São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUNDO EM TRANSE

Para avaliação do próprio FMI, Fundo faz exigências demais

Hábito de ir ao FMI danifica política econômica, diz FMI

DE WASHINGTON

Ir ao FMI faz mal à saúde. Ou, pelo menos, ficar muito tempo sob a tutela das políticas do Fundo prejudica a qualidade e a força da política econômica de um país.
Esse alerta, divulgado ontem em Washington, não partiu de grupos antiglobalização nem de consta de manifesto de partidos de esquerda. Foi produzido pelo "Escritório de Avaliação Independente", uma equipe do próprio FMI (Fundo Monetário Internacional) encarregada de analisar o resultado dos programas do Fundo em alguns países.
Numa iniciativa que é comum a suas atividades, o escritório decidiu estudar a economia de países que estiveram constantemente sob programas do Fundo desde 1971 - os chamados "utilizadores frequentes de recursos do FMI".
As conclusões são surpreendentes: esses países foram obrigados a sofrer uma influência excessiva do FMI em suas políticas; foram obrigados a arcar com um número exagerado de condições e exigências; tiveram de obedecer a funcionários do fundo com pouco conhecimento político; suas economias foram julgadas pelo FMI com base numa mistura confusa de critérios, técnicos e políticos.

FMI impõe demais, diz FMI
"O FMI deveria evitar a imposição de um número excessivo de condições", diz o relatório, divulgado ontem pelo próprio FMI. "O uso frequente de recursos dá ao FMI uma presença excessiva na formulação de diretrizes, o que inibe o desenvolvimento de uma política doméstica robusta."
Segundo o relatório, os programas do FMI deveriam ser mais "seletivos", deveriam centrar-se em elementos-chave da economia e "o FMI deveria evitar a imposição de um número excessivo de condições."
A lista de países que usaram dinheiro do Fundo por períodos excessivos é encabeçada pelas Filipinas, que passou 25 dos últimos 29 anos sob programas do FMI. A Argentina, atualmente na pior crise econômica de sua história, passou 16,4 anos dos últimos 25 anos atrelada a ajustes do FMI. A Turquia, 9,7 anos.

O caso brasileiro
Embora o Brasil tenha programas com o FMI desde 1998, o escritório de avaliação independente do FMI excluiu o país da lista porque ele escapa do critério escolhido: estar sob um programa do FMI ao menos em sete dos últimos dez anos.
O relatório foi discutido pela diretoria-executiva do FMI no último dia 20. Os diretores do Fundo disseram que algumas das recomendações já vinham sendo seguidas pela instituição -como a redução no número de condições- e prometeram criar um segundo grupo para estudar as recomendações do primeiro.
(MARCIO AITH)


Texto Anterior: Luís Nassif: O Ptax e o câmbio
Próximo Texto: Relatório prevê queda no PIB da América Latina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.