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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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Após negociar com governo, presidente da entidade diz que compulsório será reduzido "em breve"

Febraban vê "direcionamento obrigatório"

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A linha de microempréstimos para a população de baixa renda, anunciada ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi considerada pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) como "um direcionamento obrigatório de 2% dos depósitos à vista", segundo nota oficial da entidade.
Foi uma referência à estratégia do governo de aumentar o compulsório, deixando como alternativa aos bancos que não quiserem fazer esse recolhimento destinar 2% dos depósitos à vista aos microempréstimos.
Na nota, porém, a Febraban diz apoiar as "medidas para a ampliação do crédito" anunciadas pelo governo. Segundo a entidade, "são iniciativas de cunho social que abrirão alternativas para a população de baixa renda".
Até ontem, o presidente da Febraban, Gabriel Jorge Ferreira, tentava negociar com o governo formas de compensar "perdas" que o setor teria com as medidas.
Os bancos querem que o Banco Central reduza para todas as instituições a alíquota do compulsório sobre os depósitos à vista. Isso reduziria a resistência dos bancos às medidas de ontem.
Ferreira disse à Folha acreditar que "o compulsório será reduzido em breve". Porém, se isso não ocorrer, ele admite que o "spread" (diferença entre o custo de captação de recursos dos bancos e as taxas cobradas dos clientes) sobre os empréstimo com recursos livres pode aumentar.
O que para os bancos passou como uma obrigação indigesta, para Lula é um "incentivo aos bancos" para baratear e ampliar o crédito no país, segundo afirmou ao anunciar as medidas.
O presidente disse ainda que a medida contribuirá para reduzir o "spread" bancário.
Na interpretação do economista Sérgio Werlang, diretor do banco Itaú, o pacote só reduz o "spread" nos microempréstimos. Nas outras linhas de financiamento, seu efeito poderá ser até oposto. "As demais linhas vão sofrer, pois haverá menos recursos livres para empréstimos bancários", afirmou Werlang. "As medidas não ajudam a reduzir o "spread'", disse.
Segundo Werlang, toda vez que o governo direciona recursos para crédito com uma taxa de juros máxima, beneficia o setor que receberá os recursos, mas prejudica o setor livre da área de crédito. Hoje, apenas 7% dos depósitos à vista são destinados a empréstimos livres - em que o banco tem liberdade de alocação.
O Banco Central recolhe 60% dos depósitos à vista, remunerando apenas 8% desse montante pela taxa Selic, hoje em 26% ao ano.


Colaborou Leonardo Souza, da Sucursal de Brasília


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