São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Distribuidoras querem renegociar preço

Setor cobra da Petrobras redução no valor do gás no longo prazo, e não só descontos pontuais em leilões da sobra do produto

Como hidrelétricas operam hoje com folga e não existe necessidade de acionar usinas térmicas, sobram 22 milhões de metros cúbicos/dia de gás


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Disposta a colocar no mercado a sobra de gás não utilizado pelas termelétricas, a Petrobras abriu uma ofensiva contra as distribuidoras para baixarem o preço do produto, repassarem integralmente o desconto dos leilões de oferta desse excedente e buscarem novos clientes para o combustível.
As distribuidoras -com apoio de grande parte da indústria consumidora do insumo- querem da estatal preços mais baixos no longo prazo, nos volumes já acertados em contrato, e não só descontos pontuais nos leilões em curso para a venda das sobras das térmicas.
Hoje, há um excedente de 22 milhões de metros cúbicos/dia gerado especialmente porque os reservatórios das hidrelétricas estão cheios. Não há, portanto, necessidade de acionar as usinas a gás. Tal volume corresponde a cerca de 60% do consumo industrial.
O objetivo da estatal é vender no curto prazo (até seis meses à frente) o gás não utilizado pelas térmicas a um custo menor e conseguir transformar em dinheiro as reservas que não estão sendo exploradas por falta de demanda. A estatal rejeita, porém, reduzir os preços do contrato de longo prazo para os volumes já contratados.
Um dos motivos é que a companhia tem de arcar com investimentos em campos de gás, gasodutos e terminais de importação de GNL (gás natural liquefeito) ainda não totalmente amortizados de R$ 43 bilhões, realizados entre 2007 e 2010.
A queixa da indústria é que, mesmo com a sobra, o combustível custa o dobro no Brasil do que nos EUA, referência global.
O volume adicional sem uso pelas térmicas é oferecido às distribuidoras em leilões. Na média, o preço tem sido de 35% a 40% inferior ao custo fixado nos contratos entre Petrobras e distribuidoras, mas só vale para o volume excedente de gás comprado pelas empresas.
O que as distribuidoras e as indústrias querem é uma nova política de preços, revisão dos contratos atuais e, primeiro, um desconto para um percentual do volume já contratado -ou seja, na base, e não só no que comprarem a mais. Em fevereiro, a estatal cedeu e aceitou dar desconto num percentual do contrato correspondente ao volume comprado adicionalmente, acima do já acertado.
A Petrobras refuta reduzir o preço contratual e diz que falta às distribuidoras cultura de "vender no varejo" e de "buscar o cliente", segundo a diretora de Gás e Energia da estatal, Graça Foster. Para ela, essa "acomodação" é uma das mazelas do mercado cativo -pelo modelo, só uma distribuidora atua em cada área. Graça diz que "a lógica do leilão é puxar o preço para baixo e repassar integralmente o benefício ao consumidor", mas reconhece que nem sempre isso ocorre.
Em média, a estatal tem conseguido vender apenas de 3 milhões a 5 milhões de metros cúbico/dia em seus leilões.
Armando Laudório, presidente da Abegás (distribuidoras), nega que falte interesse das distribuidoras na venda do adicional de gás, mas diz que não há mercado para tanto. A única forma de estimular o consumo, afirma, é a Petrobras conceder um desconto num percentual do volume contratado, o que a estatal rejeita.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Setor industrial também exige desconto no produto já contratado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.