São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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LUÍS NASSIF

O Ptax e o câmbio

A alta do dólar na terça-feira trouxe inúmeros prejuízos ao país. O primeiro, o aumento da ansiedade no mercado. O segundo, o fato de a cotação servir de base para a formação do Ptax -a "moeda" que baliza o valor dos títulos cambiais. A alta de 6,1% trouxe impacto equivalente sobre US$ 1,5 bilhão que venceu ontem e sobre todo o estoque da dívida cambial.
O terceiro prejuízo é que o movimento especulativo acabou com a estabilidade de duas semanas nas taxas de ACC (Adiantamentos de Contratos de Câmbio), que vinham oscilando entre 5% e 13% ao ano. A especulação tirou a referência do mercado e paralisou as operações com base na resolução nš 63, por falta de parâmetro de preço.
O Banco Central deveria ter interferido ou não no mercado? Em circunstâncias normais, com a volatilidade que caracteriza períodos eleitorais, não é prudente gastar dólares para brigar com o mercado.
Na terça-feira havia uma conjugação de circunstâncias que obrigava a essa interferência. Uma delas, a já mencionada formação do Ptax. A outra, a divulgação de pesquisas eleitorais. A terceira, a informação -que já era de conhecimento do BC- do vencimento de US$ 650 milhões de eurobônus de um banco espanhol, que não foram rolados.
Aliás, é curioso que a banca espanhola, a maior interessada na estabilização da economia brasileira, por ser a mais afetada por uma crise de liquidez, recentemente tenha organizado encontros de Armínio Fraga (presidente do BC) e Pedro Malan (ministro da Fazenda) com a banca internacional, visando acalmar os mercados, e tenha procedido dessa maneira.
Armínio sustenta que o BC tem feito diariamente o pente-fino para identificar movimentos especulativos. Considera que o vencimento do eurobônus não pressionou o mercado, devido ao fato de, em vencimentos dessa ordem, as compras serem feitas de maneira picada.
Sustenta que a intervenção do BC no mercado foi muito maior do que nos dias anteriores, mas que havia fatos que impediam a estabilização da moeda. Mencionada a questão da guerra entre os Estados Unidos e o Iraque, e nada mais diz. Mas fica subentendido que foram as pesquisas eleitorais.
Os demais argumentos invocados -como o fato de o BC não ter rolado as cambiais que venciam- são irrelevantes, diz Armínio. Na própria nota do BC sobre a não-rolagem das cambiais está explicado o motivo da não-rolagem: não havia demanda. De qualquer modo, no próprio mercado surgiram críticas ferozes contra os especuladores que se aproveitaram do momento para obter vantagem.

E-mail - lnassif@uol.com.br


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