São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Alta da Selic leva juro bancário a maior nível desde outubro de 2003, mas volume de empréstimos segue em alta

"Spread" e juros sobem, mas crédito se expande

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros cobrados nos empréstimos bancários atingiram o nível mais elevado desde outubro de 2003, segundo levantamento do Banco Central. Entre março e abril, a taxa média praticada nos financiamentos para empresas e pessoas físicas passou de 47,8% ao ano para 48,4%.
A alta se deve, em boa parte, ao aperto monetário promovido pelo BC nos últimos meses. Em setembro de 2004, quando a taxa Selic era de 16% ao ano, os juros bancários estavam em 45,1%. De lá para cá, foram nove aumentos seguidos na Selic, que hoje está em 19,75% ao ano.
A Selic remunera as operações realizadas diariamente entre BC e bancos. Serve de referência para calcular o custo que as instituições financeiras têm para captar recursos no mercado. Parte desses recursos é repassado aos clientes na forma de empréstimos.
Além da elevação da Selic, os juros subiram nos últimos meses por causa do chamado "spread" bancário -diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar dinheiro e a taxa cobrada nos financiamentos concedidos aos seus clientes. Parte desse "spread" serve para compensar os custos dos bancos -gastos com funcionários, manutenção de agências e impostos, entre outros. Outra parte compõe o lucro dos bancos.
No mês passado, dos juros médios de 48,4% ao ano cobrados pelas instituições financeiras, 29,0 pontos percentuais equivaliam ao "spread" bancário. Em setembro do ano passado, esse "spread" era de 27,7 pontos.
O "spread" varia de acordo com o tipo de empréstimo, sendo mais elevado para as pessoas físicas que para as empresas. No cheque especial, por exemplo, os juros chegaram a 147,6% ao ano no mês passado. Desse total, 129,9 pontos percentuais são de "spread".
Segundo os bancos, a inadimplência é um dos motivos que fazem os juros no cheque especial serem tão altos. Nos empréstimos a pessoas jurídicas, o "spread" é menor. No financiamento do capital de giro, por exemplo, os juros são de 40,4% ao ano, sendo que o "spread" responde por 20,8 pontos percentuais dessa taxa.
Apesar dos juros mais altos, a procura por novos empréstimos bancários continua crescendo. Entre março e abril, o volume de crédito concedido pelos bancos subiu de R$ 291,1 bilhões para R$ 299,6 bilhões, alta de 2,9%. Não estão incluídos os financiamentos como o habitacional e o rural, em que as taxas de juros são controladas pelo governo.
A maior procura por empréstimos se nota também no valor dos novos empréstimos liberados pelas instituições financeiras. No mês passado, os bancos concederam R$ 5,2 bilhões em novos créditos a cada dia útil, média 6,3% maior do que a registrada ao longo de março.
Apesar do aumento, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, afirma que, se não fosse a alta dos juros, a expansão dos empréstimos poderia ter sido maior. "Política monetária é para isso. O crédito continua crescendo, mas num ritmo menor do que era de se esperar para o atual nível de atividade", diz.
Em tese, juros mais altos servem para encarecer o crédito e desaquecer a economia -num cenário de desaceleração, o espaço para que as empresas reajustem seus preços seria menor, o que resultaria em menos inflação.
Apesar do aperto dos juros, a relação entre o crédito e o PIB (Produto Interno Bruto) se mantém em alta. No mês passado, o total de empréstimos liberados pelo sistema financeiro representava 27% de todas as riquezas produzidas pelo país.
A proporção entre crédito e PIB é a mais elevada registrada no Brasil desde maio de 2001, embora seja baixa quando comparada a outros países emergentes, onde a relação fica em torno de 70%.


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