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BC "adiou" medida para empresa vender moeda
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde o fim de março, quando o
real começou a se valorizar mais
fortemente, o Banco Central já
poderia estar renovando parcelas
bem menores da dívida pública
cambial. Não o fez por dois motivos principais: queria forçar os
exportadores a vender dólares no
mercado e tinha a esperança de
que a apreciação do real ajudaria
a inflação a se aproximar da meta
de 8,5% para este ano.
A primeira razão foi confirmada, recentemente, pelo próprio
diretor demissionário de Política
Econômica do BC, Ilan Goldfajn,
a interlocutores do mercado financeiro com quem se reuniu.
A Folha apurou que Goldfajn
disse, inclusive na semana passada, que a autoridade monetária
não estava satisfeita com o comportamento dos exportadores
que vinham deixando de ofertar
dólares no mercado na esperança
de que o BC interviesse para que o
real voltasse a se depreciar.
É normal que, ao fechar contratos de venda para o exterior, os
exportadores ofertem, no mercado futuro, via bancos, boa parte
dos dólares que receberão. Fecham esses contratos futuros a
uma determinada cotação.
Com isso, cumprem um papel
importante no mercado que é o
de ofertar hedge (proteção cambial) para o setor privado. Quando deixam de fazer isso -como
agora, porque esperavam cotações maiores do dólar-, todo o
ônus de oferecer essa proteção recai sobre o BC.
Assim, se a autoridade monetária tivesse começado a deixar de
rolar parcelas maiores da dívida
cambial, quando o real começou a
se valorizar, essa tendência de
apreciação teria se invertido. Isso
daria aos exportadores a oportunidade que queriam de poder voltar a vender dólares no mercado
futuro, mas a cotações mais altas.
Como isso não ocorreu lá atrás,
os exportadores deixaram de fechar contratos futuros de venda
da moeda norte-americana a, por
exemplo, aproximadamente R$
3,40 em março passado.
Embora a expectativa do mercado seja a de que o real volte a se
desvalorizar agora que o BC começará a rolar parcelas menores
da dívida cambial, há dúvidas de
que o dólar volte aos patamares
de R$ 3,40 a R$ 3,50.
Mesmo que isso ocorra, terá ficado a lição para os exportadores
de que o BC não pretende interferir no mercado para beneficiá-los.
E mais do que isso: o BC espera
que eles voltem a cumprir sua
função de ajudar no equilíbrio do
mercado ao oferecer hedge.
Segundo analistas, outro motivo que vinha levando a autoridade monetária a continuar renovando mais de 90% da dívida, era
a expectativa de que, enquanto estivesse em queda, o dólar contribuiria para o recuo da inflação.
Mas a pressão crescente de
agências de classificação de risco e
até do FMI (Fundo Monetário Internacional) para que começasse
a reduzir seu passivo cambial, hoje 30,3% do endividamento total,
teria contribuído para a medida
anunciada ontem pelo BC. O recuo dos índices de inflação também teria colaborado para isso.
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