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Distribuidoras querem renegociar preço
Setor cobra da Petrobras redução no valor do gás no longo prazo, e não só descontos pontuais em leilões da sobra do produto
Como hidrelétricas operam hoje com folga e não existe necessidade de acionar usinas térmicas, sobram 22 milhões de metros cúbicos/dia de gás
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Disposta a colocar no mercado a sobra de gás não utilizado
pelas termelétricas, a Petrobras abriu uma ofensiva contra
as distribuidoras para baixarem o preço do produto, repassarem integralmente o desconto dos leilões de oferta desse excedente e buscarem novos
clientes para o combustível.
As distribuidoras -com
apoio de grande parte da indústria consumidora do insumo-
querem da estatal preços mais
baixos no longo prazo, nos volumes já acertados em contrato, e não só descontos pontuais
nos leilões em curso para a venda das sobras das térmicas.
Hoje, há um excedente de 22
milhões de metros cúbicos/dia
gerado especialmente porque
os reservatórios das hidrelétricas estão cheios. Não há, portanto, necessidade de acionar
as usinas a gás. Tal volume corresponde a cerca de 60% do
consumo industrial.
O objetivo da estatal é vender
no curto prazo (até seis meses à
frente) o gás não utilizado pelas
térmicas a um custo menor e
conseguir transformar em dinheiro as reservas que não estão sendo exploradas por falta
de demanda. A estatal rejeita,
porém, reduzir os preços do
contrato de longo prazo para os
volumes já contratados.
Um dos motivos é que a companhia tem de arcar com investimentos em campos de gás, gasodutos e terminais de importação de GNL (gás natural liquefeito) ainda não totalmente
amortizados de R$ 43 bilhões,
realizados entre 2007 e 2010.
A queixa da indústria é que,
mesmo com a sobra, o combustível custa o dobro no Brasil do
que nos EUA, referência global.
O volume adicional sem uso
pelas térmicas é oferecido às
distribuidoras em leilões. Na
média, o preço tem sido de 35%
a 40% inferior ao custo fixado
nos contratos entre Petrobras e
distribuidoras, mas só vale para
o volume excedente de gás
comprado pelas empresas.
O que as distribuidoras e as
indústrias querem é uma nova
política de preços, revisão dos
contratos atuais e, primeiro,
um desconto para um percentual do volume já contratado
-ou seja, na base, e não só no
que comprarem a mais. Em fevereiro, a estatal cedeu e aceitou dar desconto num percentual do contrato correspondente ao volume comprado adicionalmente, acima do já acertado.
A Petrobras refuta reduzir o
preço contratual e diz que falta
às distribuidoras cultura de
"vender no varejo" e de "buscar
o cliente", segundo a diretora
de Gás e Energia da estatal,
Graça Foster. Para ela, essa
"acomodação" é uma das mazelas do mercado cativo -pelo
modelo, só uma distribuidora
atua em cada área. Graça diz
que "a lógica do leilão é puxar o
preço para baixo e repassar integralmente o benefício ao consumidor", mas reconhece que
nem sempre isso ocorre.
Em média, a estatal tem conseguido vender apenas de 3 milhões a 5 milhões de metros cúbico/dia em seus leilões.
Armando Laudório, presidente da Abegás (distribuidoras), nega que falte interesse
das distribuidoras na venda do
adicional de gás, mas diz que
não há mercado para tanto. A
única forma de estimular o
consumo, afirma, é a Petrobras
conceder um desconto num
percentual do volume contratado, o que a estatal rejeita.
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