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AJUDA EXTERNA
Idéia é emitir bônus de governos latino-americanos, parcialmente garantidos por organismos internacionais
Setor privado é chamado a colaborar
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
A mais recente idéia que está
sendo discutida para fechar o pacote internacional de ajuda à
América Latina (particularmente
ao Brasil) prevê a emissão de bônus por parte dos governos latino-americanos parcialmente garantidos por organismos multilaterais como o Bird (Banco Mundial) e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Seria essa a fórmula para envolver o setor privado no socorro, já
que este é que compraria os papéis
a serem emitidos pelos governos.
A informação foi dada ontem
pelo jornal norte-americano "The
Wall Street Journal" e confirmada
pela Folha junto ao Banco Mundial. Mas tanto o Bird como o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
dizem que nada, até agora, está
formalizado.
Tanto é assim que o chamado
"fundo de contingência" pedido
pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em seu pronunciamento de quarta-feira nem sequer
figura oficialmente na agenda da
reunião anual do FMI, que começa na próxima semana em Washington.
"Cheque especial"
Nada impede, em todo caso, que
venha a entrar na agenda a partir
da chegada do ministro brasileiro
da Fazenda, Pedro Malan, à capital norte-americana.
O "fundo de contingência" seria uma espécie de "cheque especial" que os organismos internacionais mais os governos dos países ricos deixariam à disposição
dos países latino-americanos, que
só sacariam os fundos disponíveis
se necessitassem.
A idéia não agrada ao FMI, a menos que o fundo especial siga as
regras habituais do Fundo para a
concessão de empréstimos a seus
países-membros. Ou seja, entre
outras coisas, um acordo que preveja metas "fortes e críveis" de
ajuste fiscal, tal como anunciou
publicamente o diretor-gerente do
FMI, Michel Camdessus.
Mesmo que o setor privado se
disponha a colaborar para a montagem do pacote de socorro à
América Latina, esse tipo de exigências continuaria valendo.
De todo modo, o jornal britânico "Financial Times" informou
ontem que o vice-diretor-gerente
do FMI, Stanley Fischer, vem
mantendo há duas semanas encontros com banqueiros de Londres e Nova York, em busca de
respaldo para o pacote.
Ajuda espanhola
Na área governamental, ontem
foi a vez de a Espanha oferecer-se
para contribuir (com o equivalente a US$ 5 bilhões) para o pacote
de socorro aos países da América
Latina.
Seu ministro da Economia, Rodrigo Rato, pedirá aos demais ministros de Economia da União Européia que também colaborem na
ajuda.
Em carta a seus colegas e também ao secretário norte-americano do Tesouro, Robert Rubin, e a
Camdessus, do FMI, Rato diz que
"na atual situação de instabilidade nos mercados financeiros e de
crise em muitos países emergentes, a comunidade internacional e
a União Européia devem garantir
que as instituições financeiras internacionais contem com recursos
suficientes para satisfazer as necessidades dos países com problemas".
É uma alusão velada ao fato de
que o FMI, normalmente a instituição que financia países em dificuldades, está com seus cofres
bastante esvaziados, como consequência dos pacotes de ajuda à
Ásia e à Rússia.
Essa é, também, a razão pela
qual se tenta envolver o setor privado na ajuda à América Latina.
Se este resolver participar, não é
difícil antecipar quais seriam as
condições que imporia. Na semana passada, o Instituto de Finança
Internacional, que reúne os grandes bancos privados, emitiu comunicado no qual sugere aos países ditos emergentes que reduzam
o desequilíbrio fiscal, implementem políticas monetárias sadias
(ou seja, juros compatíveis com as
necessidades do setor produtivo) e
"mantenham taxas de câmbio
apropriadas" (no caso do real, a
moeda brasileira está sabidamente
sobrevalorizada).
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