São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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EM TRANSE

Onda de boatos pressiona cotação da moeda dos Estados Unidos

Dólar fica boa parte do dia em R$ 3, mas fecha em R$ 2,995

Tuca Vieira/Folha Imagem
Santinhos na mesa de operador de câmbio em escritório de corretora de São Paulo; novo recorde


ANA PAULA RAGAZZI
FABRICIO VIEIRA

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma onda de boatos políticos e econômicos levou o dólar a superar os R$ 3 ontem. A moeda norte-americana foi negociada na maior parte do dia acima deste patamar, mas fechou a R$ 2,995, alta de 1,66%. Pela quarta vez consecutiva, o dólar atingiu cotação recorde do real.
O risco-país brasileiro, medido pelo JP Morgan, também bateu recorde e fechou em 1849 pontos, com valorização de 5,6%.
O mercado voltou a especular com resultados de pesquisas eleitorais. Na noite de ontem seria divulgada sondagem realizada pelo Ibope. No auge da boataria, o mercado chegou a cogitar que o candidato do governo, José Serra (PSDB), teria caído para o quarto lugar. Além disso a pesquisa confirmaria números do Vox Populi, divulgados no início da semana, de que Ciro Gomes (PPS) teria superado Serra em até 14 pontos. Outros falavam que Ciro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estariam empatados tecnicamente e, num eventual confronto entre os dois no segundo turno, Ciro venceria por uma diferença de sete pontos percentuais.
A perspectiva de ida de dois candidatos da oposição para o segundo turno levou o mercado a falar também na possibilidade de o BC decidir centralizar o câmbio.
O mercado alega que as propostas de Ciro ainda não são claras. Ontem, por exemplo, o mercado também reagiu a informações de que Ciro seria mais rigoroso no controle de envio de dinheiro para fora do país via CC-5, que são contas de pessoas ou empresas residentes ou instaladas no exterior. Ele teria dito que o mecanismo é uma "farra" de remessas ilegais.
A crise externa também continuou a pesar. As Bolsas internacionais tiveram mais um dia difícil, com fortes perdas para os investidores. "Muito desse dinheiro que está sendo perdido lá fora viria para os emergentes", diz João Medeiros, da corretora Pionner.
A aversão ao risco, diante da crise de credibilidade internacional, faz com que investidores queiram se desfazer de papéis de emergentes . A instabilidade eleitoral piora a avaliação brasileira. O resultado foi a queda de 2,1% dos C-Bonds, principais títulos da dívida brasileira negociados no exterior, que fecharam a US$ 0,58. Os C-Bonds chegaram a cair bem mais, cerca de 4,5%, momento em que o BC teria comprado esses títulos para evitar uma queda ainda maior.
No fim da tarde, quando o dólar operava perto de sua máxima (R$ 3,031), a cotação começou a reduzir a alta. Nesse momento, o mercado cogitava que um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) estaria praticamente concluído e envolveria R$ 20 bilhões. Por esse horário, o BC também vendeu sua ração diária de US$ 50 milhões ao mercado.
"A única coisa que pode acalmar e modificar a tendência pessimista do mercado hoje seria uma notícia forte, como mais dinheiro vindo do FMI", afirma Helio Osaki, analista da Finambras. "Qualquer outra notícia poderia provocar uma melhora, mas ela seria pontual."
Um forte indicativo do grande nervosismo é o fato de que, há dias, a cotação do dólar no mercado futuro se mantém abaixo da do mercado à vista. Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), o dólar fechou a R$ 2,988 no contrato que vence em agosto.
Isso mostra que os investidores preferem ter a moeda norte-americana em mãos, não há a busca de proteção cambial com operações de "hedge" no mercado futuro.
Ou seja, ninguém quer arriscar previsões e pagar pra ver o que irá acontecer com a cotação do dólar no futuro.



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