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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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ENTENDA

Países têm formas diferentes para divulgar expansão

VINICIUS MOTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia dos Estados Unidos cresceu 2% do segundo para o terceiro trimestre deste ano. Esse enunciado pode parecer um equívoco a quem tenha lido as notícias nesta página, que afirmam que o PIB americano se expandiu 8,2% no período.
Mas não há erro. Ambas as formulações estão corretas, se complementadas com as devidas explicações. As estatísticas oficiais americanas sobre o PIB utilizam taxas trimestrais anualizadas. Já o Brasil usa a taxa trimestral simples.
Suponha o leitor que: a) um país, hipotético, só produz automóveis; b) no segundo trimestre do ano foram fabricados nesse país 100 carros; c) no trimestre seguinte, a produção foi de 101 unidades. Nesse caso, o IBGE publicaria que, de um para outro trimestre, a economia dessa nação imaginária cresceu 1%; já o Bureau of Economic Analysis dos Estados Unidos registraria expansão anualizada de 4,1%.
Anualizar uma taxa trimestral sobre o trimestre anterior significa elevar o resultado primário à quarta potência.
O "truque" para não errar nesses cálculos é trabalhar com números em base 1. Soma-se 1 à taxa de crescimento apurada (no caso 0,01, ou 1%). Depois eleva-se essa cifra (1,01) à quarta potência (o resultado da operação é 1,041). Por fim, subtrai-se 1 para obter a taxa anualizada (0,041 ou 4,1%).
Desse modo, para "desanualizar" o resultado americano de ontem do terceiro trimestre, basta inverter o raciocínio, extraindo a raiz quarta dos 8,2%. O resultado: crescimento de 2% do segundo para o terceiro trimestre de 2003.
Isso significa que, se o IBGE -que divulga hoje o resultado do PIB brasileiro no terceiro trimestre- confirmar a previsão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o Brasil terá crescido, pela notação anualizada americana, 6,1% no período, ou 1,5% na expressão usual brasileira.
Se a consultoria Tendências (2,3%) ou o banco HSBC (2,4%) acertarem, o Brasil terá registrado no terceiro trimestre de 2003, sobre o período imediatamente anterior, crescimento maior do que o dos EUA (9,5% ou 10%, respectivamente, na expressão anualizada).
Nesse caso, será recomendável ponderar o que significa esse forte crescimento no contexto de cada país. No segundo trimestre, a economia brasileira entrou em recessão (queda de 6,3% do PIB, em termos anualizados sobre o primeiro trimestre de 2003). Isso reduz a base de comparação e favorece uma retomada expressiva.
Já os EUA vêm de um segundo trimestre de expansão (0,8%, ou 3,3% anualizados). Além disso, a economia americana é cerca de 22 vezes a brasileira. Acrescentar 2% ao PIB, em três meses, numa economia de US$ 11 trilhões é bem mais significativo do que obter desempenho semelhante numa de apenas US$ 500 bilhões.


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