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São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

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Governo não gosta de juro alto e não pode escolher capital, afirma Palocci

DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, defendeu ontem em dois momentos distintos o rumo da política macroeconômica adotado pelo governo até o momento. Em entrevista ao programa "Bom Dia Brasil", da TV Globo, Palocci afirmou que a inflação é uma doença grave e que, apesar de estar em queda, ainda permanece alta. "Em momentos como este você tem de usar medicação forte. Ninguém no governo gosta de juros altos, mas eles são necessários", justificou.
"Não investiremos em uma bolha de crescimento que carregue uma inflação alta. Crescimento com inflação alta não distribui renda, não faz justiça e leva a economia a um impasse, no primeiro momento, e ao desastre no segundo", afirmou Palocci, em discurso ao ser homenageado com uma medalha pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
Antes do discurso do ministro, o presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, defendeu a manutenção dos juros altos. "Só a equipe econômica está aparelhada para identificar este momento [de baixar os juros]. O resto é palpite", afirmou Vieira.
Ao "Bom dia Brasil", Palocci afirmou que o BC não responde a pressões políticas, apenas à pressão da inflação para manter os juros básicos no atual patamar. "A equipe está fazendo o que tinha de ser feito. Vindo a crítica ou não, vamos persistir nessa linha porque estamos muito seguros de que o combate à inflação e a redução da dívida são fundamentais para o país crescer com sustentabilidade."
O governo recebeu duras críticas na semana passada, principalmente do setor produtivo, quando o Copom decidiu manter a taxa básica em 26,5% ao ano. Até o vice-presidente da República, José Alencar, se pronunciou contra os juros altos. Mas, na avaliação do ministro, não houve críticas nas declarações de Alencar, apenas "palavras ditas com muito sal".
Para Palocci, a economia terá um crescimento "em torno de 2%" nesse ano. E, se o governo conseguir "ordenar tanto a política macroeconômica quanto, e principalmente, as questões que condicionam o crescimento adequado, resolvendo a questão de energia elétrica, do financiamento público e privado, acredito que possamos atingir 4,5% até em um curto espaço de tempo".
Na avaliação de Palocci, a queda nos investimentos estrangeiros para o Brasil neste ano reflete um problema ligado ao contexto internacional, além de o país acabar de sair de uma grave crise.
"Todo país que sai de uma crise recebe em um primeiro momento investimentos de curto prazo. Mas é preciso fazer com que esses investimentos se estendam para de longo prazo", disse Palocci. Para o ministro, o país não deve escolher o perfil do capital estrangeiro que chega ao Brasil. Alguns economistas do próprio PT defendem a taxação do capital externo. "Não temos como escolher o capital. Temos que melhorar a saúde da nossa economia para ver cada vez mais um capital de melhor qualidade e maior prazo."

Compromissos
No evento da Firjan, Palocci disse que o Brasil não pode deixar que se repita o ocorrido no ano passado, quando, segundo ele, os credores passaram a acreditar que o país não iria cumprir seus compromissos de dívidas.
"Assim como o mais simples dos cidadãos sabe que o que faz a sua honra é o seu nome, o Brasil sabe que o que fará o seu futuro é sua estabilidade. É cumprir seus compromissos de dívidas na hora certa, nos momentos corretos."
Segundo Palocci, a política de austeridade já vem dando resultados. Graças aos esforços, afirmou, já será possível obter uma arrecadação adicional de R$ 5,7 bilhões sobre a anteriormente prevista, dos quais cerca de R$ 1,7 bilhão devem ir para investimentos.
Palocci defendeu as reformas tributária e previdenciária.


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