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FUNDO EM TRANSE
Para avaliação do próprio FMI, Fundo faz exigências demais
Hábito de ir ao FMI danifica política econômica, diz FMI
DE WASHINGTON
Ir ao FMI faz mal à saúde. Ou,
pelo menos, ficar muito tempo
sob a tutela das políticas do Fundo prejudica a qualidade e a força
da política econômica de um país.
Esse alerta, divulgado ontem
em Washington, não partiu de
grupos antiglobalização nem de
consta de manifesto de partidos
de esquerda. Foi produzido pelo
"Escritório de Avaliação Independente", uma equipe do próprio
FMI (Fundo Monetário Internacional) encarregada de analisar o
resultado dos programas do Fundo em alguns países.
Numa iniciativa que é comum a
suas atividades, o escritório decidiu estudar a economia de países
que estiveram constantemente
sob programas do Fundo desde
1971 - os chamados "utilizadores frequentes de recursos do
FMI".
As conclusões são surpreendentes: esses países foram obrigados a
sofrer uma influência excessiva
do FMI em suas políticas; foram
obrigados a arcar com um número exagerado de condições e exigências; tiveram de obedecer a
funcionários do fundo com pouco conhecimento político; suas
economias foram julgadas pelo
FMI com base numa mistura confusa de critérios, técnicos e políticos.
FMI impõe demais, diz FMI
"O FMI deveria evitar a imposição de um número excessivo de
condições", diz o relatório, divulgado ontem pelo próprio FMI. "O
uso frequente de recursos dá ao
FMI uma presença excessiva na
formulação de diretrizes, o que
inibe o desenvolvimento de uma
política doméstica robusta."
Segundo o relatório, os programas do FMI deveriam ser mais
"seletivos", deveriam centrar-se
em elementos-chave da economia e "o FMI deveria evitar a imposição de um número excessivo
de condições."
A lista de países que usaram dinheiro do Fundo por períodos excessivos é encabeçada pelas Filipinas, que passou 25 dos últimos 29 anos sob programas do FMI. A Argentina, atualmente na pior crise econômica de sua história,
passou 16,4 anos dos últimos 25 anos atrelada a ajustes do FMI. A Turquia, 9,7 anos.
O caso brasileiro
Embora o Brasil tenha programas com o FMI desde 1998, o escritório de avaliação independente do FMI excluiu o país da lista porque ele escapa do critério escolhido: estar sob um programa do FMI ao menos em sete dos últimos dez anos.
O relatório foi discutido pela diretoria-executiva do FMI no último dia 20. Os diretores do Fundo disseram que algumas das recomendações já vinham sendo seguidas pela instituição -como a redução no número de condições- e prometeram criar um segundo grupo para estudar as recomendações do primeiro.
(MARCIO AITH)
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