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CONCORRÊNCIA
Lei Antitruste pode dificultar criação de conglomerados fortes
Tápias teme que Cade torne grupos nacionais inviáveis
ANDRÉ SOLIANI
ISABEL VERSIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério do Desenvolvimento quer que o novo presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) esteja afinado com a estratégia de
incentivar a criação de fortes grupos nacionais em alguns setores e,
com isso, garantir que eles tenham condições de competir em
uma economia aberta.
A preocupação mais imediata
do ministério é com os julgamentos das fusões que devem ocorrer
no setor de aviação civil.
Segundo a Folha apurou, o temor é que uma análise das operações restrita aos mandamentos da
Lei Antitruste (nº 8.884) leve à desaprovação dos processos.
A associação recente entre a
TAM e a Transbrasil para a operação conjunta de algumas linhas
resultou, por exemplo, no aumento dos preços das passagens
no trecho Rio-São Paulo.
O Cade julga, em última análise,
os prejuízos que as fusões podem
trazer para os consumidores. Essa
visão poderia, no limite, impedir
o plano de reestruturação do setor
aéreo que o Ministério do Desenvolvimento gostaria de ver levado
a cabo.
Para evitar esse tipo de visão, o
ministro Alcides Tápias quer interferir no processo de indicação
do novo presidente do órgão. O
cargo está vago desde 13 de maio,
quando terminou o mandato do
ex-presidente Gesner Oliveira.
O ministério de Tápias gostaria
que, no Cade, as análises levassem
em conta a estratégia de desenvolvimento industrial do país. Com
isso, seria permitida a criação de
monopólios e oligopólios em determinados setores para criar empresas que pudessem sobreviver
em um mundo globalizado.
Recentemente, provocado pelo
próprio Cade, Tápias influiu na
decisão sobre a fusão entre a
Brahma e a Antarctica, que resultou na criação da AmBev.
Na ocasião, o ministério defendeu a abertamente a fusão, argumentando que seria importante
para o país ter uma empresa forte
no setor de bebidas, com potencial exportador.
No caso da aviação civil, as razões para apoiar eventuais fusões
entre as quatro grandes -Varig,
Vasp, TAM e Transbrasil- se explicam pela preocupação com a
sobrevivência do setor.
Em meio a uma crise financeira,
um dos principais problemas dessas empresas é o excesso de oferta
de passagens aéreas, que seria minimizado por uma união.
O Desenvolvimento também
tem preocupações com o setor
petroquímico. Tápias não quer
ver as refinarias privadas nas
mãos de estrangeiros e, para isso,
quer estimular as fusões entre os
grupos nacionais.
Conselheiros do Cade afirmaram, em reserva, que em todos os
julgamentos importantes o órgão
já procura levar em consideração
os interesses nacionais. Eles entendem, no entanto, que não caberia ao Ministério do Desenvolvimento determinar os parâmetros que devem ser seguidos pelo
conselho.
Membros do Cade e técnicos do
Ministério da Fazenda afirmaram
que, apesar de uma análise ""superficial" indicar que há excesso
de oferta no setor aéreo, não é
possível dizer, sem uma apuração
mais rigorosa, se as fusões devem,
necessariamente, ser aprovadas.
O principal obstáculo à competição no setor aviação hoje, na
opinião da Secretaria de Acompanhamento Econômico, que faz a
análise das fusões antes de o processo seguir para o Cade, é a forte
regulamentação da área.
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