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LUÍS NASSIF
O Ptax e o câmbio
A alta do dólar na terça-feira trouxe inúmeros prejuízos ao país. O primeiro, o aumento da ansiedade no mercado. O segundo, o fato de a cotação servir de base para a formação do Ptax -a "moeda" que baliza o valor dos títulos cambiais. A alta de 6,1% trouxe impacto equivalente sobre US$ 1,5 bilhão que venceu ontem e sobre todo o estoque da dívida cambial.
O terceiro prejuízo é que o movimento especulativo acabou com a estabilidade de duas semanas nas taxas de ACC (Adiantamentos de Contratos de Câmbio), que vinham oscilando entre 5% e 13% ao ano. A especulação tirou a referência
do mercado e paralisou as operações com base na resolução nš 63, por falta de parâmetro de preço.
O Banco Central deveria ter
interferido ou não no mercado?
Em circunstâncias normais,
com a volatilidade que caracteriza períodos eleitorais, não é
prudente gastar dólares para
brigar com o mercado.
Na terça-feira havia uma conjugação de circunstâncias que
obrigava a essa interferência.
Uma delas, a já mencionada
formação do Ptax. A outra, a divulgação de pesquisas eleitorais.
A terceira, a informação -que
já era de conhecimento do BC-
do vencimento de US$ 650 milhões de eurobônus de um banco espanhol, que não foram rolados.
Aliás, é curioso que a banca
espanhola, a maior interessada
na estabilização da economia
brasileira, por ser a mais afetada por uma crise de liquidez, recentemente tenha organizado
encontros de Armínio Fraga
(presidente do BC) e Pedro Malan (ministro da Fazenda) com
a banca internacional, visando
acalmar os mercados, e tenha
procedido dessa maneira.
Armínio sustenta que o BC
tem feito diariamente o pente-fino para identificar movimentos especulativos. Considera que
o vencimento do eurobônus não
pressionou o mercado, devido
ao fato de, em vencimentos dessa ordem, as compras serem feitas de maneira picada.
Sustenta que a intervenção do
BC no mercado foi muito maior
do que nos dias anteriores, mas
que havia fatos que impediam a
estabilização da moeda. Mencionada a questão da guerra entre os Estados Unidos e o Iraque,
e nada mais diz. Mas fica subentendido que foram as pesquisas
eleitorais.
Os demais argumentos invocados -como o fato de o BC
não ter rolado as cambiais que
venciam- são irrelevantes, diz
Armínio. Na própria nota do BC
sobre a não-rolagem das cambiais está explicado o motivo da
não-rolagem: não havia demanda. De qualquer modo, no
próprio mercado surgiram críticas ferozes contra os especuladores que se aproveitaram do momento para obter vantagem.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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