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Brasileiro precisa é de emprego, diz economista
DA REPORTAGEM LOCAL
"Brasileiro não precisa de microcrédito, mas de emprego e de
uma economia que cresça". A frase é do economista Fernando Cardim, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Para o economista, ainda que
"possa ser interessante como política social", em termos macroeconômicos, instrumentos de estímulo ao microcrédito são inadequados.
Além disso, o economista vê
poucas chances de que os bancos
privados que atuam no Brasil se
interessem em dar crédito a clientes de baixa renda.
Leia a seguir trechos da entrevista do economista, que é especializado em macroeconomia e
também pesquisa assuntos ligados ao sistema financeiro.
Folha - O que o senhor acha de
políticas de estímulo ao microcréditos, como as anunciadas hoje pelo governo?
Fernando Cardim - Acho que esse tipo de política pode ser interessante do ponto de vista social.
Mas é inadequado do ponto de
vista macroeconômico. Permite
que potenciais microempresas
surjam, mas não traz nenhum estímulo para o aparecimento ou
expansão das empresas de porte
médio, que são as que dão emprego e contribuem para o crescimento econômico.
Folha - O senhor acredita que os
bancos brasileiros estão preparados para conceder crédito a pequenos empreendedores?
Cardim - Acho que não estão
nem preparados nem interessados. Esse tipo de cliente representa um custo operacional muito
grande para o banco. Afinal, é um
cliente que, provavelmente, usa
pouco a internet, demanda mais
atendimento físico. Ou seja, o
banco precisaria reforçar sua estrutura para poder atendê-lo.
Por outro lado, o banco não se
beneficiará disso para, por exemplo, aumentar a venda de produtos. Hoje em dia, o empréstimo
bancário acabou virando um canal para a venda de produtos, como seguros e títulos de capitalização. Dificilmente, esse tipo de
cliente de baixa renda demandará
esses produtos.
Folha - Isso significa que os bancos podem preferir deixar o dinheiro preso sob a forma de depósito
compulsório a emprestar?
Cardim - É bem possível, caso as
instituições concluam que o custo
da operação associado ao risco de
inadimplência -que, na verdade, é baixo para essa faixa de renda- será muito alto.
Por isso, microcrédito é o tipo
de política que deve ser operacionalizada pelo governo e por
ONGs (Organizações Não Governamentais). Esse é o canal que
costuma ser mais bem-sucedido.
No caso do Brasil, o governo deveria mesmo é se preocupar em
tomar medidas para a redução da
dívida pública, abrindo espaço
para que os bancos tenham de
emprestar para médias empresas,
por exemplo. Na verdade, o brasileiro não precisa de microcrédito,
mas de emprego, de uma economia que cresça.
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