São Paulo, sábado, 26 de setembro de 1998

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AJUDA EXTERNA
Idéia é emitir bônus de governos latino-americanos, parcialmente garantidos por organismos internacionais
Setor privado é chamado a colaborar

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

A mais recente idéia que está sendo discutida para fechar o pacote internacional de ajuda à América Latina (particularmente ao Brasil) prevê a emissão de bônus por parte dos governos latino-americanos parcialmente garantidos por organismos multilaterais como o Bird (Banco Mundial) e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Seria essa a fórmula para envolver o setor privado no socorro, já que este é que compraria os papéis a serem emitidos pelos governos.
A informação foi dada ontem pelo jornal norte-americano "The Wall Street Journal" e confirmada pela Folha junto ao Banco Mundial. Mas tanto o Bird como o FMI (Fundo Monetário Internacional) dizem que nada, até agora, está formalizado.
Tanto é assim que o chamado "fundo de contingência" pedido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em seu pronunciamento de quarta-feira nem sequer figura oficialmente na agenda da reunião anual do FMI, que começa na próxima semana em Washington.

"Cheque especial"
Nada impede, em todo caso, que venha a entrar na agenda a partir da chegada do ministro brasileiro da Fazenda, Pedro Malan, à capital norte-americana.
O "fundo de contingência" seria uma espécie de "cheque especial" que os organismos internacionais mais os governos dos países ricos deixariam à disposição dos países latino-americanos, que só sacariam os fundos disponíveis se necessitassem.
A idéia não agrada ao FMI, a menos que o fundo especial siga as regras habituais do Fundo para a concessão de empréstimos a seus países-membros. Ou seja, entre outras coisas, um acordo que preveja metas "fortes e críveis" de ajuste fiscal, tal como anunciou publicamente o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus.
Mesmo que o setor privado se disponha a colaborar para a montagem do pacote de socorro à América Latina, esse tipo de exigências continuaria valendo.
De todo modo, o jornal britânico "Financial Times" informou ontem que o vice-diretor-gerente do FMI, Stanley Fischer, vem mantendo há duas semanas encontros com banqueiros de Londres e Nova York, em busca de respaldo para o pacote.

Ajuda espanhola
Na área governamental, ontem foi a vez de a Espanha oferecer-se para contribuir (com o equivalente a US$ 5 bilhões) para o pacote de socorro aos países da América Latina.
Seu ministro da Economia, Rodrigo Rato, pedirá aos demais ministros de Economia da União Européia que também colaborem na ajuda.
Em carta a seus colegas e também ao secretário norte-americano do Tesouro, Robert Rubin, e a Camdessus, do FMI, Rato diz que "na atual situação de instabilidade nos mercados financeiros e de crise em muitos países emergentes, a comunidade internacional e a União Européia devem garantir que as instituições financeiras internacionais contem com recursos suficientes para satisfazer as necessidades dos países com problemas".
É uma alusão velada ao fato de que o FMI, normalmente a instituição que financia países em dificuldades, está com seus cofres bastante esvaziados, como consequência dos pacotes de ajuda à Ásia e à Rússia.
Essa é, também, a razão pela qual se tenta envolver o setor privado na ajuda à América Latina.
Se este resolver participar, não é difícil antecipar quais seriam as condições que imporia. Na semana passada, o Instituto de Finança Internacional, que reúne os grandes bancos privados, emitiu comunicado no qual sugere aos países ditos emergentes que reduzam o desequilíbrio fiscal, implementem políticas monetárias sadias (ou seja, juros compatíveis com as necessidades do setor produtivo) e "mantenham taxas de câmbio apropriadas" (no caso do real, a moeda brasileira está sabidamente sobrevalorizada).



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