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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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Medida deve reviver debate sobre adoção de mecanismo no Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

A adoção de controle de capitais pela Argentina deverá, na opinião de especialistas, ressuscitar o debate que ocorreu recentemente sobre o assunto no Brasil. Dependendo da eficácia do mecanismo no país vizinho, pode aumentar a pressão para que o governo brasileiro siga os mesmos passos.
Defensores do controle de capitais, como o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, uma de suas principais vantagens é impedir que uma economia emergente sofra os efeitos das chamadas "reversões bruscas de fluxos de capitais", que levaram, nos últimos anos, países como o Brasil a amargar fortes crises financeiras.
Na opinião de Belluzzo, o Brasil também deveria adotar algum mecanismo desse tipo.
O economista Alexandre Schwartsman também acredita que o controle de capitais possa evitar que uma moeda sofra valorização excessiva com impacto negativo, por exemplo, sobre a balança comercial. Sua ressalva é que, com o tempo, os investidores podem acabar encontrando maneiras de driblar o mecanismo.
Ao contrário de Belluzzo, Schwartsman não acredita que o Brasil deva seguir o exemplo da Argentina, principalmente porque uma desvalorização forçada do real pressionaria a inflação.
"A situação da Argentina é diferente da nossa. Lá a inflação acabou não dando sinal de vida. Chegou a disparar, mas parou muito rapidamente. Talvez, por isso, eles se sintam mais confortáveis para evitar uma valorização excessiva do peso", diz Schwartsman, que é economista-chefe do Unibanco.
No entanto, para o economista, é provável que a adoção de controle de capitais pela Argentina fomente um forte debate sobre o assunto no Brasil.
"Acho que a adoção desse tipo de mecanismo pelo Brasil num momento como o atual seria um erro porque um câmbio mais desvalorizado aqui pressionaria a inflação", afirma.

Debate
Na verdade, muito recentemente, o tema "controle de capitais" foi alvo de intenso debate entre economistas e representantes do governo no país. A discussão surgiu pelo mesmo motivo que está levando à adoção de controles pela Argentina: valorização excessiva do câmbio.
No Brasil, assim como no vizinho, segundo especialistas, boa parte da valorização cambial recente é causada pela entrada de capitais de curto prazo. Além da preocupação com efeitos negativos sobre a balança comercial, há também quem tema a inversão repentina do fluxo -como houve em 98, quando o país sofreu crise que levou à desvalorização cambial, em janeiro do ano seguinte.
Mas esse debate não se limita aos meios políticos e acadêmicos da América Latina. Ao contrário, até ícones da ortodoxia mundial, como a revista britânica "The Economist" e o economista John Williamson -pai do receituário liberal conhecido como Consenso de Washington-, vieram a público recentemente retificar sua antiga posição contrária à intervenção e aos controles de capital.
O debate deve se manter em evidência enquanto persistir a impressionante tendência de volta de capitais especulativos para países emergentes. O que, considerando o novo corte de juros anunciado ontem nos Estados Unidos, tende a continuar.
(ÉRICA FRAGA)


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