São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2005

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Sucessor de Greenspan deve se manter mais longe da política

LOUIS UCHITELLE
EDUARDO PORTER
DO "NEW YORK TIMES"

Mesmo antes de o presidente Bush apontar Ben S. Bernanke para a chefia do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, o economista estava decidido a arriscar. Vendeu sua casa em Nova Jersey no ano passado e informou aos colegas que, em vez de retornar ao posto de professor da Universidade Princeton, estava apostando que o presidente Bush o elevaria da obscuridade, como membro do conselho do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), a uma das mais importantes posições políticas do país.
A aposta teve bons resultados. Caso o Senado venha a confirmá-lo no posto, é provável que Bernanke se torne o mais poderoso líder econômico do mundo.
Mas, embora a condução da política em Washington possa ser o campo escolhido por Bernanke para o novo estágio de sua carreira, ninguém parece ter idéia clara quanto às suas opiniões políticas, excetuado o fato de que ele é membro registrado do Partido Republicano. Alan Greenspan assumiu posições políticas fortes, usando sua influência para apoiar a criação de contas pessoais de Seguro Social e cortes de impostos propostos por Bush. Bernanke, em contraste, não se pronunciou quanto a batatas quentes políticas como essas, nem mesmo em seu período como assessor econômico do presidente.
Agora, com sua volta ao Fed, é provável que ele mantenha o banco central afastado dos debates políticos mais amplos. "É de esperar que Bernanke preserve estritamente uma postura mais silenciosa quanto a questões que não a política monetária", disse Kevin A. Hassett, diretor de estudos de política econômica no American Enterprise Institute.
Gene M. Grossman, professor de economia em Princeton e amigo de Bernanke, conta que o colega "acreditava que trabalhar na formação de políticas públicas seria informativo e interessante". "Mas depois descobriu que gostava do trabalho e que o fazia muito bem", afirmou.
Por mais que Washington o tenha seduzido, Bernanke expressa irritação com os costumes da capital, especialmente normas de guarda-roupa. "A parte mais desagradável do meu trabalho é que tenho de usar terno", disse a colegas em discurso em janeiro. Bernanke gosta de calçar meias claras e certa vez foi alvo de piada do presidente Bush porque as usava com terno escuro.
A resposta brincalhona dele foi comprar uma dúzia de meias de sua cor predileta e distribuí-las aos participantes de sua próxima reunião na Casa Branca.
Quando professor, ele escreveu estudos sobre economia e é co-autor, com Robert H. Frank, da Universidade Cornell, de um manual de economia. No Fed, seus discursos repletos de notas tinham quase sempre um aspecto erudito. A Bernanke é atribuída a expressão "excedente de poupança", cunhada para ajudar a explicar o déficit comercial dos EUA.
Enquanto Bernanke preparava seu manual com Frank, no final dos anos 90, outro economista, N. Gregory Mankiw, professor da Universidade Harvard, publicou um livro didático de economia.
No livro, Mankiw destacava o valor do tempo e propunha uma pergunta hipotética: o astro do basquete Michael Jordan deve ou não cortar a grama em sua casa? O livro de Mankiw se tornou best-seller. De acordo com Frank, Bernanke insistiu que o livro deles propusesse a pergunta: N. Gregory Mankiw deve ou não cortar a grama em sua casa?
Frank, professor de Cornell, diz que, "quando surgiram as notícias de que ele era candidato a um posto no Fed, achei interessante que o governo Bush estivesse considerando indicar um democrata", conta Frank. "Fiquei surpreso. Trabalhei com ele e não sabia que era republicano."
Bernanke declarou em 2004 que seu patrimônio fica entre US$ 1,1 milhão e US$ 5,6 milhões, em ativos como contas de aposentadoria, fundos e títulos. Já Greenspan declarou ativos de entre US$ 4,3 milhões e US$ 9,4 milhões.


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