São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2002

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MERCADOS E SERVIÇOS

Com câmbio e inflação sob controle, papel pode ter maior aceitação e melhorar perfil da dívida

Prefixados devem voltar com estabilidade

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo tenta, há pelo menos quatro anos, ampliar a parcela dos títulos prefixados na dívida pública, sem sucesso.
A participação desse papéis já atingiu 61%, em 1996. No ano seguinte foi a 40,9% e despencou para 3,5% em 1998, como um reflexo das crises na Ásia, no final de 97, e na Rússia, em 89. Desde então, jamais superou os 16% e chegou a 1,2% em março de 1999, com a desvalorização do real.
A vantagem em ter uma maior parte de papéis desse tipo é que eles possibilitam maior facilidade de administração do débito.
A despeito de turbulências internas ou externas, o governo saberá quais os valores e prazos de pagamentos. A correção do título prefixado é definida no momento da venda e não está vinculada ao comportamento futuro dos juros, de um indicador de inflação ou do câmbio, como em outros papéis.
Em dezembro de 2001, a participação de prefixados na dívida ficou em 7,82%. Foi a menor desde maio de 1999 e praticamente a metade da de dezembro de 2000.
No ano passado, o Tesouro Nacional vinha conseguindo aumentar, levemente, a participação dos prefixados. Mas essa tendência foi invertida, após as contínuas elevações de juros no Brasil, de março a julho. O temor era com a economia dos EUA e com a deterioração argentina. Em momentos de incerteza, o investidor prefere papéis atrelados aos juros ou ao câmbio. Falta a confiança na estabilidade da economia e os investidores esperam elevar seus ganhos apostando numa escalada dos juros ou do dólar. A demanda por prefixados fica reduzida ou o mercado exige um prêmio muito alto para comprá-los, o que encarece a operação para o governo.
Neste ano, o cenário deverá melhorar. A expectativa é que os juros, hoje em 19% ao ano, comecem a cair neste trimestre, com a tendência declinante da inflação e com o comportamento tranquilo do mercado cambial.
Aliado a um cenário econômico e político calmo, analistas acreditam que a aceitação de prefixados pelo mercado será maior.
"A volta dos prefixados já poderia ter ocorrido em 2001, não fossem os atentados aos EUA", diz Emanuel Pereira da Silva, sócio e diretor-executivo da GAP Asset Management. "Neste ano, se não houver uma nova crise, até o momento improvável, a tendência é que a aceitação cresça."
Para Marcelo Cypriano, economista do BankBoston, os prefixados voltarão com força ao mercado, mas não haverá mudança sensível em sua participação no perfil da dívida. "Há grande quantidade de vencimentos de prefixados no primeiro semestre."



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