbi (como a moeda também é chamada) definitivamente não seriam má idéia".
O primeiro-ministro chinês, Zhu Rongji, voltou ontem a negar que o país esteja estudando mexer no câmbio. "O governo chinês vai continuar aderindo a uma política de não desvalorizar o renminbi."
Apesar disso, a afirmação do jornal oficial provocou uma fuga de recursos dos mercados de ações da região à exceção do japonês, que fechou com ligeira alta de 0,4%.
As Bolsas de Cingapura, Indonésia e Filipinas caíram mais de 5% (5,5%, 5% e 5,4%, respectivamente). A da Tailândia, 3,4%. Em Taiwan, a queda foi de 3,1%. Em Hong Kong, 2,5%; na Coréia do Sul, 2%.
Na Europa, a maioria das Bolsas teve altas ou baixas mínimas, depois de um dia instável. Em Frankfurt, a baixa foi de 0,39%, e em Milão, de 0,25%. Subiram as Bolsas de Londres, com 0,33%, Madrid, 0,56%, e Paris, 0,78%.
Cresce no mercado o sentimento de que o governo chinês está realmente planejando desvalorizar sua moeda. Os jornais oficiais costumam refletir a opinião do governo ou, em assuntos econômicos, têm sido usados para lançar idéias.
China, Hong Kong e Argentina são três das mais importantes economias a ainda manter regimes cambiais fixos diante do dólar. O colapso do real fragilizou a confiança nos três, mas é o futuro da China que mais preocupa.
Pelo tamanho da economia chinesa e por sua ligação com Hong Kong, a decisão que o governo chinês tomar deve afetar o crescimento global e o ritmo de recuperação dos países afetados pela crise.
Na última vez em que o yuan desvalorizou-se, em 1994, as balanças comerciais dos demais países da Ásia entraram em déficit. Alguns identificam esse como o início da crise que atingiu a região em 1997.
O temor do mercado está alterando análises feitas em 1998. Um exemplo é o significado, para os investidores, das enormes reservas chinesas -de US$ 140 bilhões. Antes, eram vistas como um sinal de que o país não corre o risco de entrar numa crise cambial. Agora, muitos as vêem como um instrumento para que a China desvalorize de forma controlada, ao contrário do Brasil.
Mas poucos prevêem uma desvalorização ainda neste ano. Ontem, nos contratos futuros, investidores apostavam numa baixa do yuan nos primeiros meses de 2000.



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