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São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

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ENTENDA

Mudança vai ajudar governo a enfraquecer real

DA REPORTAGEM LOCAL

A mudança de estratégia do BC (Banco Central) na administração da dívida pública tem duas consequências principais. A primeira, que foi anunciada pelo próprio BC, é a de reduzir a proporção da dívida do governo indexada ao dólar. A segunda, indireta mas também importante, é a reversão da tendência de queda do dólar, que já incomodava pelos possíveis efeitos negativos que o real forte teria sobre as exportações.
Mais de um terço da dívida pública (34,7%) está atrelada ao dólar. Uma proporção maior do que a desejável, já que o governo não controla a cotação da moeda norte-americana, e grandes altas da taxa de câmbio se traduzem automaticamente em elevação da dívida pública.
A partir de agora, o BC não vai mais renovar toda a dívida cambial. Ou seja, o governo venderá menos títulos do que os que tem que resgatar no vencimento dos papéis. Assim, aos poucos, a proporção da dívida em dólares vai cair.
O sucesso da estratégia dependerá do apetite do mercado por dólares. Os títulos indexados à moeda dos EUA são usados pelos investidores para se proteger da oscilação do câmbio -no jargão do mercado financeiro, para fazer "hedge".
Ao invés de comprar dólares, o investidor compra um título indexado ao dólar, ou faz uma operação de troca -"swap"- que garanta que ele obterá a mesma rentabilidade que teria se comprasse dólares.
Para que o BC leve adiante a estratégia, será importante que nenhuma grande crise conjuntural -queda brusca de exportações, piora no cenário internacional, etc- altere a procura por dólares muito fortemente. Caso contrário, o BC, que provê a maior parte do "hedge" que o mercado brasileiro necessita, terá que ampliar a oferta de papéis atrelados ao dólar.
No mercado de câmbio, não serão poucos os que considerarão a mudança de estratégia uma "intervenção branca" do governo. Na prática, a medida altera a oferta de "hedge" no mercado: em algumas semanas ou meses, haverá menos títulos em dólar na praça e quem quiser se proteger terá que pagar mais caro ou comprar dólares.
Ou seja, diminuirá a oferta de hedge e, na melhor das hipóteses, a procura continuará a mesma. Foi esta percepção que fez com que o dólar subisse ontem, quando a interpretação foi que, com a medida, o governo sinaliza para um real mais fraco nos próximos meses.
Outra maneira de entender como a medida afeta a taxa de câmbio é encarar os títulos cambiais como parte da oferta de dólares na economia. Se existe procura por US$ 100 milhões de dólares e o governo anuncia que reduzirá a oferta de dólares, o preço da moeda, como o de qualquer outro produto, sobe. Ou seja, os investidores tem que desembolsar mais reais para comprar um dólar e o real se desvaloriza em relação à moeda dos EUA. (MARCELO BILLI)


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