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São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

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BC "adiou" medida para empresa vender moeda

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde o fim de março, quando o real começou a se valorizar mais fortemente, o Banco Central já poderia estar renovando parcelas bem menores da dívida pública cambial. Não o fez por dois motivos principais: queria forçar os exportadores a vender dólares no mercado e tinha a esperança de que a apreciação do real ajudaria a inflação a se aproximar da meta de 8,5% para este ano.
A primeira razão foi confirmada, recentemente, pelo próprio diretor demissionário de Política Econômica do BC, Ilan Goldfajn, a interlocutores do mercado financeiro com quem se reuniu.
A Folha apurou que Goldfajn disse, inclusive na semana passada, que a autoridade monetária não estava satisfeita com o comportamento dos exportadores que vinham deixando de ofertar dólares no mercado na esperança de que o BC interviesse para que o real voltasse a se depreciar.
É normal que, ao fechar contratos de venda para o exterior, os exportadores ofertem, no mercado futuro, via bancos, boa parte dos dólares que receberão. Fecham esses contratos futuros a uma determinada cotação.
Com isso, cumprem um papel importante no mercado que é o de ofertar hedge (proteção cambial) para o setor privado. Quando deixam de fazer isso -como agora, porque esperavam cotações maiores do dólar-, todo o ônus de oferecer essa proteção recai sobre o BC.
Assim, se a autoridade monetária tivesse começado a deixar de rolar parcelas maiores da dívida cambial, quando o real começou a se valorizar, essa tendência de apreciação teria se invertido. Isso daria aos exportadores a oportunidade que queriam de poder voltar a vender dólares no mercado futuro, mas a cotações mais altas.
Como isso não ocorreu lá atrás, os exportadores deixaram de fechar contratos futuros de venda da moeda norte-americana a, por exemplo, aproximadamente R$ 3,40 em março passado.
Embora a expectativa do mercado seja a de que o real volte a se desvalorizar agora que o BC começará a rolar parcelas menores da dívida cambial, há dúvidas de que o dólar volte aos patamares de R$ 3,40 a R$ 3,50.
Mesmo que isso ocorra, terá ficado a lição para os exportadores de que o BC não pretende interferir no mercado para beneficiá-los. E mais do que isso: o BC espera que eles voltem a cumprir sua função de ajudar no equilíbrio do mercado ao oferecer hedge.
Segundo analistas, outro motivo que vinha levando a autoridade monetária a continuar renovando mais de 90% da dívida, era a expectativa de que, enquanto estivesse em queda, o dólar contribuiria para o recuo da inflação.
Mas a pressão crescente de agências de classificação de risco e até do FMI (Fundo Monetário Internacional) para que começasse a reduzir seu passivo cambial, hoje 30,3% do endividamento total, teria contribuído para a medida anunciada ontem pelo BC. O recuo dos índices de inflação também teria colaborado para isso.


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