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Dinheiro pode ir para trocar dívida por dívida
ADRIANA MATTOS
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Grande parte das pessoas interessadas em utilizar a linha de crédito anunciada ontem pelo governo deve trocar dívida por dívida.
É o que acreditam, e o que aconselham, especialistas na área de consumo no país.
"Em termos de apoio à expansão da demanda, isso é uma gotinha d'água num oceano. Pois é
pouco provável que o consumidor vá gastar os recursos comprando por aí. O que deve ocorrer
é uma troca de dívidas", disse
Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo.
Espera-se que os consumidores
endividados na praça abram uma
conta na Caixa Econômica Federal -em busca de financiamento
a juros mais baixos- de forma
que os recursos captados na instituição sejam utilizados para pagar
dívidas já feitas em financeiras.
Com isso, o cliente tenta se capitalizar com recursos a taxas mais
baixas para pagar débitos feitos
no passado a taxas elevadas. Pela
linha de crédito da Caixa, paga-se
uma taxa de 2% ao mês. Nas financeiras -como Losango e
Zogbi-, paga-se, em média
12,81% ao mês, segundo a Anefac,
entidade da área de finanças.
Essa é a taxa de juros mais alta
na modalidade de serviço bancário. A financeira tornou-se solução principal entre aqueles que
não têm conta em bancos e precisam obter um financiamento.
Pelas contas da Acrefi, associação que representa as financeiras,
há R$ 26,7 bilhões emprestados a
pessoas físicas no país na categoria crédito pessoal. E a taxa de inadimplência média sobre essas
operações tem poucas variações:
estava em 7,6% no início do ano.
Em abril, permaneceu em 7,5%;
em maio, foi de 7,7%
A troca da dívida "cara" pela
"barata" deve ocorrer porque as
medidas do governo dão espaço
para isso. Ao abrir uma conta
bancária na Caixa, nessa categoria
de conta simplificada anunciada
ontem, o cliente terá acesso a um
limite de crédito de até R$ 600 para gastos. Terá direito a quatro saques gratuitos (sem pagar tarifas)
por mês. Com o recurso que sacar, poderá pagar as dívidas.
Isso ocorre porque o cliente poderá usar os recursos da Caixa
mesmo endividado. Normalmente, isso não ocorre. Bancos e financeiras se negam a emprestar
recursos para quem está muito
"enforcado".
Bens duráveis
A decisão do governo, também
anunciada ontem, de liberar recursos para a aquisição de bens
duráveis (veículos, motos, eletrodomésticos, máquinas e equipamentos agrícolas e rodoviários)
foi recebida com ressalvas. A idéia
é direcionar R$ 300 milhões para
consórcios para a compra de mercadorias num primeiro ano.
"Além de dinheiro, o que precisamos é de disposição política do
governo em dar prioridade à produção", disse Paulo Saab, presidente da Eletros, que representa a
indústria eletroeletrônica. "E não
continuar jogando "ventinho" onde é preciso muito ar."
Ele acredita que a medida "é
melhor do que nada", mas que terá pequeno efeito.
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