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SEM POLÊMICA
Para o Fundo, TJLP não é problema; presidente do banco estatal, Carlos Lessa, havia criticado suposta ingerência
FMI nega preocupação com juros do BNDES
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário Internacional) afirmou ontem que a
TJLP (Taxa de Juros de Longo
Prazo) no Brasil "não é uma questão problemática" e indicou que a
instituição não pretende tomar
nenhuma medida em relação ao
país por causa do assunto.
A TJLP é a taxa de juro aplicada
pelo BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) em seus empréstimos. Ela
está fixada hoje em 10% ao ano,
abaixo do juro básico do Banco
Central (16,25%) e do que é cobrado por outros bancos privados
-segundo pesquisa de fevereiro,
divulgada pelo BC nesta semana,
a taxa média de juros cobrada de
pessoas jurídicas no país é de
30,2% ao ano.
Há algumas semanas, técnicos
do Fundo estiveram no Brasil e
perguntaram a autoridades brasileiras se o uso da TJLP não poderia ser considerado um subsídio.
"Tenho conhecimento de que o
assunto ganhou um certo relevo
no Brasil. Mas a carta de intenções
[do atual acordo entre o Brasil e
Fundo] mostra que essa não é
uma questão problemática", afirmou Thomas Dawson, porta-voz
do FMI, ao ser questionado pela
Folha sobre o assunto.
"Várias questões são discutidas
nas relações normais entre o Fundo e os países, e essa questão em si
não deveria causar grande surpresa", disse Dawson. "Se você olhar
para o novo programa que está
em vigor, não há nada relativo ao
assunto nele, embora esse tipo de
coisa seja discutido entre o pessoal do Fundo e as autoridades locais. Isso não é incomum."
Questionado se, mesmo não
sendo uma "questão problemática" agora, o assunto poderia ser
tratado mais à frente como "problema", Dawson afirmou: "Discutimos a tendência das taxas de
juros em todos os países, com autoridades de governo ou pessoas
do setor privado. Como já disse,
isso não é incomum. Volto a dirigi-lo para o mesmo ponto. A
questão não está no programa, e
isso é uma indicação de como ela
vem sendo tratada".
Lessa
Na semana passada, o ministro
Guido Mantega (Planejamento)
disse que técnicos do FMI, em
missão ao país, haviam questionado o uso da TJLP nos empréstimos ao setor produtivo.
Mantega disse que o questionamento ainda não havia sido feito
oficialmente. Depois disso, o presidente do BNDES, Carlos Lessa,
criticou o FMI e afirmou que o
questionamento em relação à
TJLP poderia ser "mortal para o
desenvolvimento do sistema de
fomento e para o desenvolvimento do Brasil".
Em nota, o presidente da CNI
(Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, qualificou como "ingerência"
a opinião dos técnicos do Fundo.
"A indústria brasileira considera inaceitável qualquer ingerência
do FMI que possa produzir uma
mudança na TJLP, marca fundamental da atuação do BNDES."
A direção do BNDES estaria
procurando agora reduzir dos
atuais 10% para 9% ao ano a TJLP
a partir de abril.
Se isso ocorrer, a taxa, criada em
outubro de 1994, cairia para o seu
menor nível desde que passou a
vigorar. Mesmo assim, a TJLP
continuaria acima das expectativas de inflação do país projetadas
para os próximos 12 meses, ao redor de 5%.
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