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São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

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LUÍS NASSIF

Palocci e a escola da PUC

Indagado sobre o porquê da preferência por diretores do BC provenientes da PUC-RJ, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, respondeu com uma pergunta: "O que vocês têm contra a PUC do Rio?".
Autor de um pequeno clássico sobre a escola da PUC, o analista André Araújo constatou que a resposta do ministro demonstra um desconhecimento fatal sobre a sua importância na formulação da ideologia subjacente a toda a política econômica do país desde 1994.
O Brasil é pródigo de modismos anacrônicos, que perderam o prazo de validade em seus países de origem, constata ele. A ortodoxia monetarista aplicada pelo BC -que propõe usar a taxa de juros para combater a inflação- é ciclo esgotado. Teve seu tempo pela coincidência da aceitação das teses monetaristas da Escola de Chicago, sinalizada pelo Prêmio Nobel dado a Milton Friedman, em 1976, com o período de Paul Volcker no Federal Reserve, de 1979 a 1987, e com a eleição dos conservadores na Inglaterra, em maio de 1979.
Nos Estados Unidos de hoje o que se faz é o oposto do monetarismo. O núcleo do pensamento monetarista construído para combater a inflação dos anos 70 é hoje inaplicável nas economias centrais e mais ainda nas periféricas, porque a doença a que o remédio visava curar hoje é outra. O ciclo inflacionário dos anos 60 e 70 está dando lugar a um novo ciclo deflacionário, que começou no Japão, atingiu a Europa e está chegando aos Estados Unidos.
Na América Latina, diferentemente da Ásia -continua André-, duas gerações de economistas formados em universidades norte-americanas construíram um poder incontrastável sobre os mecanismos de organização das economias locais, diz ele. Do México à Argentina trouxeram para casa os ensinamentos do pensamento econômico majoritário no campus americano da década de 80, exatamente o apogeu da escola de Friedman.
Como acontece sempre nos processos de aculturamento no exterior, os retornados congelam o que aprenderam e, ao contrário de seus colegas de lá, não mais evoluem, não têm mecanismos de autocorreção, constata André.

Quem ganha
Os interesses financeiros que se relacionam com a política de juros do Banco Central não são os do capitalismo tradicional como se imagina, diz André.
O mercado de C-Bonds, de arbitragem de juros e de bônus privados brasileiros funciona em um circuito especulativo restrito. No caso da arbitragem, são seis ou sete bancos brasileiros.
Nos C-Bonds, a quase totalidade das operações está em mãos de fundos hedge, de fundos especulativos especializados e do "private banking" com dinheiro brasileiro de "off-shores".
Nos bônus privados, 30% a 40% estão com os próprios donos das companhias emissoras e o restante com os private bankings de brasileiros. A velhinha do Illinois, que analistas dizem estar preocupada com seu dinheirinho no Brasil, é ficção. Fundos tradicionais americanos só podem aplicar em bônus "investment grade" -categoria não qual não se enquadra nenhum papel do Brasil, público ou privado.
É por isso que um professor da PUC-RJ se sujeita a dar aula por R$ 3.000 por mês, diz André. O que vale é sua tribuna, o espaço na mídia. O restante vem de consultorias rendosas ligadas ao circuito financeiro.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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