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Sucessor de Greenspan deve se manter mais longe da política
LOUIS UCHITELLE
EDUARDO PORTER
DO "NEW YORK TIMES"
Mesmo antes de o presidente
Bush apontar Ben S. Bernanke para a chefia do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, o economista estava decidido a
arriscar. Vendeu sua casa em Nova Jersey no ano passado e informou aos colegas que, em vez de
retornar ao posto de professor da
Universidade Princeton, estava
apostando que o presidente Bush
o elevaria da obscuridade, como
membro do conselho do Fed (Federal Reserve, o banco central dos
EUA), a uma das mais importantes posições políticas do país.
A aposta teve bons resultados.
Caso o Senado venha a confirmá-lo no posto, é provável que Bernanke se torne o mais poderoso
líder econômico do mundo.
Mas, embora a condução da política em Washington possa ser o
campo escolhido por Bernanke
para o novo estágio de sua carreira, ninguém parece ter idéia clara
quanto às suas opiniões políticas,
excetuado o fato de que ele é
membro registrado do Partido
Republicano. Alan Greenspan assumiu posições políticas fortes,
usando sua influência para apoiar
a criação de contas pessoais de Seguro Social e cortes de impostos
propostos por Bush. Bernanke,
em contraste, não se pronunciou
quanto a batatas quentes políticas
como essas, nem mesmo em seu
período como assessor econômico do presidente.
Agora, com sua volta ao Fed, é
provável que ele mantenha o banco central afastado dos debates
políticos mais amplos. "É de esperar que Bernanke preserve estritamente uma postura mais silenciosa quanto a questões que não a
política monetária", disse Kevin
A. Hassett, diretor de estudos de
política econômica no American
Enterprise Institute.
Gene M. Grossman, professor
de economia em Princeton e amigo de Bernanke, conta que o colega "acreditava que trabalhar na
formação de políticas públicas seria informativo e interessante".
"Mas depois descobriu que gostava do trabalho e que o fazia muito
bem", afirmou.
Por mais que Washington o tenha seduzido, Bernanke expressa
irritação com os costumes da capital, especialmente normas de
guarda-roupa. "A parte mais desagradável do meu trabalho é que
tenho de usar terno", disse a colegas em discurso em janeiro. Bernanke gosta de calçar meias claras
e certa vez foi alvo de piada do
presidente Bush porque as usava
com terno escuro.
A resposta brincalhona dele foi
comprar uma dúzia de meias de
sua cor predileta e distribuí-las
aos participantes de sua próxima
reunião na Casa Branca.
Quando professor, ele escreveu
estudos sobre economia e é co-autor, com Robert H. Frank, da
Universidade Cornell, de um manual de economia. No Fed, seus
discursos repletos de notas tinham quase sempre um aspecto
erudito. A Bernanke é atribuída a
expressão "excedente de poupança", cunhada para ajudar a explicar o déficit comercial dos EUA.
Enquanto Bernanke preparava
seu manual com Frank, no final
dos anos 90, outro economista, N.
Gregory Mankiw, professor da
Universidade Harvard, publicou
um livro didático de economia.
No livro, Mankiw destacava o
valor do tempo e propunha uma
pergunta hipotética: o astro do
basquete Michael Jordan deve ou
não cortar a grama em sua casa? O
livro de Mankiw se tornou best-seller. De acordo com Frank, Bernanke insistiu que o livro deles
propusesse a pergunta: N. Gregory Mankiw deve ou não cortar a
grama em sua casa?
Frank, professor de Cornell, diz
que, "quando surgiram as notícias de que ele era candidato a um
posto no Fed, achei interessante
que o governo Bush estivesse considerando indicar um democrata", conta Frank. "Fiquei surpreso. Trabalhei com ele e não sabia
que era republicano."
Bernanke declarou em 2004 que
seu patrimônio fica entre US$ 1,1
milhão e US$ 5,6 milhões, em ativos como contas de aposentadoria, fundos e títulos. Já Greenspan
declarou ativos de entre US$ 4,3
milhões e US$ 9,4 milhões.
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