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LUÍS NASSIF
A conversão tardia
Nesta semana, economistas de diversas linhas saudaram o avanço do Banco Central. A brilhante vanguarda de
sargentos do exército do dr. Meirelles escreveu a ata do Copom
(Comitê de Política Monetária)
aceitando o óbvio: contra choques de oferta -como elevação
do câmbio, de preços de commodities, altas sazonais de alimentos- e contra preços administrados -como tarifas e impostos-, a política monetária tem
efeito mínimo.
O organismo econômico e social brasileiro parece um doente
grave, com irrupções por todo o
corpo. Escândalos pontuais viram crises desestabilizadoras,
greves pipocam por todos os lados, a vontade de acreditar dos
empresários virou fumaça, o desalento toma conta de todos os
setores, a base de apoio do governo se esfacela.
O início dessa virada foi uma
ata do Copom, na qual o pensamento de planilha matou o pequeno renascimento da esperança ao decretar que, mesmo
contra todas as evidências, a inflação era um lobisomem ainda
a ser exorcizado. O mundo veio
abaixo porque se constatou que
a autoridade incumbida de administrar as expectativas não
era dotada de racionalidade
econômica.
Não apenas os críticos como
até os economistas de mercado
enxergavam mero aumento sazonal no que o BC tratava como
recomeço de surto inflacionário.
Passada a fase sazonal, os índices começam a cair, como era
previsível.
As expectativas positivas foram destruídas, criou-se ameaça concreta de governabilidade,
e agora surge a nova ata do Copom reconhecendo que as altas
eram sazonais ou fruto de choques de oferta e que eventos dessa natureza não podem condicionar decisões de política monetária. E ficamos todos saudando a conversão do Banco
Central ao bom senso, sem atentar para o custo que sua atitude
anterior gerou.
A sucessão de erros do Banco
Central vem se acumulando desde o ano passado, da incapacidade de perceber as inflexões da
economia -em maio do ano
passado não conseguiram perceber a economia derretendo- à
incapacidade de articular expectativas. À irresponsabilidade
da ata anterior do Copom se seguiu a decisão de reduzir os juros em 0,25 ponto percentual,
desnorteando todos os que passaram a acreditar nessa ata como se fosse um dos segredos de
Fátima.
Agora fica o país inteiro, faminto por governabilidade, tentando tirar pontos positivos nesse reconhecimento tardio do erro. Para conseguir que o Banco
Central começasse a recompor
reservas, foi um parto, que custou imenso desgaste.
O troco do Banco Central foi a
ata irresponsável, uma chantagem para balançar as expectativas e alertar o governo de que
tem o controle do jogo. Foi necessário um incêndio de proporções grandiosas para uma autocrítica.
No ano passado, havia um
quadro político e econômico, interna e externamente, favorável.
Agora, está começando o jogo
pesado. Uma operação que exige
um cirurgião está nas mãos de
residentes. Quando terminarem
de se formar no Banco Central,
terão que praticar o conhecimento adquirido em outras plagas. Por aqui, não vai ficar pedra
sobre pedra.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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