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ENTENDA
Países têm formas diferentes para divulgar expansão
VINICIUS MOTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia dos Estados Unidos cresceu 2% do segundo para o terceiro trimestre deste
ano. Esse enunciado pode parecer um equívoco a quem tenha lido as notícias nesta página, que afirmam que o PIB
americano se expandiu 8,2%
no período.
Mas não há erro. Ambas as
formulações estão corretas, se
complementadas com as devidas explicações. As estatísticas
oficiais americanas sobre o PIB
utilizam taxas trimestrais
anualizadas. Já o Brasil usa a taxa trimestral simples.
Suponha o leitor que: a) um
país, hipotético, só produz automóveis; b) no segundo trimestre do ano foram fabricados nesse país 100 carros; c) no
trimestre seguinte, a produção
foi de 101 unidades. Nesse caso,
o IBGE publicaria que, de um
para outro trimestre, a economia dessa nação imaginária
cresceu 1%; já o Bureau of Economic Analysis dos Estados
Unidos registraria expansão
anualizada de 4,1%.
Anualizar uma taxa trimestral sobre o trimestre anterior
significa elevar o resultado primário à quarta potência.
O "truque" para não errar
nesses cálculos é trabalhar com
números em base 1. Soma-se 1
à taxa de crescimento apurada
(no caso 0,01, ou 1%). Depois
eleva-se essa cifra (1,01) à quarta potência (o resultado da operação é 1,041). Por fim, subtrai-se 1 para obter a taxa anualizada (0,041 ou 4,1%).
Desse modo, para "desanualizar" o resultado americano de
ontem do terceiro trimestre,
basta inverter o raciocínio, extraindo a raiz quarta dos 8,2%.
O resultado: crescimento de
2% do segundo para o terceiro
trimestre de 2003.
Isso significa que, se o IBGE
-que divulga hoje o resultado
do PIB brasileiro no terceiro
trimestre- confirmar a previsão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o
Brasil terá crescido, pela notação anualizada americana,
6,1% no período, ou 1,5% na
expressão usual brasileira.
Se a consultoria Tendências
(2,3%) ou o banco HSBC
(2,4%) acertarem, o Brasil terá
registrado no terceiro trimestre
de 2003, sobre o período imediatamente anterior, crescimento maior do que o dos EUA
(9,5% ou 10%, respectivamente, na expressão anualizada).
Nesse caso, será recomendável ponderar o que significa esse forte crescimento no contexto de cada país. No segundo trimestre, a economia brasileira
entrou em recessão (queda de
6,3% do PIB, em termos anualizados sobre o primeiro trimestre de 2003). Isso reduz a
base de comparação e favorece
uma retomada expressiva.
Já os EUA vêm de um segundo trimestre de expansão
(0,8%, ou 3,3% anualizados).
Além disso, a economia americana é cerca de 22 vezes a brasileira. Acrescentar 2% ao PIB,
em três meses, numa economia
de US$ 11 trilhões é bem mais
significativo do que obter desempenho semelhante numa
de apenas US$ 500 bilhões.
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