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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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Brasileiro precisa é de emprego, diz economista

DA REPORTAGEM LOCAL

"Brasileiro não precisa de microcrédito, mas de emprego e de uma economia que cresça". A frase é do economista Fernando Cardim, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Para o economista, ainda que "possa ser interessante como política social", em termos macroeconômicos, instrumentos de estímulo ao microcrédito são inadequados.
Além disso, o economista vê poucas chances de que os bancos privados que atuam no Brasil se interessem em dar crédito a clientes de baixa renda.
Leia a seguir trechos da entrevista do economista, que é especializado em macroeconomia e também pesquisa assuntos ligados ao sistema financeiro.

Folha - O que o senhor acha de políticas de estímulo ao microcréditos, como as anunciadas hoje pelo governo?
Fernando Cardim -
Acho que esse tipo de política pode ser interessante do ponto de vista social. Mas é inadequado do ponto de vista macroeconômico. Permite que potenciais microempresas surjam, mas não traz nenhum estímulo para o aparecimento ou expansão das empresas de porte médio, que são as que dão emprego e contribuem para o crescimento econômico.

Folha - O senhor acredita que os bancos brasileiros estão preparados para conceder crédito a pequenos empreendedores?
Cardim -
Acho que não estão nem preparados nem interessados. Esse tipo de cliente representa um custo operacional muito grande para o banco. Afinal, é um cliente que, provavelmente, usa pouco a internet, demanda mais atendimento físico. Ou seja, o banco precisaria reforçar sua estrutura para poder atendê-lo.
Por outro lado, o banco não se beneficiará disso para, por exemplo, aumentar a venda de produtos. Hoje em dia, o empréstimo bancário acabou virando um canal para a venda de produtos, como seguros e títulos de capitalização. Dificilmente, esse tipo de cliente de baixa renda demandará esses produtos.

Folha - Isso significa que os bancos podem preferir deixar o dinheiro preso sob a forma de depósito compulsório a emprestar?
Cardim -
É bem possível, caso as instituições concluam que o custo da operação associado ao risco de inadimplência -que, na verdade, é baixo para essa faixa de renda- será muito alto.
Por isso, microcrédito é o tipo de política que deve ser operacionalizada pelo governo e por ONGs (Organizações Não Governamentais). Esse é o canal que costuma ser mais bem-sucedido.
No caso do Brasil, o governo deveria mesmo é se preocupar em tomar medidas para a redução da dívida pública, abrindo espaço para que os bancos tenham de emprestar para médias empresas, por exemplo. Na verdade, o brasileiro não precisa de microcrédito, mas de emprego, de uma economia que cresça.


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