São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

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ROBERTO RODRIGUES

Adidos agrícolas, até que enfim!


É um velho projeto dos produtores rurais que, enfim, vira realidade; o objetivo é reduzir entraves ao comércio

DEPOIS DE mais de 20 anos de negociação, os produtores rurais brasileiros estão vendo um velho projeto virar realidade: o governo criou a figura do adido agrícola. Outros países já têm esses funcionários há décadas, inclusive servindo a suas respectivas embaixadas aqui no Brasil, como Estados Unidos, Holanda e Argentina.
Teremos oito adidos agrícolas, que trabalharão em embaixadas brasileiras no exterior selecionadas por sua importância comercial atual e potencial no agronegócio: Buenos Aires, Washington (na América), Genebra, Bruxelas e Rússia (na Europa), Pretória (na África) e Pequim e Tóquio (na Ásia).
Para que um adido agrícola, se nas embaixadas existem vários profissionais capazes, sendo o Itamaraty um dos organismos governamentais com gente da melhor qualidade, famoso mundialmente pela competência dos seus quadros? É que os termos ligados ao mercado agropecuário são muito específicos e demandam formação especializada, que não faz parte da diplomacia.
Muitos mercados estão fechados ao Brasil por desinformação. É bem verdade que esse "desconhecimento" às vezes é pura esperteza: determinado setor onde somos muito competitivos em qualquer país cria barreiras a nossas exportações alegando desinformação quando, na verdade, sabe perfeitamente das qualidades do nosso produto. Um caso típico é o da carne bovina. Países que são grandes consumidores, como EUA, Japão e Coreia, não importam nossa carne por causa dos focos de aftosa surgidos em 2005 em Mato Grosso do Sul e no Paraná.
Existem regras da OIE (Organização Internacional de Epizootias), estabelecendo que um país do tamanho do Brasil pode ter áreas livres de aftosa com vacinação, capazes de exportar carne em perfeitas condições para qualquer lugar do planeta. No entanto, aqueles potenciais compradores insistem em não importar nossa carne como se fôssemos um pequeno país com todas as regiões homogêneas.
O adido agrícola estará cuidando todo o tempo desses temas, em diálogo direto com as autoridades locais de cada país, esclarecendo até questões de rotina, objetivando reduzir entraves ao comércio.
A abertura de mercados fechados por questões sanitárias demanda presença, insistência e, sobretudo, competência. E isso é o que não falta aos adidos selecionados pelo Ministério da Agricultura e Itamaraty.
O processo de seleção foi rigoroso, e aberto para oficiais do Mapa e suas vinculadas. A primeira etapa do processo selecionou os melhores currículos, valorizando as carreiras voltadas ao agro, formação acadêmica específica e experiência profissional, principalmente em negociações internacionais e cargos relevantes anteriormente ocupados. Na segunda etapa, houve prova de português e proficiência oral e escrita nas línguas estrangeiras necessárias para cada país. Houve ainda uma fase de avaliação comportamental e uma etapa final de entrevistas. Os primeiros colocados no processo seletivo para cada um dos postos foram então submetidos ao treinamento elaborado pelo Mapa e MRE (Instituto Rio Branco).
A rede de informações a ser estabelecida pelos adidos agrícolas e a experiência acumulada nessa atividade será difundida para o corpo técnico do Mapa e aos diversos setores de agronegócio, com o intuito de gerar melhores condições para que o Brasil ocupe a posição internacional que merece como fornecedor sustentável e seguro de produtos agropecuários.


ROBERTO RODRIGUES, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
rr.ceres@uol.com.br


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