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OPINIÃO ECONÔMICA
Os objetivos de um Banco Central
LUZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
A ata da reunião do Copom
do mês de fevereiro não deixa dúvida de que o Banco Central
do governo do PT está alinhado
com o pensamento mais conservador em relação à função de um
Banco Central. Liberado que foi
pelo ministro Palocci de sua atribuição de zelar pelo crescimento
da economia, a diretoria do BC
faz questão de afirmar que sua
função está restrita apenas à busca da meta inflacionária fixada
para este e o próximo ano.
Essa definição restrita das funções de nossa autoridade monetária foi verbalizada pelo czar da
economia brasileira durante os
dias críticos que antecederam o
Carnaval. A imprensa e o governo
deram pouca importância para
suas afirmações, apesar de elas terem uma gravidade oceânica para todos nós.
Vivemos hoje, no mundo, intenso debate sobre as verdadeiras responsabilidades de um Banco Central. A realidade de um ambiente
institucional em transformação,
com um novo paradigma tecnológico que está modificando, de maneira revolucionária, a dinâmica
das economias de mercado, está
colocando em xeque conceitos
tradicionais. Especialistas e políticos refletem sobre essas mudanças
e procuram definições de um novo
paradigma que se adapte a esses
novos tempos.
Uma das questões mais discutidas é a eficiência de um sistema
de metas de inflação rígido, como
o que temos hoje no Brasil. Alguns
questionam sua própria funcionalidade -sejam as metas rígidas ou flexíveis- em uma economia globalizada e com grande
abertura comercial e financeira.
Isolar uma economia nacional
dos problemas conjunturais que
ocorrem no mundo exterior é praticamente impossível sem que um
custo econômico elevado e sem
sentido aconteça.
Por isso, para alguns dos mais
importantes pensadores, a autoridade monetária precisa ter elevado grau de discricionariedade para lidar com essas situações e deve
levar sempre em consideração os
custos em termos de produção e
emprego para a sociedade. Em
outras palavras, sua missão deve
ser a de favorecer com suas ações
o crescimento econômico dentro
de um quadro de estabilidade de
preços.
Outros defendem uma flexibilização das regras associadas ao
sistema de metas monetárias para
reduzir os custos da política monetária em momentos em que
choques externos afetem o sistema de preços de uma economia.
Esse é o caso do Banco da Inglaterra, que trabalha hoje com um
sistema de metas válidas para um
período de dois anos à frente. Não
existe compromisso com o calendário gregoriano e o futuro vale
mais do que o passado para definir suas ações.
Infelizmente entre nós essas discussões estão longe da opinião pública. Vivemos, já há alguns anos,
uma espécie de "zeitgeist", com
um certo oficialismo tomando
conta do debate sobre a condução
da política monetária. Qualquer
tentativa de fugir de uma ortodoxia ultrapassada é imediatamente catalogada como uma volta ao
passado inflacionário. Mas vou
enfrentar esse perigo, como já enfrentei várias vezes no passado, e
procurar questionar essa questão
da unicidade de objetivos da política monetária de nosso BC.
Como já escrevi nesta coluna,
nosso sistema de metas foi criado
em um momento de crise extrema. Sua rigidez está associada às
incertezas que vivíamos e à improvisação com que ela foi implantada. Em 2000, com o sucesso
da estabilização da taxa de câmbio, perdemos a oportunidade de
definir regras menos draconianas
para a condução da política monetária.
A crise de confiança de 2002 e o
fato de o governo do PT ser visto
como um cristão novo na condução de uma política econômica
ortodoxa não permitiram ao governo Lula tornar mais racional o
sistema de metas de inflação em
seu primeiro ano de governo. E
tudo continuou igual mais uma
vez!
Agora, no meio da crise política
que está vivendo, ele decide radicalizar seu compromisso com o
sistema de metas herdado dos
anos FHC para enfrentar as turbulências do mercado. O resultado dessa opção política será a manutenção dessas regras por todo o
mandato do presidente. Com isso,
as possibilidades de termos um
período de alto crescimento econômico nos próximos anos ficam
muito reduzidas. A levar a sério
as informações contidas na ata
recém-publicada, devemos considerar a hipótese de manutenção
das atuais taxas de juros por um
período de mais alguns meses e a
redução da velocidade de recuperação da economia.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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