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RECEITA ORTODOXA
Alta da Selic leva juro bancário a maior nível desde outubro de 2003, mas volume de empréstimos segue em alta
"Spread" e juros sobem, mas crédito se expande
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os juros cobrados nos empréstimos bancários atingiram o nível
mais elevado desde outubro de
2003, segundo levantamento do
Banco Central. Entre março e
abril, a taxa média praticada nos
financiamentos para empresas e
pessoas físicas passou de 47,8% ao
ano para 48,4%.
A alta se deve, em boa parte, ao
aperto monetário promovido pelo BC nos últimos meses. Em setembro de 2004, quando a taxa
Selic era de 16% ao ano, os juros
bancários estavam em 45,1%. De
lá para cá, foram nove aumentos
seguidos na Selic, que hoje está
em 19,75% ao ano.
A Selic remunera as operações
realizadas diariamente entre BC e
bancos. Serve de referência para
calcular o custo que as instituições financeiras têm para captar
recursos no mercado. Parte desses recursos é repassado aos clientes na forma de empréstimos.
Além da elevação da Selic, os juros subiram nos últimos meses
por causa do chamado "spread"
bancário -diferença entre a taxa
que os bancos pagam para captar
dinheiro e a taxa cobrada nos financiamentos concedidos aos
seus clientes. Parte desse "spread"
serve para compensar os custos
dos bancos -gastos com funcionários, manutenção de agências e
impostos, entre outros. Outra
parte compõe o lucro dos bancos.
No mês passado, dos juros médios de 48,4% ao ano cobrados
pelas instituições financeiras, 29,0
pontos percentuais equivaliam ao
"spread" bancário. Em setembro
do ano passado, esse "spread" era
de 27,7 pontos.
O "spread" varia de acordo com
o tipo de empréstimo, sendo mais
elevado para as pessoas físicas que
para as empresas. No cheque especial, por exemplo, os juros chegaram a 147,6% ao ano no mês
passado. Desse total, 129,9 pontos
percentuais são de "spread".
Segundo os bancos, a inadimplência é um dos motivos que fazem os juros no cheque especial
serem tão altos. Nos empréstimos
a pessoas jurídicas, o "spread" é
menor. No financiamento do capital de giro, por exemplo, os juros são de 40,4% ao ano, sendo
que o "spread" responde por 20,8
pontos percentuais dessa taxa.
Apesar dos juros mais altos, a
procura por novos empréstimos
bancários continua crescendo.
Entre março e abril, o volume de
crédito concedido pelos bancos
subiu de R$ 291,1 bilhões para R$
299,6 bilhões, alta de 2,9%. Não
estão incluídos os financiamentos
como o habitacional e o rural, em
que as taxas de juros são controladas pelo governo.
A maior procura por empréstimos se nota também no valor dos
novos empréstimos liberados pelas instituições financeiras. No
mês passado, os bancos concederam R$ 5,2 bilhões em novos créditos a cada dia útil, média 6,3%
maior do que a registrada ao longo de março.
Apesar do aumento, o chefe do
Departamento Econômico do BC,
Altamir Lopes, afirma que, se não
fosse a alta dos juros, a expansão
dos empréstimos poderia ter sido
maior. "Política monetária é para
isso. O crédito continua crescendo, mas num ritmo menor do que
era de se esperar para o atual nível
de atividade", diz.
Em tese, juros mais altos servem
para encarecer o crédito e desaquecer a economia -num cenário de desaceleração, o espaço para que as empresas reajustem seus
preços seria menor, o que resultaria em menos inflação.
Apesar do aperto dos juros, a relação entre o crédito e o PIB (Produto Interno Bruto) se mantém
em alta. No mês passado, o total
de empréstimos liberados pelo
sistema financeiro representava
27% de todas as riquezas produzidas pelo país.
A proporção entre crédito e PIB
é a mais elevada registrada no
Brasil desde maio de 2001, embora seja baixa quando comparada a
outros países emergentes, onde a
relação fica em torno de 70%.
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