|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Palocci e a escola da PUC
Indagado sobre o porquê da
preferência por diretores do
BC provenientes da PUC-RJ, o
ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, respondeu com
uma pergunta: "O que vocês
têm contra a PUC do Rio?".
Autor de um pequeno clássico
sobre a escola da PUC, o analista André Araújo constatou que
a resposta do ministro demonstra um desconhecimento fatal
sobre a sua importância na formulação da ideologia subjacente a toda a política econômica
do país desde 1994.
O Brasil é pródigo de modismos anacrônicos, que perderam
o prazo de validade em seus países de origem, constata ele. A ortodoxia monetarista aplicada
pelo BC -que propõe usar a taxa de juros para combater a inflação- é ciclo esgotado. Teve
seu tempo pela coincidência da
aceitação das teses monetaristas
da Escola de Chicago, sinalizada pelo Prêmio Nobel dado a
Milton Friedman, em 1976, com
o período de Paul Volcker no Federal Reserve, de 1979 a 1987, e
com a eleição dos conservadores
na Inglaterra, em maio de 1979.
Nos Estados Unidos de hoje o
que se faz é o oposto do monetarismo. O núcleo do pensamento
monetarista construído para
combater a inflação dos anos 70
é hoje inaplicável nas economias centrais e mais ainda nas
periféricas, porque a doença a
que o remédio visava curar hoje
é outra. O ciclo inflacionário dos
anos 60 e 70 está dando lugar a
um novo ciclo deflacionário,
que começou no Japão, atingiu
a Europa e está chegando aos
Estados Unidos.
Na América Latina, diferentemente da Ásia -continua André-, duas gerações de economistas formados em universidades norte-americanas construíram um poder incontrastável
sobre os mecanismos de organização das economias locais, diz
ele. Do México à Argentina
trouxeram para casa os ensinamentos do pensamento econômico majoritário no campus
americano da década de 80,
exatamente o apogeu da escola
de Friedman.
Como acontece sempre nos
processos de aculturamento no
exterior, os retornados congelam o que aprenderam e, ao
contrário de seus colegas de lá,
não mais evoluem, não têm mecanismos de autocorreção, constata André.
Quem ganha
Os interesses financeiros que se
relacionam com a política de juros do Banco Central não são os
do capitalismo tradicional como se imagina, diz André.
O mercado de C-Bonds, de arbitragem de juros e de bônus
privados brasileiros funciona
em um circuito especulativo restrito. No caso da arbitragem,
são seis ou sete bancos brasileiros.
Nos C-Bonds, a quase totalidade das operações está em
mãos de fundos hedge, de fundos especulativos especializados
e do "private banking" com dinheiro brasileiro de "off-shores".
Nos bônus privados, 30% a
40% estão com os próprios donos das companhias emissoras e
o restante com os private bankings de brasileiros. A velhinha
do Illinois, que analistas dizem
estar preocupada com seu dinheirinho no Brasil, é ficção.
Fundos tradicionais americanos só podem aplicar em bônus
"investment grade" -categoria
não qual não se enquadra nenhum papel do Brasil, público
ou privado.
É por isso que um professor da
PUC-RJ se sujeita a dar aula por
R$ 3.000 por mês, diz André. O
que vale é sua tribuna, o espaço
na mídia. O restante vem de
consultorias rendosas ligadas ao
circuito financeiro.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: EUA vão ajudar na investigação de venda da elétrica Próximo Texto: Governo não gosta de juro alto e não pode escolher capital, afirma Palocci Índice
|