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Vasp estuda processar Cade para impedir fusão
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Vasp está disposta a processar
o Cade (Conselho Administrativo
de Defesa Econômica), caso a entidade aprove a fusão definitiva da
Varig e a TAM, sem impor restrições. O alerta foi feito ontem pelo
advogado da Vasp Carlos Francisco de Magalhães, para quem é
inadmissível que o governo favoreça a criação de uma nova empresa que passaria a deter quase
70% do mercado.
"Isso é quase um monopólio.
Não acredito que o Cade aprove a
fusão da maneira como está sendo divulgada. Ela fere a lei antitruste", disse Magalhães. A nova
Varig/TAM, segundo ele, teria
condições de causar sérios prejuízos aos concorrentes.
Caso a fusão ocorra, a nova empresa teria 67,5% do mercado doméstico, conforme dados de abril
do DAC (Departamento de Aviação Civil). A Vasp tem 13,4%, e a
Gol, 17,6%. O restante está disperso entre pequenas empresas. "A
Varig/TAM poderia adotar preços predatórios em relação à Vasp
ou outro concorrente porque teria um grande número de vôos."
Para o advogado, o ideal é que o
Cade aprove uma fusão temporária entre as duas empresas, que
dure cerca de quatro anos e permita à Varig e à TAM se reestruturarem. "Depois disso, com a recuperação do mercado, cada uma
voltaria a voar por conta própria."
A Vasp enviou no início de
maio um documento ao Cade em
que criticava a fusão em andamento. A Folha apurou que a Gol,
mesmo diante dos prejuízos que a
fusão pode lhe causar, só notificou o Cade de que estava acompanhando o processo. A empresa
não quis comentar o assunto.
Litígio
A preocupação da Vasp com a
fusão em andamento é muito forte. Magalhães afirmou que, se o
Cade não optar pela fusão temporária da Varig/TAM, a Vasp pretende então participar também
do processo. "Não é a opção que
preferimos, mas ela permitiria a
redução de custos das três empresas, que passariam a trabalhar em
uma joint venture."
A joint venture permitiria que
as três empresas alugassem juntas
aviões, comprassem peças e tivessem acesso a créditos mais baratos, via BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social), o que baratearia custos.
"Temos muito a tratar com o
Cade sobre a fusão. Certamente
teremos uma fase de litígio", afirmou o advogado da Vasp.
Magalhães, que é especialista
em processos antitruste, afirmou
que o auxílio do governo somente
para a Varig e a TAM não se justifica, pois todo o setor de aviação
está em crise. "Nos entendimentos com o Cade, vamos mostrar
que na Alemanha e nos Estados
Unidos existe um princípio de
isonomia quando o governo interfere em um setor."
Magalhães disse que o Cade colocou uma série de restrições a
processos de fusão de empresas
com mais de 50% no passado, como a criação da AmBev e a compra da Kolynos pela Colgate. "É o
caso de colocar restrições também na fusão Varig/TAM."
Apesar das pressões contra a fusão, a Folha apurou que a Vasp se
daria por satisfeita se o governo
pagasse os R$ 2,7 bilhões que lhe
deve, referentes ao congelamento
de preços no passado.
Rutelly Marques, assessor técnico do Cade, disse que a entidade
ainda não tem condições de afirmar se colocará ou não restrições
à fusão Varig/TAM. "Nem sabemos se ela vai ocorrer. Se as empresas decidirem pela fusão, pode
ser que coloquemos restrições,
pode ser que não. Pode ser até que
não aprovemos o negócio."
O pedido de isonomia no tratamento das empresas tem preocupado o governo. Rumores dão
conta de que ele oferecerá à Vasp,
à Gol e mesmo à Transbrasil (que
quer voltar a operar como cargueira) a opção de se fundir
-com direito a recursos do
BNDES. Mas o mercado considera improvável essa outra fusão.
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