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Endividamento público tem redução, mas perfil da dívida piora
Participação do débito corrigido pela Selic atinge recorde de 70%; BC diz que teve de vender títulos de curto prazo para enxugar excesso de recursos do mercado
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A dívida líquida do setor público caiu em janeiro, na comparação com dezembro, devido
à desvalorização cambial e ficou em 41,7% do PIB, ou R$
1,32 trilhão. O perfil do endividamento, no entanto, piorou. A
participação da dívida corrigida
pela taxa básica (Selic) chegou
ao nível recorde de 70,4%.
O problema, segundo o Banco Central, é o excesso de recursos no sistema financeiro, o
que obriga a instituição a vender títulos de curto prazo para
tirar parte desse dinheiro do
mercado. O estoque dos papéis
negociados pelo BC nessas operações cresceu 20% e chegou ao
recorde de R$ 536 bilhões.
Ontem, o ministro Guido
Mantega (Fazenda) afirmou
que esse excesso de dinheiro no
mercado financeiro deve ser
corrigido, em parte, pela mudança anunciada nos depósitos
compulsórios a partir de março. O governo decidiu reduzir o
dinheiro disponível para os
bancos emprestarem em R$ 71
bilhões, o equivalente a 70% do
que foi liberado no final de
2008 por causa da crise.
Parte desse excesso também
vem das compras de dólares
feitas pelo BC e do vencimento
de títulos da dívida que não são
rolados pelo Tesouro, dois fatores que servem para injetar
reais na economia.
Outro fator que explica a
queda na dívida, na comparação com o R$ 1,34 trilhão de dezembro, é a melhora nas contas
públicas, que no mês passado
ficaram no azul pela primeira
vez desde outubro de 2008, início da crise econômica. Desde
aquele mês, a economia do governo para pagar os juros da dívida (superavit primário) estava abaixo da carga de juros.
Em janeiro, o superavit primário somou R$ 16,2 bilhões,
puxado pelo recorde de arrecadação e pela postergação de
gastos do governo. A carga de
juros caiu para R$ 14 bilhões. É
o segundo melhor resultado
para meses de janeiro, nos dois
indicadores, da série histórica
iniciada em 2001. "O resultado
primário é fruto de uma atividade econômica bem mais
aquecida neste início do ano. E
há também uma carga de juros
menor, ainda por conta do efeito da redução da Selic", disse o
chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Para o economista Roberto
Padovani, do Banco WestLB, o
governo ainda está distante de
conseguir cumprir a meta de
superavit deste ano (3,3% do
PIB, incluindo as contas de Estados, municípios e estatais),
apesar dos esforços para reduzir gastos e arrecadar mais. "As
medidas recentes do governo
ampliam as chances de que a
meta seja alcançada, mas não
trabalho com esse cenário."
Nova metodologia
O BC anunciou também ontem uma mudança metodológica na divulgação das contas públicas. A partir deste ano, o valor do PIB que é utilizado na
comparação com a dívida não
será mais corrigido pela inflação medida pelo IGP-DI. Será
utilizado apenas o PIB corrente, que é o resultado divulgado
pelo IBGE ou, para períodos
mais recentes, uma projeção do
BC para esse número.
A justificativa para a mudança é a estabilização da economia. Com a nova regra, a relação dívida/PIB no começo do
ano (41,7%) veio um pouco
mais alta do que ficaria se não
houvesse a mudança (41,3%).
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