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ENTENDA
Mudança vai ajudar governo a enfraquecer real
DA REPORTAGEM LOCAL
A mudança de estratégia do
BC (Banco Central) na administração da dívida pública tem
duas consequências principais.
A primeira, que foi anunciada
pelo próprio BC, é a de reduzir
a proporção da dívida do governo indexada ao dólar. A segunda, indireta mas também
importante, é a reversão da tendência de queda do dólar, que
já incomodava pelos possíveis
efeitos negativos que o real forte teria sobre as exportações.
Mais de um terço da dívida
pública (34,7%) está atrelada
ao dólar. Uma proporção
maior do que a desejável, já que
o governo não controla a cotação da moeda norte-americana, e grandes altas da taxa de
câmbio se traduzem automaticamente em elevação da dívida
pública.
A partir de agora, o BC não
vai mais renovar toda a dívida
cambial. Ou seja, o governo
venderá menos títulos do que
os que tem que resgatar no vencimento dos papéis. Assim, aos
poucos, a proporção da dívida
em dólares vai cair.
O sucesso da estratégia dependerá do apetite do mercado
por dólares. Os títulos indexados à moeda dos EUA são usados pelos investidores para se
proteger da oscilação do câmbio -no jargão do mercado financeiro, para fazer "hedge".
Ao invés de comprar dólares,
o investidor compra um título
indexado ao dólar, ou faz uma
operação de troca -"swap"-
que garanta que ele obterá a
mesma rentabilidade que teria
se comprasse dólares.
Para que o BC leve adiante a
estratégia, será importante que
nenhuma grande crise conjuntural -queda brusca de exportações, piora no cenário internacional, etc- altere a procura
por dólares muito fortemente.
Caso contrário, o BC, que provê a maior parte do "hedge"
que o mercado brasileiro necessita, terá que ampliar a oferta de papéis atrelados ao dólar.
No mercado de câmbio, não
serão poucos os que considerarão a mudança de estratégia
uma "intervenção branca" do
governo. Na prática, a medida
altera a oferta de "hedge" no
mercado: em algumas semanas
ou meses, haverá menos títulos
em dólar na praça e quem quiser se proteger terá que pagar
mais caro ou comprar dólares.
Ou seja, diminuirá a oferta de
hedge e, na melhor das hipóteses, a procura continuará a
mesma. Foi esta percepção que
fez com que o dólar subisse ontem, quando a interpretação foi
que, com a medida, o governo
sinaliza para um real mais fraco
nos próximos meses.
Outra maneira de entender
como a medida afeta a taxa de
câmbio é encarar os títulos
cambiais como parte da oferta
de dólares na economia. Se
existe procura por US$ 100 milhões de dólares e o governo
anuncia que reduzirá a oferta
de dólares, o preço da moeda,
como o de qualquer outro produto, sobe. Ou seja, os investidores tem que desembolsar
mais reais para comprar um
dólar e o real se desvaloriza em
relação à moeda dos EUA.
(MARCELO BILLI)
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