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EM TRANSE
Onda de boatos pressiona cotação da moeda dos Estados Unidos
Dólar fica boa parte do dia em R$ 3, mas fecha em R$ 2,995
Tuca Vieira/Folha Imagem
![](../images/b2607200201.jpg) |
Santinhos na mesa de operador de câmbio em escritório de corretora de São Paulo; novo recorde |
ANA PAULA RAGAZZI
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma onda de boatos políticos e
econômicos levou o dólar a superar os R$ 3 ontem. A moeda norte-americana foi negociada na
maior parte do dia acima deste
patamar, mas fechou a R$ 2,995,
alta de 1,66%. Pela quarta vez consecutiva, o dólar atingiu cotação
recorde do real.
O risco-país brasileiro, medido
pelo JP Morgan, também bateu
recorde e fechou em 1849 pontos,
com valorização de 5,6%.
O mercado voltou a especular
com resultados de pesquisas eleitorais. Na noite de ontem seria divulgada sondagem realizada pelo
Ibope. No auge da boataria, o
mercado chegou a cogitar que o
candidato do governo, José Serra
(PSDB), teria caído para o quarto
lugar. Além disso a pesquisa confirmaria números do Vox Populi,
divulgados no início da semana,
de que Ciro Gomes (PPS) teria superado Serra em até 14 pontos.
Outros falavam que Ciro e Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) estariam
empatados tecnicamente e, num
eventual confronto entre os dois
no segundo turno, Ciro venceria
por uma diferença de sete pontos
percentuais.
A perspectiva de ida de dois
candidatos da oposição para o segundo turno levou o mercado a
falar também na possibilidade de
o BC decidir centralizar o câmbio.
O mercado alega que as propostas de Ciro ainda não são claras.
Ontem, por exemplo, o mercado
também reagiu a informações de
que Ciro seria mais rigoroso no
controle de envio de dinheiro para fora do país via CC-5, que são
contas de pessoas ou empresas residentes ou instaladas no exterior.
Ele teria dito que o mecanismo é
uma "farra" de remessas ilegais.
A crise externa também continuou a pesar. As Bolsas internacionais tiveram mais um dia difícil, com fortes perdas para os investidores. "Muito desse dinheiro
que está sendo perdido lá fora viria para os emergentes", diz João
Medeiros, da corretora Pionner.
A aversão ao risco, diante da crise de credibilidade internacional,
faz com que investidores queiram
se desfazer de papéis de emergentes . A instabilidade eleitoral piora
a avaliação brasileira. O resultado
foi a queda de 2,1% dos C-Bonds,
principais títulos da dívida brasileira negociados no exterior, que
fecharam a US$ 0,58. Os C-Bonds
chegaram a cair bem mais, cerca
de 4,5%, momento em que o BC
teria comprado esses títulos para
evitar uma queda ainda maior.
No fim da tarde, quando o dólar
operava perto de sua máxima (R$
3,031), a cotação começou a reduzir a alta. Nesse momento, o mercado cogitava que um acordo
com o FMI (Fundo Monetário Internacional) estaria praticamente
concluído e envolveria R$ 20 bilhões. Por esse horário, o BC também vendeu sua ração diária de
US$ 50 milhões ao mercado.
"A única coisa que pode acalmar e modificar a tendência pessimista do mercado hoje seria
uma notícia forte, como mais dinheiro vindo do FMI", afirma Helio Osaki, analista da Finambras.
"Qualquer outra notícia poderia
provocar uma melhora, mas ela
seria pontual."
Um forte indicativo do grande
nervosismo é o fato de que, há
dias, a cotação do dólar no mercado futuro se mantém abaixo da do
mercado à vista. Na BM&F (Bolsa
de Mercadorias & Futuros), o dólar fechou a R$ 2,988 no contrato
que vence em agosto.
Isso mostra que os investidores
preferem ter a moeda norte-americana em mãos, não há a busca
de proteção cambial com operações de "hedge" no mercado futuro.
Ou seja, ninguém quer arriscar previsões e pagar pra ver o que irá
acontecer com a cotação do dólar no futuro.
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