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Especialistas temem que instituições cresçam desordenadamente, quebrem e prejudiquem cooperados
Governo falha ao não fiscalizar cooperativas
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O incentivo dado pelo governo
às cooperativas de crédito não
veio acompanhado de um plano
de fiscalização. Essa é uma das
principais falhas do governo, segundo especialistas, ao anunciar o
programa de estímulo às cooperativas. O temor é que elas cresçam de forma desordenada e prejudiquem os cooperados, gerando descrédito ao sistema.
"O Banco Central deveria conceder liberdade com segurança na
abertura de cooperativas. Se não,
o que vamos ver é a abertura e, em
seguida, a quebradeira de cooperativas de crédito", diz Joel Santana, gerente de risco da LF Rating,
especializada em análise de risco.
O Brasil tem cerca de 1.450 cooperativas de crédito, com patrimônio líquido total de R$ 2,8 bilhões. Cerca de 15% delas estão
desenquadradas das regras do BC
-encarregado de fiscalizá-las-
porque emprestam mais dinheiro
aos sócios do que podem, investem em bens e imóveis mais do
que estão autorizadas ou estão
com patrimônio líquido negativo.
"Por enquanto não vamos mexer na fiscalização, mas estamos
atentos. Tudo vai depender de
quantas cooperativas de crédito
vão ser abertas daqui para a frente", diz Osvaldo Watanabe, chefe
do Departamento de Supervisão
Direta do BC. Segundo ele, a equipe de fiscalização de cooperativas
é formada por cerca de 50 pessoas
em todo o país. O BC não tem intenção de reforçá-la. Ao contrário, o banco quer reduzir custos.
A forma que o governo encontrou para que as cooperativas de
crédito cresçam e sobrevivam, informa o BC, é exigir, por exemplo,
que elas estejam ligadas a uma
central (são 38 no país), que também terá a função de fiscalizá-las.
Outra determinação do banco é
que a cooperativa não pode emprestar muito para poucos.
As medidas anunciadas pelo governo Lula para estimular o cooperativismo não devem resultar
num boom de novas cooperativas, na análise de Alcenor Pagnussatt, coordenador do conselho
especializado em crédito da OCB
(Organização das Cooperativas
Brasileiras). O que deve acontecer
é a transformação de cooperativas
fechadas -específicas de uma categoria ou de funcionários de
uma empresa-, predominantes
no país, para abertas. Isto é, qualquer cidadão poderá ser sócio.
Ênio Meinen, vice-presidente
da Confederação de Cooperativas, ligada ao Sicredi (Sistema de
Crédito Cooperativo), diz que,
das 128 cooperativas do Sicredi,
apenas 12 não passariam de fechadas para abertas -a maioria
atende às exigências do BC para se
transformar em abertas.
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