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Medida deve reviver debate sobre
adoção de mecanismo no Brasil
DA REPORTAGEM LOCAL
A adoção de controle de capitais pela Argentina deverá, na opinião de especialistas, ressuscitar o
debate que ocorreu recentemente
sobre o assunto no Brasil. Dependendo da eficácia do mecanismo
no país vizinho, pode aumentar a
pressão para que o governo brasileiro siga os mesmos passos.
Defensores do controle de capitais, como o economista Luiz
Gonzaga Belluzzo, da Unicamp,
uma de suas principais vantagens
é impedir que uma economia
emergente sofra os efeitos das
chamadas "reversões bruscas de
fluxos de capitais", que levaram,
nos últimos anos, países como o
Brasil a amargar fortes crises financeiras.
Na opinião de Belluzzo, o Brasil
também deveria adotar algum
mecanismo desse tipo.
O economista Alexandre
Schwartsman também acredita
que o controle de capitais possa
evitar que uma moeda sofra valorização excessiva com impacto
negativo, por exemplo, sobre a
balança comercial. Sua ressalva é
que, com o tempo, os investidores
podem acabar encontrando maneiras de driblar o mecanismo.
Ao contrário de Belluzzo,
Schwartsman não acredita que o
Brasil deva seguir o exemplo da
Argentina, principalmente porque uma desvalorização forçada
do real pressionaria a inflação.
"A situação da Argentina é diferente da nossa. Lá a inflação acabou não dando sinal de vida. Chegou a disparar, mas parou muito
rapidamente. Talvez, por isso, eles
se sintam mais confortáveis para
evitar uma valorização excessiva
do peso", diz Schwartsman, que é
economista-chefe do Unibanco.
No entanto, para o economista,
é provável que a adoção de controle de capitais pela Argentina
fomente um forte debate sobre o
assunto no Brasil.
"Acho que a adoção desse tipo
de mecanismo pelo Brasil num
momento como o atual seria um
erro porque um câmbio mais desvalorizado aqui pressionaria a inflação", afirma.
Debate
Na verdade, muito recentemente, o tema "controle de capitais"
foi alvo de intenso debate entre
economistas e representantes do
governo no país. A discussão surgiu pelo mesmo motivo que está
levando à adoção de controles pela Argentina: valorização excessiva do câmbio.
No Brasil, assim como no vizinho, segundo especialistas, boa
parte da valorização cambial recente é causada pela entrada de
capitais de curto prazo. Além da
preocupação com efeitos negativos sobre a balança comercial, há
também quem tema a inversão
repentina do fluxo -como houve
em 98, quando o país sofreu crise
que levou à desvalorização cambial, em janeiro do ano seguinte.
Mas esse debate não se limita
aos meios políticos e acadêmicos
da América Latina. Ao contrário,
até ícones da ortodoxia mundial,
como a revista britânica "The
Economist" e o economista John
Williamson -pai do receituário
liberal conhecido como Consenso
de Washington-, vieram a público recentemente retificar sua
antiga posição contrária à intervenção e aos controles de capital.
O debate deve se manter em evidência enquanto persistir a impressionante tendência de volta
de capitais especulativos para países emergentes. O que, considerando o novo corte de juros anunciado ontem nos Estados Unidos,
tende a continuar.
(ÉRICA FRAGA)
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