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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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Dinheiro pode ir para trocar dívida por dívida

ADRIANA MATTOS
FÁTIMA FERNANDES

DA REPORTAGEM LOCAL

Grande parte das pessoas interessadas em utilizar a linha de crédito anunciada ontem pelo governo deve trocar dívida por dívida. É o que acreditam, e o que aconselham, especialistas na área de consumo no país.
"Em termos de apoio à expansão da demanda, isso é uma gotinha d'água num oceano. Pois é pouco provável que o consumidor vá gastar os recursos comprando por aí. O que deve ocorrer é uma troca de dívidas", disse Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo.
Espera-se que os consumidores endividados na praça abram uma conta na Caixa Econômica Federal -em busca de financiamento a juros mais baixos- de forma que os recursos captados na instituição sejam utilizados para pagar dívidas já feitas em financeiras.
Com isso, o cliente tenta se capitalizar com recursos a taxas mais baixas para pagar débitos feitos no passado a taxas elevadas. Pela linha de crédito da Caixa, paga-se uma taxa de 2% ao mês. Nas financeiras -como Losango e Zogbi-, paga-se, em média 12,81% ao mês, segundo a Anefac, entidade da área de finanças.
Essa é a taxa de juros mais alta na modalidade de serviço bancário. A financeira tornou-se solução principal entre aqueles que não têm conta em bancos e precisam obter um financiamento.
Pelas contas da Acrefi, associação que representa as financeiras, há R$ 26,7 bilhões emprestados a pessoas físicas no país na categoria crédito pessoal. E a taxa de inadimplência média sobre essas operações tem poucas variações: estava em 7,6% no início do ano. Em abril, permaneceu em 7,5%; em maio, foi de 7,7%
A troca da dívida "cara" pela "barata" deve ocorrer porque as medidas do governo dão espaço para isso. Ao abrir uma conta bancária na Caixa, nessa categoria de conta simplificada anunciada ontem, o cliente terá acesso a um limite de crédito de até R$ 600 para gastos. Terá direito a quatro saques gratuitos (sem pagar tarifas) por mês. Com o recurso que sacar, poderá pagar as dívidas.
Isso ocorre porque o cliente poderá usar os recursos da Caixa mesmo endividado. Normalmente, isso não ocorre. Bancos e financeiras se negam a emprestar recursos para quem está muito "enforcado".

Bens duráveis
A decisão do governo, também anunciada ontem, de liberar recursos para a aquisição de bens duráveis (veículos, motos, eletrodomésticos, máquinas e equipamentos agrícolas e rodoviários) foi recebida com ressalvas. A idéia é direcionar R$ 300 milhões para consórcios para a compra de mercadorias num primeiro ano.
"Além de dinheiro, o que precisamos é de disposição política do governo em dar prioridade à produção", disse Paulo Saab, presidente da Eletros, que representa a indústria eletroeletrônica. "E não continuar jogando "ventinho" onde é preciso muito ar."
Ele acredita que a medida "é melhor do que nada", mas que terá pequeno efeito.


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