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RECEITA ORTODOXA
Ata e presidente do BC reabrem discussão sobre mudar alvo
Discutir meta de inflação é "legítimo", diz Meirelles
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, considerou
"legítima" a discussão de uma
proposta apresentada ontem pelo
líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), de manter até 2006 a meta de inflação
deste ano, de 5,5%, para "maximizar as possibilidades" de crescimento econômico.
Defendida durante uma exposição de Meirelles à Comissão de
Assuntos Econômicos do Senado,
a proposta de Mercadante significaria, na prática, elevar a meta já
fixada para 2005 -um IPCA de
4,5%. Já a meta de 2006 deverá ser
definida em junho pelo CMN
(Conselho Monetário Nacional,
formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo
presidente do BC).
Divulgada poucas horas antes, a
ata de reunião da semana passada
do Copom (Comitê de Política
Monetária) informava que os diretores do BC examinaram -e
descartaram para "este instante"- a idéia de alterar as metas
para acomodar o aumento de preços do começo do ano.
Segundo a ata, os diretores e o
presidente do Banco Central reconheceram que os reajustes foram
ocasionados, principalmente, por
fatores sobre os quais os juros têm
pouco ou nenhum efeito, os chamados choques de oferta.
"Como se sabe, a teoria econômica e as melhores práticas de
condução de política monetária
recomendam a acomodação parcial de aumentos da inflação ao
consumidor provocados por choques de oferta", diz a ata.
Nesse caso, "acomodar" significa não combater os aumentos de
preços por meio de juros altos,
mas incorporar às metas parte da
variação da inflação gerada pelos
choques de oferta.
Ao se manifestarem sobre esse
assunto (pela primeira vez), os diretores do BC acabaram dando
fundamento a críticas crescentes
segundo as quais o banco estaria
usando juros para combater a "inflação errada".
"Acho que a ata abriu o caminho para mudanças na meta de
inflação nos próximos meses",
disse à Folha o economista do
Itaú e ex-diretor do BC Sérgio
Werlang, um dos pais do regime
de metas brasileiro.
Ressalvas
A admissão de Meirelles foi feita
em meio a ressalvas insistentes de
que não existe proposta "formal"
para alterar a meta de 2005.
O debate começou no Senado,
quando Mercadante disse que o
governo não pode "continuar insistindo numa desaceleração
muito brusca" da inflação.
Meirelles -que, numa sessão
de quase cinco horas, defendeu a
política econômica de críticas de
senadores aliados e oposicionistas- respondeu ao líder do governo de forma genérica: "É legítimo discutir as metas dos próximos anos, as metas de longo prazo que serão fixadas pelo CMN".
Ao final do depoimento, durante entrevista, Meirelles negou que
a idéia esteja em discussão formal.
O presidente do BC mostrou
também ressalvas pessoais à medida. "A experiência mostra que
termos metas mais elevadas não é
algo que propicie necessariamente um ganho", prosseguiu. "A
maioria dos países tem hoje metas
abaixo dessa [de 5,5%]." Meirelles
disse que a meta de longo prazo
do governo é uma inflação de 4%.
Procurada pela Folha, a assessoria do ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) informou que a
elevação das metas futuras não está em discussão no momento.
Mudança
A ata do Copom registrou que
mudanças foram adotadas em
2002, quando as metas para aquele ano e também para 2003 e 2004
foram ajustadas para cima.
No começo do ano passado, o
BC elevou novamente a meta de
2003, de 3,75% (mais 2,5 pontos
percentuais de margem de tolerância) para 8,5%, também por
conta de choques de oferta -no
caso, a disparada das cotações do
dólar e seu efeito inflacionário.
Para 2004, no entanto, a avaliação do BC é que a inflação voltou a
convergir para as metas vigentes,
o que não justificaria alterar os alvos neste momento. "O Copom
entende que as circunstâncias vigentes neste instante não recomendam a adoção de procedimentos destinados à acomodação
dos choques de oferta recentes."
A interpretação da ata preocupou Meirelles, que voltou ao tema
várias vezes na exposição aos senadores. "Em certos momentos,
determinada magnitude de choques justifica, segundo o arcabouço do regime de metas, que se
adote um mecanismo de absorção
mais prolongada", disse em entrevista após falar no Senado.
"Mas o Copom deixa bastante
clara a sua mensagem de que não
é o momento para pensar nisso,
porque não existiram choques de
magnitude que justificassem a
medida", complementou.
Meirelles também disse que a
decisão de reduzir os juros mostrou que o Copom não ficou refém da ata de janeiro, quando a
permanência dos juros foi justificada pelo risco de alta da inflação.
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