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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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CONTÁGIO

Perda pode chegar a US$ 500 milhões se paralisia se prolongar, diz Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China

Sars já afeta negócios entre Brasil e China

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Os negócios do Brasil com a China já começaram a sofrer os efeitos da pneumonia asiática, também conhecida como Sars (sigla em inglês para síndrome respiratória aguda grave). Nos últimos dias, várias exportações e algumas missões empresariais foram adiadas diante da proliferação da Sars.
"Os negócios com a China já estão sendo afetados", diz Pedro Bordon, diretor da Bordon e membro da diretoria da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. Ele está à frente das negociações do Brasil para a venda de carne para a China.
Na semana passada, Bordon recebeu a informação de seus clientes na China de que as negociações para a compra de carne brasileira estariam postergadas.
O Brasil estava há 18 anos sem vender carne para a China. O primeiro embarque de carne, depois de todo esse tempo, ocorreu em março, de cerca de 400 toneladas. "Acho que todos os outros setores devem estar enfrentando essas mesmas dificuldades", disse.
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, também adiou, na semana passada, a ida de uma missão empresarial à China prevista para junho para negociar diversos contratos na área do agronegócio. A missão, cuja previsão era contar com cerca de cem empresários brasileiros, iria coincidir com a Expo 2003, em Pequim, também adiada.
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, diz que, se a paralisia da economia chinesa provocada pela Sars persistir por muito tempo, o Brasil deverá sofrer uma perda de US$ 500 milhões no saldo da balança comercial com a China.
Segundo ele, a previsão era que o Brasil atingisse neste ano um saldo comercial de US$ 1,5 bilhão com a China. Pelos cálculos de Tang, se a duração da Sars for longa, o saldo deverá despencar para US$ 1 bilhão.
A China é o parceiro comercial para onde mais crescem as exportações brasileiras. Nos primeiros três meses deste ano, as vendas brasileiras para esse país somaram US$ 731 milhões, um crescimento de 149,5% em relação ao mesmo período de 2002.
Em 1999, o comércio entre os dois países (exportações mais importações) somava US$ 1,5 bilhão. No ano seguinte, atingiu US$ 2,3 bilhões. Em 2001, saltou para US$ 3,2 bilhões. No ano passado, a soma subiu para US$ 4,1 bilhões. A estimativa era que, neste ano, o comércio atingisse o valor de US$ 5,5 bilhões.
A Embraer também já começou a sentir os efeitos da Sars. Há poucos dias, um cliente da Índia da Embraer, a Jet Airways, adiou por um ano (de 2004 para 2005) a entrega da encomenda de dez jatos da família Embraer 170.
A Embraer diz que não tem como afirmar até que ponto a Sars teria influenciado nessa decisão, mas admite que o efeito Sars impacta o mercado como um todo, incluindo a redução no movimento das companhias aéreas.
De acordo com a Embraer, a empresa não estava neste momento com uma programação de exportações para a China. Como o acordo comercial com o cliente da Índia estava em fase de negociação para a assinatura do contrato final, o adiamento da encomenda não altera a carteira de pedidos da empresa.
O empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do grupo Votorantim, afirma que não é só o Brasil que irá sofrer com a paralisação econômica da China. "Será um desastre para o mundo inteiro", disse.
O próprio Ermírio de Moraes diz que terá de adiar alguns planos com a paralisia econômica da China. A CBA (Companhia Brasileira de Alumínios) pretendia neste ano vender alumínio na China, até para compensar a redução no valor das vendas com a queda recente do dólar. Os planos foram adiados.
A BrasilConnects, do Banco Santos, que trouxe para o Brasil a exposição "China: Os Guerreiros do Xi'An e os Tesouros da Cidade Proibida", em exposição em São Paulo, também tinha organizado painel sobre a economia brasileira durante o Fórum Econômico Mundial, que se realizaria nos dias 14 e 15 deste mês, em Pequim. O Fórum foi adiado.
O empresário Carlos Augusto Maimberg, diretor da Câmara do Comércio e Indústria Brasil-China, estava negociando cerca de dez contratos para a exportação de produtos de genética bovina para a China. As conversas foram postergadas.
O diretor da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, não tem dúvidas de que a pneumonia asiática irá trazer consequências negativas para o comércio com o Brasil e a China. Só os congressos e seminários que estão sendo adiados já vão provocar prejuízos ao país. "Alguns produtos não se vendem por e-mail", diz Castro.


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