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São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

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COMÉRCIO EXTERIOR

Amorim, porém, diz que precisa combinar com americanos

Proposta do país é negociação Mercosul/EUA, mas sem Alca

Sergio Lima/Folha Imagem
O ministro Celso Amorim dá entrevista após encontro com Lula


ANDRÉ SOLIANI
LEILA SUWWAN

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil vai propor nesta semana aos EUA negociações diretas com o Mercosul para criação de uma zona de livre comércio. O projeto, que será apresentado ao representante de Comércio norte-americano, Robert Zoellick, que desembarca hoje em Brasília, começou a ser discutido logo após o novo governo tomar posse.
"Há uma decisão de explorar essa possibilidade [a negociação direta do Mercosul com os EUA]. Mas é como a história do Garrincha: é preciso combinar com o outro lado", afirmou o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros ministros.
O encontro de ontem com o Lula serviu para fechar a posição brasileira a ser apresentada a Zoellick. "A orientação específica que o presidente deu é que os ministros devem falar com uma voz única e sem ambiguidade sobre a base geral da negociação", disse Amorim, porta-voz da reunião.
Amorim foi cauteloso em lembrar que é preciso conversar com Zoellick antes de anunciar uma negociação comercial dos EUA com o Mercosul fora do âmbito da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Em fevereiro, o secretário-adjunto de Comércio do EUA, William Lash, esteve em Brasília e deixou claro que seu país não tinha intenção de iniciar esse tipo de negociação, pois já estava envolvido com a criação da Alca, que abarcaria o Mercosul.
O próprio Brasil, pelo menos até o final do governo passado, olhava com desconfiança a possibilidade de uma negociação direta com os norte-americanos.
Hoje, o governo avalia que será mais fácil conseguir seu principal objetivo -acesso ao mercado dos EUA- se negociar a questão diretamente com os EUA, deixando os temas mais complicados, como regras e normas, para o âmbito da Alca ou da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Amorim disse que na reunião com Lula foi acordado que o "principal interesse do Brasil é uma negociação de acesso a mercado". O governo também avalia que existe dificuldade em criar consensos na Alca, o que poderia criar empecilhos para o acesso a mercado devido a outros temas, como investimentos ou compras governamentais.
Em linhas gerais o governo quer negociar em três frentes com os EUA. A primeira seria as discussões entre o Mercosul e os norte-americanos. Seria a negociação mais importante para o interesse imediato do país, pois possibilitaria uma maior abertura dos EUA para produtos brasileiros mesmo sem a conclusão das negociações da Alca.
A segunda frente seria a Alca. O ministro fez questão de enfatizar que a primeira frente não é de nenhuma maneira incompatível com o cronograma da Alca. Nesse fórum, ficariam o temas mais delicados para o Brasil, como normas e regras.
"Não queremos que o processo da Alca comprometa a possibilidade de desenvolvimento nacional antes mesmo de definir essas possibilidades", disse o ministro.


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