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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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GREENSPAN CONTRA-ATACA

Banco central norte-americano reduz a taxa para 1% ao ano, o menor patamar desde 1958

Risco de deflação faz Fed cortar os juros

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O Federal Reserve (banco central dos EUA) baixou ontem para 1% ao ano o juro básico da economia americana. A decisão pelo corte, de 0,25 ponto percentual, só não foi unânime porque um dos 12 membros do comitê de política monetária queria uma queda maior, de 0,5 ponto.
A medida, segundo o relatório do Fed, teve dois objetivos: estimular a economia e combater a ameaça de deflação nos EUA.
Foi a primeira redução na taxa desde novembro passado e a 13ª redução desde janeiro de 2001, quando os juros estavam em 6,5% ao ano e o presidente do Fed, Alan Greenspan, alertou para a necessidade de combater os efeitos do estouro da ""bolha" especulativa.
Com a taxa em seu menor patamar desde 1958 e a inflação próxima a 1% ao ano, a economia americana trabalha hoje, na prática, com um juro real próximo a zero.
A nota do Fed demonstra um otimismo contido em relação à recuperação econômica e enfatiza a necessidade de combater a ameaça de deflação (leia ao lado).
"Sinais recentes apontam para gastos mais firmes, melhora nas condições financeiras e estabilização nos mercados de consumo e trabalho. A economia, no entanto, ainda precisa exibir um crescimento sustentável", diz o documento do Fed.
A economia americana cresceu a uma taxa anualizada de 1,9% entre janeiro e março deste ano. As expectativas para o segundo trimestre também não passam de 2%. Mas muitos economistas acreditam que já há sinais de recuperação no horizonte e vislumbram um crescimento anualizado próximo a 4% no final do ano.
Até aqui, um dos principais indicadores da Bolsa de Nova York, o índice Standard & Poor's 500, acumula alta de 21% no ano e já haveria uma tendência de desaceleração no ritmo da taxa de desemprego no país, hoje em 6,1% (o maior nível em nove anos).
Ontem, depois da decisão do Federal Reserve, o índice S&P fechou em queda de 0,83%. Operadores justificaram a baixa afirmando que esperavam um corte no juros de 0,5 ponto percentual, e não de 0,25.
"A decisão do Fed é uma tentativa de demonstrar ao público que as coisas não ficarão piores. Mas o objetivo principal é estancar a ameaça de deflação", disse à Folha Sidney Weintraub, diretor do departamento de economia global do Centro Internacional de Estudos Estratégicos.
A deflação é um fenômeno típico de economias estagnadas e surge quando os preços caem de forma generalizada. Quando ela ocorre, empresas têm mais dificuldades em fazer caixa para pagar débitos e dar aumentos salariais, o que acaba tendo impacto, da mesma forma, entre as pessoas físicas e suas dívidas.

Preços em queda
Nos últimos sete anos, a inflação americana vinha sem mantendo na faixa de 2% a 3% ao ano. A partir de outubro passado, caiu para perto de 1%, mantendo tendência de baixa desde então.
A próxima reunião do Federal Reserve ocorre no dia 12 de agosto, e não está descartado um novo corte de 0,25 ponto caso a recuperação continue lenta, e a ameaça de deflação, presente.


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