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NEGOCIAÇÕES NA OMC
Rodada mundial começa nesta semana; países ricos estão de olho no mercado brasileiro de energia e de saneamento
Brasil oferece serviços em troca de abertura agrícola
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil se prepara para oferecer
seu mercado de serviços aos países ricos em troca da abertura do
comércio de produtos agrícolas.
A OMC (Organização Mundial do
Comércio) inicia nesta semana a
nova rodada mundial de negociações, cuja largada foi dada em Doha (Qatar) em novembro de 2001.
O "toma-lá-da-cá" do comércio
mundial começa tímido. O Brasil
só definiu interesse para os setores de serviços e agricultura.
Os países ricos estão de olho no
mercado brasileiro de serviços de
energia e de saneamento (água e
esgoto). O Brasil quer eliminar
barreiras para vender softwares,
automação bancária, serviços de
construção civil e postal. Nesses
setores, além de ser competitivo,
o Brasil quase não enfrenta restrições ao capital estrangeiro.
Mas o maior interesse do Brasil
é derrubar barreiras para seus
produtos agrícolas e eliminar
subsídios oferecidos pelos países
desenvolvidos à produção e exportação agrícola, que causam
distorções no mercado.
Os negociadores brasileiros
prometem só fazer concessões à
medida que conseguirem vitórias
na área agrícola. "Vamos modular nossa oferta de acordo com
aquilo que obtivermos em agricultura", disse o negociador Flávio Marega, especialista em comércio de serviços e investimentos do Itamaraty.
"Haverá muita pressão dos países desenvolvidos para explorar
os serviços de energia e de saneamento", disse. O problema é que
os marcos regulatórios (conjunto
de leis) desses setores não estão
prontos. E o governo terá de negociar regras internacionais ao
mesmo tempo em que define as
normas internas. Não está definido, por exemplo, se os serviços de
saneamento são da competência
de Estados ou de municípios.
O Brasil já teve esse problema
na Rodada do Uruguai, a última
série de negociações mundiais de
comércio que terminou no final
de 1996. Na época, havia discussões sobre os serviços de telefonia
e o país estava em pleno processo
de privatização desse setor.
O lobby dos países desenvolvidos foi forte. Bastou o governo estipular que uma empresa estatal
não poderia ser vendida à outra
estatal para a União Européia reclamar com as autoridades brasileiras, contam negociadores.
Como as grandes empresas de
telefonia européias são estatais, a
UE acusou o Brasil de tentar dirigir investimentos e privilegiar as
empresas americanas. A reclamação funcionou, e hoje a espanhola
Telefónica é a empresa do setor
com o maior estoque de investimentos no Brasil, US$ 27 bilhões.
A opção pela tecnologia européia para a banda C do serviço de
telefonia celular foi feita sem negociar contrapartida. Na avaliação do secretário-executivo da
Camex (Câmara de Comércio Exterior), Roberto Giannetti da Fonseca, o país deveria ter pedido
vantagens comerciais.
Naquela época, a vulnerabilidade externa do país pedia pressa
para atrair investimentos. O balanço de pagamentos (gastos e receitas em dólares) atingiu seus
maiores déficits (US$ 33 bilhões
em 1998), e a economia foi atropela pelas crises russa e asiática.
Desta vez, o governo promete
não oferecer abertura de mercado
sem barganha. O governo vê a rodada como uma oportunidade de
melhorar a conta de serviços. Em
2001, o déficit foi de US$ 7,7 bilhões. "Em 2001 vendemos US$
40 milhões em produtos audiovisuais e importamos US$ 700 milhões, por exemplo. Há mercados
que têm barreiras", disse Marega.
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