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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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Especialistas temem que instituições cresçam desordenadamente, quebrem e prejudiquem cooperados

Governo falha ao não fiscalizar cooperativas

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O incentivo dado pelo governo às cooperativas de crédito não veio acompanhado de um plano de fiscalização. Essa é uma das principais falhas do governo, segundo especialistas, ao anunciar o programa de estímulo às cooperativas. O temor é que elas cresçam de forma desordenada e prejudiquem os cooperados, gerando descrédito ao sistema.
"O Banco Central deveria conceder liberdade com segurança na abertura de cooperativas. Se não, o que vamos ver é a abertura e, em seguida, a quebradeira de cooperativas de crédito", diz Joel Santana, gerente de risco da LF Rating, especializada em análise de risco.
O Brasil tem cerca de 1.450 cooperativas de crédito, com patrimônio líquido total de R$ 2,8 bilhões. Cerca de 15% delas estão desenquadradas das regras do BC -encarregado de fiscalizá-las- porque emprestam mais dinheiro aos sócios do que podem, investem em bens e imóveis mais do que estão autorizadas ou estão com patrimônio líquido negativo.
"Por enquanto não vamos mexer na fiscalização, mas estamos atentos. Tudo vai depender de quantas cooperativas de crédito vão ser abertas daqui para a frente", diz Osvaldo Watanabe, chefe do Departamento de Supervisão Direta do BC. Segundo ele, a equipe de fiscalização de cooperativas é formada por cerca de 50 pessoas em todo o país. O BC não tem intenção de reforçá-la. Ao contrário, o banco quer reduzir custos.
A forma que o governo encontrou para que as cooperativas de crédito cresçam e sobrevivam, informa o BC, é exigir, por exemplo, que elas estejam ligadas a uma central (são 38 no país), que também terá a função de fiscalizá-las. Outra determinação do banco é que a cooperativa não pode emprestar muito para poucos.
As medidas anunciadas pelo governo Lula para estimular o cooperativismo não devem resultar num boom de novas cooperativas, na análise de Alcenor Pagnussatt, coordenador do conselho especializado em crédito da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). O que deve acontecer é a transformação de cooperativas fechadas -específicas de uma categoria ou de funcionários de uma empresa-, predominantes no país, para abertas. Isto é, qualquer cidadão poderá ser sócio.
Ênio Meinen, vice-presidente da Confederação de Cooperativas, ligada ao Sicredi (Sistema de Crédito Cooperativo), diz que, das 128 cooperativas do Sicredi, apenas 12 não passariam de fechadas para abertas -a maioria atende às exigências do BC para se transformar em abertas.


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