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São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

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Mercado já aguardava ação, mas reage mal

GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL

A mudança na política cambial do Banco Central fez o dólar subir 3,87% ontem e fechar cotado a R$ 3,03. Foi a maior alta do dólar neste ano. Antes, a maior alta em um dia havia ocorrido no dia 9 de outubro do ano passado.
A medida já era esperada e recomendada pelos economistas de bancos. Entretanto, gerou um aumento na procura por dólares. Segundo operadores, apesar de o BC dizer que a mudança tem como único objetivo melhorar o perfil da dívida do governo, e "não estabelecer metas para a taxa de câmbio", eles não acreditam que a cotação do dólar continue a cair muito a partir de agora.
Além disso, a redução dos contratos cambiais do governo geram uma diminuição da oferta de "hedge" (proteção contra oscilação do câmbio) no mercado, o que também gerou pressão na cotação. Isso mesmo após o BC dizer que vai continuar a desempenhar o papel de provedor de proteção cambial, já que "o mercado ainda não desenvolveu todo o seu potencial para que o setor privado desempenhe esse papel".
Como ontem era feriado nos EUA (Memorial Day), os operadores disseram que o volume de negócios foi reduzido, o que pode ter causado um impacto maior na cotação.
Apesar da alta, os economistas acreditam que a medida é positiva e deverá ser "absorvida" no mercado de câmbio.
"Toda primeira reação é ruim, mas o benefício é mais amplo e favorável. Em 2000 [quando o BC tomou decisão semelhante], a primeira reação também foi negativa, mas depois, com a melhora de fundamentos, o mercado tende a voltar e assimilar melhor a medida", acredita Aquiles Mosca, do ABN Amro Asset Management.
"O mercado sempre vai especular em cima de qualquer decisão do BC. E a pouca liquidez de hoje favorece esse movimento", disse Sandra Utsumi, economista-chefe do BES Investimentos.

Medida correta
Segundo analistas, com a queda do dólar era natural que o governo diminuísse o percentual de rolagem dos "swaps" cambiais.
"A redução da parcela da dívida em dólares deve ser um objetivo central da política econômica", disse Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC Investment Bank. "As condições atuais do mercado indicavam que o BC já poderia fazer isso."
Todavia, enquanto continuava rolando a dívida em "swaps" cambiais, o BC contribuía para que a remuneração dessas operações -o chamado cupom cambial, que equivale à taxa de juros em dólar- continuasse alto.
Embora já tivesse caído bastante, este ainda era superior a 6% ao ano ontem. O valor, bem superior à taxa de juros anual de 1,15% dos títulos do Tesouro norte-americano, acabava atraindo capitais especulativos para o país.
Agora, o mercado espera que o cupom cambial caia. Isso deverá contribuir para a queda do fluxo de capital de curto prazo, o que poderá valorizar o dólar.


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